Em relação a um ano atrás, o preço da carne de frango no mercado atacadista de Santa Catarina está 34,5% mais caro. O aumento é verificado pela comparação entre maio de 2019 e o mesmo mês em 2018 do custo médio do quilo dos quatro tipos analisados pelo Centro de Socioeconomia e Planejamento Agrícola da Epagri (Cepa/Epagri).
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Os dados foram atualizados pela reportagem e corrigidos pela inflação (IPCA), o que permite atestar o aumento real também em fevereiro, março e abril na comparação com 2018 – não há informações relativas a janeiro. Além disso, das quatro variedades de frango pesquisadas, três alcançaram em maio o preço mensal mais alto em 12 meses: filé de peito, peito com osso e frango inteiro.
Para os consumidores, o jeito é se adaptar. A funcionária de limpeza Maria Cleci Duarte, 38 anos, de Chapecó, lembra que pagava pouco mais de R$ 3 pelo quilo de coxa e sobrecoxa e agora paga R$ 5,99:
– A gente nota que outros cortes também aumentaram. Eu compro conforme precisa e sempre busco promoção.
A percepção de Maria Cleci se justifica pelos números apresentados pelo Cepa/Epagri. Conforme o órgão, o quilo de filé de peito congelado, que estava R$ 7,13 em maio do ano passado, chegou a R$ 9,79 no mês passado, em um aumento de 37,3% – a maior variação entre os tipos pesquisados.
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Pela mesma comparação, o frango inteiro passou de R$ 4,51 para R$ 5,77, com acréscimo de 28%. O peito de frango com osso congelado subiu de R$ 5,01 para R$ 6,79 – aumento de 35%. E o quilo de coxa e sobrecoxa, que estava em R$ 4,15 em maio do ano passado, chegou R$ 5,64 depois de um ano, em uma alta de 36%.
Na carne suína também foi registrado aumento, mas não tão considerável. É o caso do quilo do pernil, que subiu 11,5% na comparação com maio do ano passado e de 2019. O quilo de lombo teve aumento de 16,5%. Já nos bovinos, a situação é mais estável e os preços mantiveram a média. O analista do setor de carnes do Cepa/Epagri, Alexandre Giehl, explica que a diferença entre aves e suínos ocorre devido a um momento ruim no ano passado, em contraste com o bom momento das exportações em 2019.
– As exportações agora estão boas, mas não são magníficas. No ano passado, tivemos um período muito ruim com a suspensão da Rússia na carne suína, embargo europeu no frango e taxa antidumping da China – explica o analista.
Os preços do quilo do frango caíram em março e abril de 2018, atingindo o menor patamar no ano. Em maio, houve uma pequena recuperação para dar um salto em junho, devido à greve dos caminhoneiros.
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– Os preços subiram muito em junho, por conta do desabastecimento. As agroindústrias demoraram algumas semanas para conseguir repor os estoques – argumenta Giehl.
Além disso, afirma, as agroindústrias catarinenses deram férias coletivas em várias unidades e até lay-off – a suspensão de contrato de trabalho por seis meses. Com isso, a oferta foi reduzida, propiciando uma recomposição dos preços das carnes no final do ano passado.
Criatividade na hora de ir ao mercado
Em Santa Catarina, muitos consumidores perceberam que precisam de mais dinheiro para comprar a mesma quantidade de carne no supermercado. Com a alta do preço do frango de um ano para cá, cada um cria as próprias alternativas. Alguns exemplos vêm de Chapecó.
A dona de casa Lenir de Oliveira, 54 anos, constata que hoje paga quase o dobro pelo quilo do corte preferido. Para ela, o importante é pesquisar bem os preços e compará-los antes de comprar. A consultora Ione Fidélis também notou um aumento de R$ 2 nos pacotes de coxa e sobrecoxa. Ela lembra que o vale-alimentação não sobra mais. Para diminuir a despesa, compra carne bovina de um vizinho da chácara da família no interior.
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A dona de casa Suzane Alves está usando a criatividade para compensar a alta:
– Não sei dizer quanto, mas notei que aumentou. Como lá em casa todo mundo gosta muito de carne, procuro dias de promoção, ou misturar com outros ingredientes, como abobrinha.

Setor considera que houve recuperação de preços
O aumento no preço do frango em um ano é considerado uma recuperação dos patamares de 2015 e 2016, segundo o presidente da Associação Catarinense de Avicultura (Acav), José Antônio Ribas Júnior.
– Não dá para considerar aumento. O que houve foi uma recuperação. Tivemos preços depreciados depois da Operação Carne Fraca (deflagrada em março de 2017), embargos, e muitas empresas fecharam no vermelho. A cadeia produtiva sofreu com o aumento de salário, energia e inflação. Estamos recuperando o espaço perdido, mas ainda temos uma proteína barata – explica.
Segundo Ribas, mesmo com um mercado interno estagnado, o que está puxando os preços é o bom volume das exportações. Ele reforça que há uma demanda maior devido aos problemas com a peste suína na China.
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– Não tem como expandir nesse momento, pois não temos ovos e pintos suficientes. Acredito que pelo menos nos próximos seis meses teremos preços pressionados por uma demanda maior do que a produção. Mas também temos que ter cautela para não aumentarmos a produção. Além disso, precisamos disputar o mercado chinês com outros mercados e, muitas vezes, o que determina a venda é a força política – argumenta Ribas.
Segundo o analista do setor de carnes do Cepa/Epagri, Alexandre Giehl, a reposição dos preços das carnes foi limitada pelo mercado interno. Principalmente, pela redução da expectativa de consumo, que era de um crescimento de 3%, para pouco mais de 1%. Outros índices, como do Produto Interno Bruto (PIB), também foram revistos para baixo.
No primeiro quadrimestre, SC exportou 111 mil toneladas de carne suína, em um crescimento de 22% em relação ao mesmo período do ano passado. Em abril, foram 27 mil toneladas, e China e Hong Kong compraram 57% desse volume. As exportações de frango somaram 325 mil toneladas de janeiro a abril, em um acréscimo de 16,5% em relação a 2018.
– A carne bovina estabilizou, mas há tendência de aumento na suína. No frango, dependerá da demanda chinesa, que pode substituir parte do consumo de suínos por frango, o que elevaria os preços também no mercado brasileiro – afirma Giehl.
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