Convidado para palestrar nesta terça-feira, às 10h40min, na Fiesc, Marcos Antônio Magalhães é defensor do ensino médio como o período de qualificação que mais influencia no futuro do profissional. Para ele, a principal diferença entre a produtividade das indústrias brasileiras e de suas concorrentes é a valorização do ensino, que quanto menos sofre investimentos, mais acarreta em baixa competitividade e inovação.

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DC – Como as indústrias podem investir no aperfeiçoamento profissional dos funcionários?

Marcos Antônio Magalhães – O desafio e o problema acontecem antes da chegada do candidato na empresa. Hoje, o esforço que a indústria tem de fazer na formação do pessoal transcende a formação específica daquela força de trabalho. E por que isto? Porque os jovens que buscam trabalho na indústria, em geral vindos do ensino médio, têm formação extremamente baixa. Costumo dizer que a cada dia a empresa mais parece uma escola e a escola tem de parecer com uma empresa.

DC – Aqui em SC, 50% dos funcionários da indústria tem escolaridade básica. E é justamente nas empresas que eles começam a se qualificar.

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Magalhães – Isto tem reflexos enormes. Por exemplo: a produtividade do trabalhador brasileiro está estagnada em bases relativas aos países concorrentes há quase 50 anos. Não é que não avançamos, mas os outros avançaram mais do que nós. Se lá nos anos 1970 o trabalhador brasileiro produzia US$ 21 mil por ano, hoje o trabalhador produz US$ 19 mil. Houve uma regressão. Isso está muito associado à escolaridade do funcionário, porque mais e mais se precisa de um trabalhador que raciocine, que tome decisões no seu posto de trabalho. Aquela época de ser um pequeno robô e elaborar funções repetitivas está diminuindo. A baixa escolaridade traz como reflexo a baixa produtividade, e isso significa aumento de custo para a indústria. Não é a toa que o Brasil peca com a baixa produtividade.

DC – Temos aí uma cadeia, porque a produtividade influencia na competitividade e na inovação das indústrias.

Magalhães – É uma sequência lógica do processo. O que todo país almeja é equidade social, ou seja, que todos tenham uma boa qualidade de vida. Mas só chegamos nesta situação quando há desenvolvimento econômico bem distribuído. E desenvolvimento econômico tem o pressuposto do desenvolvimento tecnológico e inovação. Na sequência, há outro pressuposto, que é conhecimento. E conhecimento pede uma educação de qualidade. Quer dizer, quem não tem amparo na educação, não tem geração de conhecimento, nem inovação, nem crescimento econômico para a equidade.

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DC – Somos quase 80% menos produtivos do que os EUA. Qual a diferença na valorização da educação nos dois países, que se traduz neste resultado?

Magalhães – Os EUA universalizaram o acesso ao ensino fundamental no país em 1850. Sabe quando universalizamos aqui? Em 1997. No ensino médio ,que é o grande provedor para o mercado de trabalho, os americanos universalizaram em 1920. Até hoje, no Brasil, só conseguimos graduar 50% dos jovens nessa faixa. Esta diferença é a primordial quando comparamos EUA e Brasil.

DC – O que o senhor destaca como ação prioritária no país para o avanço da educação e seu reflexo no mercado de trabalho?

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Magalhães – Temos de melhorar substancialmente o ensino médio no Brasil, de modo que se crie uma plataforma básica para os dois caminhos dos jovens: universidade e a formação profissionalizante. Esse segundo tem de vir de fora para dentro, ou seja, (entender) quais são as demandas de mercado – e aí a indústria tem um papel fundamental de orquestrar essa demanda – para que eu possa estimular os jovens e formá-los no que o mercado necessita naquele momento. É preciso ter uma atitude de corresponsabilidade, e não só esperar uma atitude do governo.

DC – Você mencionou que o mercado deve mostrar a demanda para o estudante de curso técnico. Por que excluiu o ensino superior? O próprio MEC quer fechar escolas de Direito porque o mercado está saturado.

Magalhães – Cursos de Direito precisam ser fechados (risos). O ponto é importante. O Brasil está com uma tremenda deficiência de engenheiros. Hoje, formamos 35 mil engenheiros por ano, quando precisamos de 70 mil. E por isso estamos importando engenheiros da Espanha, Japão, Portugal. Precisamos estimular o jovem a seguir carreiras científicas. E por que ele (o país) não vai nesta direção? Porque o aluno de ensino médio da escola pública não sabe fazer conta de matemática e acha que não vai aprender nunca. E engenheiro que não sabe matemática é um pouco complicado para se formar. Outra vez, a base é o ensino médio. Ou investimos fortemente nisto, ou vamos esbarrar em dois aspectos: o qualitativo e quantitativo. Não vamos ter profissionais suficientes e os que teremos não possuirão qualidades adequadas.

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