Aos 56 anos, Bernardo Rocha de Rezende, o Bernardinho, é um dos profissionais mais vencedores da história do esporte brasileiro. O ex-jogador e treinador de vôlei faturou títulos comandando equipes formada por homens e outras por mulheres. Transformou a Seleção Brasileira masculina em uma máquina de conquistar vitórias e há alguns anos é convidado para ministrar cursos e palestras sobre liderança e estratégias para montar equipes vencedoras.

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O treinador mostrou que é expert em lidar com adversidades para chegar a Blumenau quinta-feira. O avião fretado para vir do Rio de Janeiro deveria pousar em Navegantes, mas acabou tendo como destino Joinville. O deslocamento forçou atraso na agenda, mas não tirou o bom-humor de Bernardinho. Ele concedeu entrevista, posou para fotos e distribuiu centenas de autógrafos antes e após a palestra no ginásio Galegão.

Em meio a esses contratempos, Bernardinho conversou com o Santa e falou sobre a crise econômica e política que vive o país, como faz para manter a Seleção entre as melhores do mundo, entre outros assuntos. Confira na entrevista a seguir:

Nesse momento de crise econômica e política que vive o país, como o esporte pode servir de lição e quais ensinamentos pode trazer para superar as adversidades?

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Bernardinho – Acho que a coisa mais importante é que as pessoas não esmoreçam. Que elas se preparem, estejam cada vez mais capazes daquilo que lhes cabe realizar independente do momento que a gente vive. Que se entendam parte de um time. Muitas vezes as pessoas querem apenas o êxito individual. Esquecem que somos um grande time. Querem o êxito individual e não pensam no país, no estado, na cidade. Pensam apenas em benefício próprio. Acho que essa é uma das grandes mazelas do nosso país. Não somos um time. Quando o Brasil se entender como um time, talvez tenhamos uma pátria diferente.

Você já deu inúmeras mostras de que não importa quem seja o atleta, você busca sempre quem está melhor e pode render mais para o grupo. Além de talento, que tipo de valor precisa ter um profissional para fazer parte de uma equipe vencedora?

Bernardinho – Determinação, disciplina, comprometimento com os objetivos da equipe. Não adianta o cara ser o melhor e pensar apenas na atuação individual e não colaborar com o grupo. A coisa mais importante é que a gente tenha um resultado final e ele depende de um time, do esforço de todos nós. Isso serve para uma equipe esportiva, serve para uma empresa, serve para o país. Se cada um de nós fizer a sua parte, teremos um país diferente, empresas e equipes diferentes.

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Houve uma época em que a Seleção não perdia pra ninguém. A geração do Giba ganhou tudo, e mesmo assim os caras entravam com sangue no olho na quadra em cada competição nova. Como motivar alguém que já conquistou tudo o que podia?

Bernardinho – A motivação é estar focado na próxima competição. Temos uma geração que talvez não tenha tanto talento, mas tem se mantido no topo. Aquele ciclo talvez não vá se repetir, mas a gente precisa focar no nosso grande objetivo que é a Olimpíada de 2016. Estamos trabalhando nesse sentido. Dei treino de manhã para alguns jogadores antes de vir para cá e amanhã (sexta) retorno aos treinamentos pela manhã. Estamos trabalhando duro nesse sentido. Não adianta fazer comparações com outras épocas, mas sim fazer o nosso melhor e, quem sabe, buscar mais uma medalha em 2016.

A Seleção vem do vice mundial de 2014, na Polônia, e ficou fora das semifinais da Liga Mundial deste ano, no Rio, mas segue na liderança do ranking e é tida como a favorita ao título nos Jogos Olímpicos de 2016. O que fazer para os atletas lidarem com essa pressão pelo ouro, principalmente após as pratas em Pequim e Londres?

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Bernardinho – Acho que o jogador tem que saber que há uma definição de sucesso que é muito clara: sucesso é a paz de espírito proveniente da consciência que você fez o seu melhor. Nós temos que fazer o nosso melhor. Se o nosso melhor for levar a medalha de ouro, ótimo. Mas se nós fizermos o nosso melhor e não chegar ao ouro, nós fizemos o nosso melhor. Isso é a coisa mais importante. A consciência que fizemos o nosso melhor.

Faltando pouco mais de 300 dias para a Olimpíada do Rio de Janeiro, como você avalia que está a preparação para os Jogos?

Bernardinho – Infelizmente, a federação internacional nos tirou da Copa do Mundo e isso, para nós, foi péssimo. Porque é um campeonato importante. Fizemos alguns amistosos e agora os jogadores voltam para os clubes. Só reunirei os jogadores novamente no final de abril, ou seja, teremos três meses até a Olimpíada. É tudo o que nós teremos até lá. Então, vamos fazer o nosso melhor nesse tempo.

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Qual o principal legado que os Jogos Olímpicos devem deixar para o esporte brasileiro?

Bernardinho – Acho que precisa deixar o exemplo de dedicação, de trabalho, que tudo aquilo que seja construído, sirva à população no futuro. Que o esporte se pulverize, se massifique de todas as maneiras. Acho que isso é que tem deixar para o Brasil pela frente.