Ideli Salvatti (PT) passou os últimos dois anos afastada presencialmente de Santa Catarina durante o período em que cumpria a missão como assessora na Organização dos Estados Americanos (OEA), que tem sede em Washington (EUA). Fiel ao PT, Ideli registrou a candidatura pela legenda ao Senado no último dia do calendário eleitoral, em 15 de agosto. A volta à política partidária, conta a petista, foi motivada pela vontade de reerguer o país e, consecutivamente, o Estado.

Continua depois da publicidade

Confira abaixo o que o candidato tem a falar na segunda de uma série de entrevistas com os candidatos catarinense ao Senado produzidas pelo Diário Catarinense.

Perfil

Nascimento e idade: 18/03/1952 | 66 anos

Naturalidade: São Paulo (SP)

Continua depois da publicidade

Profissão: professora

Escolaridade: superior

Carreira política: deputada estadual por dois mandatos, ministra e senadora

Vídeo: confira as principais propostas de Ideli Salvatti, candidato ao Senado pela PT

A senhora tem uma história de protagonismo na política. Em 2002 foi a primeira mulher eleita por SC ao Senado e entre 2011 e 2015 foi ministra por três vezes. Como aumentar a representatividade feminina no Congresso?

Em primeiro lugar, SC é um Estado feminino. Acho que é o único Estado que tem nome de mulher, tem uma heroína reconhecida como heroína de dois mundos, tem figuras femininas marcantes, como a primeira deputada negra, a primeira deputada agricultora, a primeira juíza, a primeira delegada de polícia. E eu tive muita honra de ter sido eleita por SC para ser a primeira senadora, e depois também eu fui a primeira ministra, nunca antes uma mulher catarinense tinha ocupado cargo de ministério. Acho que tem uma importância isto porque você dá visibilidade, você demonstra capacidade da mulher nestes postos, nestes espaços de poder, mas indiscutivelmente os avanços são pequenos, tivemos, eu considero extremamente positivo você ter dos recursos do fundo eleitoral uma parte obrigatória de 30% no mínimo destinada para financiamento das campanhas de mulheres, mas ainda isto não é o suficiente porque nós temos uma sociedade que culturalmente discrimina a mulher, coloca a mulher numa situação muitas vezes de violência a ponto de termos em SC um feminicídio por semana, termos 29 estupros por dia, então é uma situação de violência e discriminação muito grande. Então é um trabalho, um compromisso como senadora, como mulher, como militante da causa feminista, da gente poder estar tocando lá no Senado, atuando ativamente. Mas ajuda muito quando você tem a visibilidade, e eu quero falar sobre as candidaturas ao senado, das chapas competitivas digamos assim eu sou a unica mulher. Se você pegar as outras chapas, os três que estão na disputa ao governo, as três candidaturas, Décio, Mariani e Merísio, eu sou a única mulher, então eu acho que isso também é bastante importante porque sem visibilidade você não estimula as mulheres a se colocarem, agora quando as mulheres catarinense chegam, elas chegam, chegando como é de costuma dizer.

Por que a senhora decidiu voltar para a política eleitoral e por que escolheu o Senado?

