De volta a Florianópolis, após uma passagem por Brasília, o prefeito Dário Berger (PMDB) diz que tudo está tranquilo na administração municipal. Segundo ele, o único imprevisto foi o cancelamento da Fenaostra, mas que as festas do Natal, Réveillon e o Carnaval serão realizadas. Dário admite que a prefeitura enfrenta problemas de caixa, mas destaca que esta é uma condição que se repete em 70% das cidades brasileiras e que a situação é “perfeitamente contornável”. Após dois dias de tentativas, a reportagem do Diário Catarinense falou com Dário em duas oportunidades nesta quinta-feira. Confira a entrevista do prefeito:
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Primeira entrevista: às 14h30min, no Aeroporto Hercílio Luz
Diário Catarinense – Prefeito, gostaríamos de conversar sobre o cancelamento da Fenaostra, o que realmente aconteceu?
Dário Berger – Eu não vou dar nenhuma entrevista exclusiva para ti sobre a Fenaostra. O que aconteceu você já sabe, o doutor Jaime (de Souza) já falou tudo para vocês, ela foi cancelada e não há mais nada para acrescentar.
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DC – E os outros eventos da temporada, como Natal, Réveillon e Carnaval, estão confirmados ou há risco de serem cancelados também?
Dário – Estão programados e vão acontecer. O Carnaval, como o doutor Jaime já disse a vocês, dependia de um encontro ontem (quarta) com a equipe de transição para definir o repasse. Eu não falei com o doutor Jaime ontem para saber disso, mas se estiver definido o repasse, vou repassar o dinheiro hoje (quinta). O que vocês têm que entender é o seguinte: é a primeira vez que estamos fazendo uma transição com a Lei de Responsabilidade Fiscal e a Lei da Ficha Limpa. Então requer muito cuidado e muita prudência.
DC – O que muda na prestação de contas?
Dário – Muda tudo. Se eu tivesse feito um convênio com as escolas de samba como sempre foi feito, aliás como foi feito no meu governo, porque no governo passado o pagamento era feito só no ano subsequente. Quando assumi era terra arrasada, não tinha nada e tive que fazer o carnaval em uma situação emergencial. Mas hoje se você assinar um convênio para pagar R$ 400 mil e se no seu mandato paga só a metade, você fica responsável, pela legislação em vigor, sobre aquele valor que você não pagou. Então como tem transição, nada mais justo que se faça um acordo para que a festa aconteça e cada um pague uma parte. Porque o correto mesmo era ser pago todo pelo governo que vai assumir, porque o evento é em fevereiro. Mas tem muita conversa, muito lero-lero, muita confusão, sensacionalismo. Eu não preciso disso, estou em final de mandato. Estou há 20 anos fazendo a mesma coisa, não sou nenhum irresponsável e estou tratando a sucessão com muita responsabilidade. Agora tem que haver responsabilidade da parte que vai assumir também, porque ser prefeito de Florianópolis não é tarefa fácil, é enfrentar um dia a dia de muitos problemas. É matar um leão a cada manhã. Então com exceção do cancelamento da Fenaostra, está tudo dentro da normalidade.
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DC – A que tipo de dificuldades o senhor está se referindo?
Dário – O caso do Carnaval, por exemplo. O Zeca Machado (presidente da Lief) disse que a participação da prefeitura no Carnaval é da ordem de 20%, então eles estão com 80% da festa pronta, ou então estão mentindo. Eles (a Liga) desvalorizam sempre a prefeitura, e vão continuar desvalorizando na próxima administração, para colocar sempre a prefeitura em uma posição subalterna, em uma situação de falta de planejamento. Então se a prefeitura participa só com 20%, então está resolvido o Carnaval, e só redimensionar a festa e fazê-la 20% menor. Não sei para que tanta confusão. Por que não vão também no Estado, o governador também não deu nada para eles, dizem que vão pagar em dezembro, mas não vi nenhuma matéria do governador. Só vi matéria minha, dizendo que eu sumi. Quem sabe estou correndo? Eu não sou filho de pai assustado. Já passei por problemas piores na minha vida e está se fazendo uma tempestade no copo d’água. A única coisa de anormal foi o cancelamento da Fenaostra. Por que? Porque ninguém colaborou.
DC – Mas o governo diz que há problemas na prestação de contas.
Dário – O governo é um mentiroso, está mentindo. Mostra o documento. Quando o governo não quer ajudar, ele inventa alguma coisa para justificar a sua incapacidade ou sua falta de sensibilidade. A verdade é que eu não tenho conhecimento desta prestação de contas. Essa prestação de contas, não sei se existe ou se não existe. Já pedimos esse dinheiro há seis meses e eles poderiam ter respondido oficialmente que não iriam liberar enquanto não se regularizasse a prestação de contas. A prestação de contas, talvez esteja faltando alguma coisa, não sei. Mas é muito fácil o cara vir dizer isso para colocar a culpa sobre a prefeitura, quando na verdade a culpa é deles. E eu tô preocupado em fechar as minhas contas. Antes de estar preocupado com a Fenaostra, com Carnaval, com Reveillon, com Natal, estou preocupado comigo e com as minhas contas.
