A Praia da Galheta, em Florianópolis, onde um guarda-vida foi agredido em fevereiro deste ano, registrou na temporada de verão 2022/23 ao menos 50 ocorrências policiais — entre agressão, assédio e roubo —, segundo o que informou o coordenador dos salva-vidas das praias do Leste, Pedro Soares De Paula, ao Jornal Hora de SC. A Polícia Militar (PM), porém, negou os números e declarou ser um local com baixos episódios de polícia.
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A praia é considerada a única de nudismo na Capital. Conforme o comandante dos profissionais da Galheta, os registros de ocorrências são feitos pelos próprios salva-vidas e repassados a órgãos policiais ou Guarda Municipal, a depender da ocasião. De acordo com ele, as outras praias da região, como a Joaquina e a Mole, não registraram durante a temporada nenhum incidente similar.
— Os registros policiais da região são bem baixos. Nos últimos dois anos, tivemos apenas três ocorrências do tipo no local, não se vê muitas denúncias por lá. As denúncias, se crescem, devem ser respondidas pelos próprios bombeiros, porque ele é o agente público que deve responder pelos crimes que vivencia, inclusive dando voz de prisão caso necessário — afirma o tenente-coronel da Polícia Militar, Dhiogo Cidral.
— O que nós temos aqui é um número grande [de ocorrências]. Muitos deles, talvez, não tenham tido registros policiais ou então tenham acionado a Guarda Municipal para auxiliar na ocorrência, o que não registra necessariamente um boletim, por exemplo. Mas eu não posso falar pela outra instituição, por nós, de todos os guarda-vidas que se mantêm na praia durante o dia todo, foi presenciada inúmeras situações esse ano, número que tem crescido muito — contrapõe o comandante dos salva-vidas, Pedro Soares De Paula.
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Como avaliam especialistas
João Antonio Shula, guarda-vidas civil da Praia da Galheta, foi agredido na terça-feira de Carnaval, dia 21 de fevereiro, quando recebeu dois socos de uma pessoa após pedir para que a mesma deixasse de urinar perto do posto em que trabalhava. O caso viralizou em Florianópolis e trouxe à tona questões sobre a segurança da praia.
Na ocasião, o comandante dos profissionais afirmou ao colunista do NSC Total Renato Igor que no local são comuns ocorrências de sexo e agressão, e disse ainda que uma das razões da situação ter aumentado está em ser uma região afastada e com prática de nudismo. Para ele, o uso da tecnologia com drones e câmeras seria uma das soluções que conteriam a violência na área.
Ao jornal Hora de SC, a presidente da Federação Brasileira de Naturismo afirma ser necessário segurança pública no local, sem que o guarda-vidas seja o único a deter esta responsabilidade.
— Não vejo problema em utilizar esses equipamentos [câmeras e drones], até porque acredito que o uso deles inibiria o público nos locais de naturismo. O que acontece é que em algumas praias em que fizemos essa solicitação no país, ouvimos muita bobagem, como por exemplo: “querem câmeras para a gente ver vocês pelados?”. Isso é no mínimo estranho, mas o público naturista mesmo não tá preocupado com isso, então a situação inibiria quem vai à praia com outras intenções — diz.
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Conforme diz, a prática do nudismo como não obrigatória na Praia da Galheta também dificulta a melhora na segurança e, por isso, é necessário que exista uma lei para a área.
Um dos representantes da Federação, Claudio Haliuc, afirmou à reportagem que a falta de segurança em praias de naturismo é comum no país e as agressões e assédio acontecem de forma exagerada em diversas praias nacionais que utilizam a prática. Para que o número de ocorrências diminua, segundo ele, é preciso uma lei que regulamente a prática do nudismo em âmbito nacional em lugares destinados à isso, para que assim sejam criadas regras em cada um dos lugares, a cargo de Estados e municípios.
A prática, apesar de autorizada, no país, não é regulamentada por lei. Alguns projetos que regulamentariam oficialmente o nudismo em praias chegaram ao Senado nos últimos anos, mas não foram aprovados.
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