As principais praias do Norte da Ilha de Santa Catarina, em Florianópolis, têm agora a pior situação para banho em um início de verão em ao menos 21 anos. Canasvieiras, Jurerê, Jurerê Internacional e a praia dos Ingleses chegaram a esta primeira semana de 2023 impróprias para banhistas, o que só havia ocorrido uma vez desde 2003, ano com dados mais antigos em série histórica disponibilizada pelo Instituto do Meio Ambiente (IMA), órgão estadual que analisa a balneabilidade do Litoral Catarinense.
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O recorde negativo foi identificado pelo Hora de SC, que verificou as análises feitas pelo IMA entre a semana em que foi iniciado cada verão, sempre em 21 de dezembro, e a primeira semana do ano seguinte, intervalo em que turistas passam a lotar a Capital, em especial as badaladas praias do Norte.
Na abertura do primeiro verão da série analisada, do final de 2002 à semana inicial de 2003, Canasvieiras teve, entre seis pontos com água coletada pelo IMA, apenas um considerado impróprio para banho no período, na altura da Rua Acarí Margarida. A praia dos Ingleses e Jurerê, com cinco e quatro pontos analisados, respectivamente, também tiveram apenas um cada em condições ruins. Já Jurerê Internacional, com só um local de coleta, estava totalmente própria para acolher banhistas.
Na sequência da década, o pior início de verão foi o da virada de 2010, quando Canasvieiras tinha quatro pontos impróprios, a praia dos Ingleses, dois, e Jurerê, três. O Norte da Ilha já chegou a ter, no entanto, um começo de temporada em que só esta última apresentava algum trecho ruim, no início de 2005.
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Já nos últimos 10 anos, foram se tornando mais comuns os inícios de verão com condições impróprias nas praias do Norte. A pior situação se deu na virada para 2018, quando o IMA já passou a realizar a coleta de água em oito pontos de Canasvieiras, sete nos Ingleses, cinco de Jurerê e dois de Jurerê Internacional.
Naquela ocasião, Canasvieiras e Jurerê estavam completamente impróprias, a praia dos Ingleses ficou com apenas um ponto liberado, próximo ao Morro das Feiticeiras, e Jurerê Internacional teve banho contraindicado em um trecho, em frente à avenida dos Salmões. O panorama de hoje é semelhante.
Por que as praias estão ruins para banho?
A prefeitura de Florianópolis atribui o cenário de 2023 às fortes chuvas recentes que atingiram o município, o que aumentaria a vazão de dejetos para o mar.
Em dezembro do ano passado, a estação pluviométrica da Epagri de Carijós, no Norte da Ilha, registrou 415 milímetros de chuva. A média na região para o mês é 194 mm nos últimos 10 anos. Antes disso, a autoridade meteorológica catarinense já contava com uma estação no Itacorubi, onde a média registrada de precipitação em 22 anos é de 173 mm. Já no mês anterior, foram 492 mm.
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Desde o início do verão, a gestão municipal também colocou em xeque a atuação da Casan ao tratar do problema da balneabilidade, em especial em Canasvieiras, onde deságua o poluído rio do Brás.
No fim de dezembro, a prefeitura anunciou que faria uma vistoria das estações de bombeamento de esgoto da estatal no curso d’água, responsáveis por conduzirem os efluentes do bairro ao local adequado para tratamento. No início do mês, a gestão Topázio chegou a aplicar uma multa de R$ 1,5 milhão à empresa por entender que a Estação Elevatória de Esgoto (EEE) localizada ao final da rua Madre Maria Milac, junto ao leito do rio da Brás, estaria inoperante, causando o lançamento de esgoto bruto na água.
Anteriormente, a Casan, que recorreu da multa do rio do Brás, informou que as duas bombas instaladas no local funcionam perfeitamente, com gerador próprio para o caso de falta energia. Disse que há ainda outras duas bombas reservas em Canasvieiras, bairro que tem 96% de cobertura de esgoto.
Na ocasião, a estatal ainda passou a responsabilizar a prefeitura pelo estado do rio do Brás e da sujeira em Canasvieiras. A estatal apontou que a causa do problema seriam as ligações irregulares na rede de drenagem da região, que, em vez da água comum das chuvas, têm levado esgoto clandestino para o leito do rio. Isso ainda seria evidenciado pela chuvarada recente, que sempre agrava a poluição do rio.
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Impedir essas ligações clandestinas, o que dependeria de efetiva fiscalização da gestão municipal, seria a solução definitiva para o problema em Canasvieiras e também em outras praias, segundo avaliou a Casan. A estatal reforçou ainda que não há ligação de rede de esgoto com os balneários.
O que as autoridades têm feito para resolver o problema
À reportagem, a prefeitura afirmou realizar operações de fiscalização de ligações irregulares de esgoto semanalmente e também avaliou ser necessário um aprimoramento dos trabalhos do IMA.
“Temos apenas uma coleta por semana nos pontos analisados, o que torna o modelo pouco preciso. Países como Estados Unidos e Austrália fazem análises três vezes por dia, ajudando a construir uma fotografia muito mais precisa sobre os padrões de balneabilidade das praias”, escreveu, em nota.
A gestão Topázio Neto (PSD) disse ainda, à reportagem, que notificou a Casan em dezembro sobre investimentos em obras estruturantes e que tem cobrado ela a cumprir metas contratuais de saneamento. A estatal, por sua vez, afirmou que tem atuado para garantir isso.
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“O que a Companhia pode garantir é que diariamente suas equipes trabalham para que a infraestrutura de saneamento seja operada de forma adequada, ao mesmo tempo que busca de forma incessante investimento para ampliar as redes de coleta e as unidades de tratamento na Capital”, comunicou.
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