Logo ao amanhecer, com os termômetros marcando 28ºC, a maioria das pessoas que saíram cedo de casa já percebiam que o dia seria diferente. O vento quente trazia mais sensação de abafamento do que de refresco e as praias já davam sinais de que ficariam lotadas antes mesmo de os primeiros restaurantes abrirem as portas para servir o almoço. Tendo em vista isso, a ideia de procurar algum lugar onde não houvesse quase ninguém surgiu como uma dúvida de que isso seria possível no dia mais quente do ano.

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O trânsito volumoso da SC-401 no sentido Norte da Ilha nos conduziu à praia do Santinho, muito famosa e requisitada. No mapa, Santinho está à nordeste, como a última localidade do norte, fazendo fronteira com a praia do Moçambique, a primeira do leste.

Moçambique, por sua vez, mais reservada, entretanto muito conhecida entre o grande público. Entre os morros e costões que separam estes dois cartões-postais de Florianópolis, uma trilha. E é justamente onde queríamos chegar.

Antes do início, vale lembrar que costões são lugares que trazem risco à vida, que caminhar sobre pedras cobertas por maresia requer cuidado dobrado e que é sempre importante deixar outras pessoas avisadas sobre o rumo tomado.

Ao canto direito da praia do Santinho a trilha é iniciada, em meio às pedras, subindo uma pequena escada que leva às inscrições rupestres. Muitas pessoas procuram o local para fotografar e observar a arte do homem do Sambaqui, ancestral que por aqui viveu há milhares de anos.

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Depois do ponto turístico o caminho continua, um pouco mais estreito, aberto, hora em terra, hora em pedras. Os primeiros dez minutos são mais preocupantes, com subidas íngremes e passagens escorregadias, como uma espécie de teste para identificar quem quer continuar.

Há quem desista por cansaço e há quem desista por achar que a trilha não levará a lugar algum. Para os persistentes, há a recompensa após meia hora de caminhada. São altos e baixos que cobram das pernas e alguma coisa do fôlego, ainda mais sob um sol inesquecivelmente quente como o que tivemos ontem.

Quanto mais se afasta do Santinho, menor o fervor. O mar bate no costão e é o que se ouve, misturado ao som da corrida de calangos pela mata rasteira. Vez ou outra o caminho passa por pedras enormes que lembram mirantes estrategicamente construídos. As paradas para fotos contam o tempo e se houver muitas aqueles trinta minutos pela rota se transformarão em sessenta.

Com suor escorrendo pelo rosto e atingindo os olhos, de um desses mirantes avista-se algo diferente na paisagem. Pela manhã, ainda com a maré seca, a ponta de areia fica mais evidente e a parada torna-se inevitável.

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A entrada tem que ser pelas pedras, logo após abandonar a trilha principal quando um único grande tronco seco for visto à esquerda. Depois de descer por um caminho secundário e passar pelo tronco solitário é preciso ter cuidado com rochas soltas ou escorregadias. À esta altura nada mais importa, já não se escuta outra coisa que não seja o mar chamando para um mergulho, como em uma canção hipnotizante.

A pequena praia não tem mais do que dez metros de largura, escondida por trás de uma grande rocha, e é capaz de arrancar gargalhadas de quem pisa na água. Ninguém ao lado direito, ninguém ao lado esquerdo, à frente só o mar, atrás, nada mais do que natureza.

É fácil se perder no tempo no Calhau. Não há tempo para parar de mergulhar sem ninguém por perto, tampouco para deixar de se distrair com a paisagem ao sentar-se na areia. Uma praia deserta, intocada, um local único em meio à capital catarinense.

Apenas deve-se atentar para um detalhe, assim como nos oásis verdadeiros: há ainda um bom caminho pela frente.

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Mas vale a pena!