Bom, em primeiro lugar por uma profunda indignação. Tínhamos um país que estava crescendo, gerando emprego, inclusive, se eu não tivesse decidido me candidatar, voltar à política, talvez eu tivesse me arrependido profundamente quando eu visito Itajaí, fui fazer atividades de campanha, e encontro uma fila de mais de 500 pessoas na frente de uma loja porque tinha sido abertas algumas vagas para atendente de comércio. Na época dos governos do PT, do Lula e da Dilma, eu desafio alguém me mostrar uma fila de 500 desempregados, isso não existia. O Brasil tinha emprego, oportunidade, tinha políticas públicas, inclusive tinha vários programas que traziam significativos recursos para o Estado na forma de investimentos, terminamos de dizer os R$ 13 bi do Pacto (por Santa Catarina), além dos recursos de infraestrutura, dos recursos do minha casa minha vida, dos recursos para hospitais, de toda essa expansão das universidades e dos institutos. Ou seja, se você contabilizar, eu desafio a qualquer, a qualquer um dos meus adversários a mostrarem qual foi o período de governo federal que trouxe mais recurso para SC, além do benefício indireto como eu já tinha a oportunidade de comentar, quando você tem um programa de R$ 4 milhões de unidade habitacionais, diversos segmentos da indústria, material de construção que são catarinense, são beneficiadas. Quando as pessoas ganham mais, elas compram mais roupa, elas compram mais tecidos que é também forte a indústria em SC. Se o Brasil sai do mapa da fome, as pessoas vão comer mais frango, mais porquinho, que são produzidos pela indústria catarinense. Nós recebemos investimentos de forma significativa e os setores produtivos catarinenses foram extremamente beneficiados com as políticas. Então, você assiste tudo isso se desmontando, se acabando, eu fiquei indignada, eu voltei e quero voltar para o Senado, que é onde eu tenho experiência, onde eu sei como fazer e mais, eu quero voltar para o Senado tendo um governo federal do tipo que ajudou, investiu e beneficiou SC, por isso que nós estamos muito empenhados na eleição do Fernando Haddad já que a Justiça de maneira absurdamente ilegal, inclusive contrariamente à legislação brasileira e os acordos e tratados internacionais, impediu a candidatura do Lula. Eu quero estar lá como senadora podendo levar os pleitos e todas as necessidades que o Estado tem, como eu fiz durante os meus oito anos de senadora e meus quatro anos e meio como ministra, eu sempre levei, tenho inclusive esse reconhecimento supra partidário e do setor partidário, quando a gente colocava um problema embaixo das unhas, eu brincava, a gente ia lá, resolvia e trazia a solução para o Estado, o investimento necessário.

Se eleita, o que a senhora faria igual e o que mudaria com relação ao mandato que cumpriu em 2002 para agora?

Continua depois da publicidade

Em primeiro lugar tudo que nós precisamos fazer neste momento, a partir de primeiro de janeiro, é colocar o Brasil para crescer. Para crescer, gerar renda e emprego. Então, todas as medidas que eu acredito, que estão no plano de governo que o Haddad a pedido do Lula preparou e que agora vai ter a possibilidade de implementar com a sua eleição, eu vou estar ali ajudando de maneira incansável porque eu tenho a compreensão e isso é verdade, se o Brasil vai bem SC não tem como ir mal. Temos um Estado industrializado, com a economia regionalizada, diferenciada, com nível de escolaridade, inclusive melhor do que vários outros Estados, se tem uma política pública, nós temos sempre um setor econômico de SC que se beneficia, não só no Estado, mas no Brasil inteiro. Quero muito estar lá para ajudar a colocar o Brasil e SC para crescer e dar oportunidades. A outra coisa são coisas absolutamente imediatas. Temos que revogar, acabar com a barbaridade que é você congelar os investimento em saúde, educação e assistência social por 20 anos, ou seja, como vai ter mais remédio, mais médico, mais hospital, mais condição das pessoas estudarem, serem atendidas as pessoas que precisam de políticas diferenciadas, como as com deficiência, LGBT, idoso, como você vai fazer isso com o recurso congelado? Essa tem que acabar e eu quero inclusive dizer que tem muito adversário meu vindo para os programas falando que ‘eu vou investir’, ‘vou ajudar na saúde e na educação’, só que votaram pelo congelamento, como eles vão agora no Senado desfazer, trazer recursos para saúde e educação se eles são os principais responsáveis pelo congelamento ter sido aprovado. Eu tenho clareza, primeira medida lá é acabar com esse congelamento por 20 anos, acabar com a reforma trabalhista, impedir que seja aprovada aquela reforma da previdência que é só para prejudicar os pequenos, os que menos ganham, então, tá muito claro a pauta, eu tenho um lado que é o do Brasil que deu certo. Aquilo que a gente já fez, que o povo tem saudades, que o povo quer de novo, é esse o meu compromisso lá no Senado com o Brasil e com SC.

