O dia era tão, mas tão atípico em Ilhota que nem os telefones da própria prefeitura eram atendidos por volta das 16h30min. Tocavam até o fim, até serem direcionados para o insuportável som de conexão de fax – que, para os mais ou menos jovens, é semelhante ao barulho do Windows 98 quando conectava à internet discada. Isso porque a Câmara de Vereadores da cidade, por unanimidade, votou pelo afastamento do atual prefeito Daniel Bosi (PSD) pelos próximos 180 dias e pegou muita gente de surpresa. Até mesmo o vice Lauri Armindo Adão Júnior (PSDB), que recebeu o comunicado na terça-feira à noite enquanto jogava futebol. Com uma camisa de poliéster em um tom exageradamente alaranjado de um time de bairro, short e meião, ele assinou o ato que o colocava no cargo mais importante do Executivo municipal.

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Não era algo que eu estava esperando. Como eu e o meu partido deixamos a base do governo há três meses, eu não sabia que existia esse processo contra o prefeito. Recebi com surpresa – afirma Lauri, que será o mandatário de Ilhota até o final do ano.

Bosi responde a processo por prática de crimes de responsabilidade e infração comum e, como prevê a Lei Orgânica da cidade, precisa deixar o cargo a partir do momento em que vira réu no processo, o que aconteceu no início da semana. O estopim, segundo o assessor jurídico da Câmara, Aurélio Marcos de Souza, foi a compra de tubos hidráulicos que somados no processo licitatório apontam um gasto de R$ 54 mil com produtos que nunca foram entregues.

– As denúncias contra o atual prefeito já estão se desenrolando desde 2014, com licitações fraudulentas e compras indevidas, mas só no ano passado o Ministério Público acatou o processo – explica.

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Prefeito alega

perseguição

Como não é candidato à reeleição, Daniel Bosi deixaria de qualquer forma a política no dia 31 de dezembro. Ele disse que vai recorrer da decisão e afirma que que não reconhece a resolução expedida pela Câmara. Ele alega que não existe qualquer condenação e que é vítima de perseguição política.

– Não estou atrapalhando nenhuma investigação e nenhum processo. Sempre colaborei com os vereadores e com a Justiça. A lei tem que ser aplicada num todo e não interpretada isoladamente. Estamos em um momento de eleição e querem mudar o foco. Querem manchar a nossa administração – defende Bosi.

Com o cargo em mãos até o fim do ano – a não ser que Bosi consiga reverter a decisão na Justiça – o prefeito em exercício, Lauri Júnior, pretende utilizar esse tempo para avaliar a saúde financeira de Ilhota:

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– Como eu estava afastado da prefeitura, não na teoria, mas na prática, quero trazer à tona como estão as contas para saber qual é a real situação hoje do município.

Até o final da tarde de ontem, Bosi não havia sido localizado para receber a notificação do afastamento por parte do Legislativo de Ilhota e, na prática, continuava respondendo como prefeito.