DC – E como estão as contas da prefeitura? Fala-se em um déficit de R$ 80 milhões.
Dário – Posso te dizer que vou entregar bem melhor do que recebi há oito anos.
DC – Qual foi sua agenda na viagem a Brasília?
Dário – Esse assunto não vou responder para vocês, acho que vocês foram muito inconsequentes quando relataram que eu sumi, que eu fui procurar emprego em Brasília. Eu quero te dizer que eu não estou atrás de emprego, tenho minha vida resolvida, antes de entrar na política eu já tinha minha vida resolvida. Sou empresário, tenho meus negócios.
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DC – Mas é comum que seus assessores não tenham informações sobre sua agenda?
Dário – É comum, depende de eu dar a agenda para eles ou não. Depende de mim. Eu é que defino a minha agenda. Mas eu posso dizer pra ti que fui a Brasília tentar resolver problemas muito importantes, que posteriormente eu irei informar a comunidade. Não fui resolver nenhum problema para mim, porque eu não vou resolver nenhum problema meu em Brasília.
Mais tarde, por volta das 17h30min, a equipe foi chamada à prefeitura, porque o prefeito daria mais detalhes sobre a Fenaostra, o Carnaval e a viagem a Brasília.
DC – Sobre a Fenaostra, o senhor gostaria de acrescentar mais alguma informação?
Dário – A festa foi cancelada, não gostaria de cancelar, porque há um preço político. Mas não tivemos alternativa, primeiro porque realmente estamos em dificuldades financeiras. Solicitamos ajuda ao governo estadual e federal e não recebemos resposta, a não ser esta cínica e cretina desculpa da prestação de contas. Ainda abri dois credenciamentos para patrocínio (para empresas privadas), mas ninguém se interessou.
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DC – E com relação ao Carnaval, houve alguma definição?
Dário – O Carnaval vai acontecer em fevereiro de 2013 e o prefeito não serei eu. A responsabilidade é da futura administração, de modo que meu único compromisso é com a responsabilidade de manter acesa esta tradição. Fizemos uma proposta para a equipe de transição para que a gente pagasse metade e eles a outra metade no ano que vem. Mas eles não quiseram dar o ‘de acordo’. Então decidimos repetir o mesmo valor pago às escolas no ano passado. Mas vou fazer um convênio prevendo o pagamento de duas parcelas: de novembro e dezembro. As escolas do grupo especial vão receber duas parcelas de R$ 110 mil, as escolas do grupo B duas parcelas de R$ 62,5 mil e as grandes sociedades duas parcelas de R$ 30 mil. Se tudo estiver certo, fazemos o pagamento amanhã (hoje). O restante, a próxima administração decide como fazer.
DC – Qual a previsão para o Natal e Réveillon?
Dário – O Natal será bem semelhante ao ano passado, exceto pela Parada dos Sonhos, que não conseguimos patrocínio. Será cerca de R$ 1,8 milhão com iluminação e decoração de espaços públicos. O Réveillon também será bem parecido com o ano passado. Vamos fazer só com bandas locais e com o número parecido de balsas e fogos. A estimativa é que a geste gaste por volta de R$ 1 milhão. O que posso dizer é que estamos fazendo um esforço enorme para não ficar com essa mancha de não ter encaminhado as festas de final de ano.
DC – Mas qual é a situação atual do caixa da prefeitura?
Dário – O déficit médio das prefeituras hoje é em torno de 7,2%, por questões como redução dos repasses do Fundo de Participação de Municípios (FPM), do IPI e da Cide. Acredito que fique um déficit de 2,5% a 3% do Orçamento, o que soma cerca de R$ 38 milhões. Mas estamos fazendo contenções e negociações para reduzir ao máximo este déficit. Na minha viagem a Brasília, fui conversar com a ministra Ideli para conseguir a antecipação do ICMS e do FPM, se isso ocorrer são R$ 10 milhões a mais no caixa. De qualquer modo, claro que R$ 30 milhões é um valor significativo, mas em um universo de R$ 1,3 bilhão, representa cerca de 3%. Então é uma situação totalmente administrável.
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DC – O senhor disse que, em Brasília, conversou com a ministra Ideli. O senhor teve mais algum compromisso?
Dário – Cheguei em Brasília às 20h30min de terça-feira (20) e passei a quarta-feira lá. Às 9 horas me encontrei com a ministra Ideli para falar sobre a antecipação do FPM. Mas também fui fazer um pedido importante. A Casan está fazendo o sistema de coleta de esgoto no Sul da Ilha e a previsão é construir um emissário submarino no Campeche. A previsão é cinco anos, mas coloco mais uns três. Então fui pedir para que a ministra solicite a compreensão dos órgãos ambientais federais para fazer o tratamento terciário do esgoto durante este período. Com esse sistema, reduz-se 99% do esgoto lançado no Rio Tavares. Às 15 horas me encontrei com o subsecretário do Tesouro Nacional, Eduardo Coutinho, para tratar da liberação de US$ 58,6 milhões do financiamento do BID para educação infantil e fundamental. E às 20 horas recebi a medalha Deferência Polícia Federal e fui o único homenageado de Santa Catarina. Só não me pergunte por que, porque eu também não sei.