De que maneira a senhora conseguiria colocar na prática essas propostas, como a revogação do congelamento de recursos?

A primeira coisa é mudar de novo a constituição porque, veja a insanidade que foi cometida, eles não apenas congelaram por uma lei ordinárias, eles mudaram a constituição brasileira para que o povo que mais precisa de saúde pública, educação pública, assistência social, durante 20 anos não receba nada, não tenha qualquer melhoria na sua condição de vida, então, se não estiver já tramitando, se não tiver ninguém, eu vou ser autora da proposta para acabar com esse congelamento, se não vier inclusive uma proposta, que eu acredito que o (candidato a) presidente Fernando Haddad deve tomar essa iniciativa, se não tiver iniciativa do próprio Executivo eu vou tomar isso como senadora, porque está na minha prerrogativa parlamentar de poder propor. Agora o fundamental é nós termos as políticas econômicas e sociais para que a gente volte a crescer, não é possível que um país com um potencial como o do Brasil fique nessa situação. Estávamos quase chegando na quinta maior economia do mundo, hoje já estamos perto da 14º com tendência de piorar ainda mais. É colocar o Brasil no rumo certo, para crescer, distribuir renda e tem uma coisa fantástica, o presidente Lula sempre dizia isso, você coloca R$ 10 na população de menor renda ela vai para o comércio comprar o que ela precisa, gira a economia, mais gente vai vender, mais gente vai trabalhar, mais gente vai produzir. Agora você coloca R$ 1 milhão em determinados segmentos empresariais, ao invés de ele colocar a economia para rodar, ele coloca na aplicação para ele ter lucro pelo sistema financeiro. O povo é solução. Povo não é problema. Quando você faz política para atender a necessidade do povo, você transfere a maioria da população, o recurso, a economia gira, tem emprego, venda, comércio. É uma tristeza você andar nas cidades de SC, tem ruas que você passa tem 20, 30 lojas com vende, aluga, fechadas. Não era assim. Então, tem que voltar o tempo bom para a gente voltar a ser feliz.

Em 2015 e até meados de 2017 a senhora atuou como assessora na Organização dos Estados Americanos (OEA), que tem sede em Washington (EUA). A senhora teme que esse tempo fora pode ter afastado os eleitores catarinenses da senhora?

Continua depois da publicidade

Eu tenho circulado e feito a campanha e mesmo com os dois anos que eu estava prestando um serviço dentro da lógica do Brasil ocupar espaços em organismos internacionais como é o caso da ONU, FAO, OMC, nos bancos BRIC, BID, BIRD, tudo isto que a gente tem visto e conversado com a população não é só do meu trabalho que as pessoas lembram, o mais importante que as pessoas lembram é que há dois, três anos elas tinha emprego. Há dois, três anos quando ela ia na farmácia coma receita para receber o remédio gratuito, tinha o remédio gratuito e agora já não tem mais na mesma necessidade. Que quando ela precisava de uma atendimento, ela tinha uma unidade de pronto atendimento funcionando e hoje nós temos várias fechadas. A juventude, o jovem, que queria estudar tinha oportunidade de poder fazer universidade federal, institutos federais e agora isso já começa a ficar mais reduzido, já não é mais como era há dois, três anos. As pessoas têm saudades do que era bom, do que funcionava, do que dava certo e aí associam não apenas ao meu trabalho, mas associam a minha vinculação com o governo do PT que fez tudo isto acontecer no Brasil e em SC, então estou muito bem. Não me arrependo um milimetro de ter colocado em cima da hora, porque foi muito em cima da hora a decisão de ser candidata. Estou muito feliz porque a gente está nessa campanha colocando de novo a esperança para a população de dias melhores. Como diz o slogan da nossa candidatura nacional é voltar a ser feliz, todos tem o direito e todos querem voltar a ser feliz.