A qualidade da água no canto norte da praia de Navegantes preocupa autoridades ligadas ao meio ambiente e à saúde. Os três pontos analisados pela Fundação de Meio Ambiente (Fatma) no município estão impróprios para banho. Eles ficam na Meia Praia e Gravatá.
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Em dois dos pontos de coleta a água aparece nos relatórios da Fatma como imprópria para banho desde dezembro do ano passado. A situação é tão grave que a fundação estuda a possibilidade de interditar o ponto mais crítico – a Foz do Rio Gravatá – local em que as análises são desfavoráveis continuamente desde março de 2013. A fundação emite relatórios semanalmente durante a alta temporada e mensalmente fora dela.
Localizado bem no limite com Penha, esse ponto é considerado pela Fatma um dos 13 com a pior balneabilidade no Estado.
Conforme o gerente de pesquisa e análise da qualidade ambiental da fundação, Haroldo Elias, além desse, outros locais onde a balneabilidade é constantemente inapropriada são a lagoa de Barra Velha, pontais norte e sul em Balneário Camboriú e pontos na região de Florianópolis.
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O gerente explica que a legislação deixa a critério do órgão ambiental possíveis medidas a serem tomadas nesses locais. Por isso, a Fatma estuda a possibilidade de interditar alguns deles, mas não é possível dizer se a ação vai ocorrer efetivamente.
– É muito difícil garantir a interdição porque caberia ao município fiscalizar para que ninguém entrasse na água- destaca.
O ideal, segundo Elias, seria que os banhistas respeitassem a sinalização de água imprópria da Fatma, presente em todos os três pontos de análise em Navegantes. Mas isso também não ocorre.
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Nesta semana a reportagem do Sol Diário percorreu a praia e encontrou banhistas em todos os três pontos impróprios. A maior parte deles, especialmente crianças, estava no ponto perto do posto 7 dos guarda-vidas.
As irmãs Cláudia Eduarda Ferreira, 14 anos, e Daniela Ferrai, 12, chegaram a ver a placa indicando a balneabilidade ruim, mas ainda assim curtiram o mar. Elas dizem que não se sentiram ameaçadas por perceberem que a água estava muito clara, inclusive com cardumes de pequenos peixes.
Impactos na saúde
O que as adolescentes não imaginam é que mesmo a água parecendo boa a contaminação por coliformes fecais pode causar danos à saúde. Obstetra e especialista em medicina da família, Rosaura Rodrigues explica que a água contaminada pode ser a responsável por várias doenças. Entre elas: viroses, infecções, dermatite e ginecovaginite, no caso das mulheres.
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Isso pode ocorrer tanto pelo contato com a pele como pela ingestão da água. Segundo a médica é comum que, especialmente crianças, ingiram um pouco de água quando estão no mar. Desta forma, é importante respeitar a orientação.
– Deveriam também existir campanhas nesse sentido porque muitas pessoas não sabem exatamente o que a placa de água imprópria quer dizer – sugere.
Situação nos pontos de coleta de amostras
As coletas de amostras na praia de Navegantes ocorrem no posto 6 dos guarda-vidas, em frente a Rua 7.000, no posto 7, perto da Rua 8.150 e na foz do rio Gravatá. A reportagem do Sol Diário percorreu a praia verificando a situação nesses locais.
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O ponto crítico apontado pela Fatma, na foz do rio, realmente é o mais preocupante. Além do mau cheiro, pequenos mosquitos tomam conta da praia naquela região. Na quarta-feira, até mesmo um objeto de metal, que se assemelhava a um arquivo, foi encontrado boiando em direção ao mar. Lá a quantidade de banhistas é menor, mas ainda há quem entre na água.
O ponto mais movimentado é perto do posto 7, onde a água transparente e as algas cobrindo as pedras tornam a paisagem uma das mais bonitas da orla.
No posto 6, uma saída de água da rede pluvial afasta um pouco os banhistas. O local, segundo a prefeitura, é contaminado justamente por existirem ligações de esgoto clandestinas nessa rede. A reportagem também percebeu sacolas plásticas e muitos mosquitos no local.
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Como é feita a análise
A análise de balneabilidade da Fatma leva em consideração a quantidade de coliformes fecais nas amostras de água em comparação com o histórico pesquisado. Para ser considerado impróprio um ponto tem que apresentar mais de 160 mil unidades por 100 mililitros de água.
O relatório não leva em consideração a quantidade excedente, por isso não é possível determinar se um ponto é pior que outro também declarado impróprio. As coletas ocorrem sempre para possa ser levado em consideração as chuvas e os ventos, que interferem nas condições do mar.
Alguns pontos são analisados pela Fatma de forma experimental, são os chamados pontos x, que não entram para o relatório oficial de análise. Mas é possível ter acesso aos laudos de alguns desses pontos no site da fundação. Em Navegantes existe um ponto x na parte sul da praia (centro), perto dos molhes. De acordo com a Fatma, estão sendo feitas análises mensais no local e todas têm mostrado que o local é próprio para banho. Contudo não existe uma previsão de que o ponto passe a fazer parte do relatório oficial.
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Projetos para deixar o mar limpo
A prefeitura de Navegantes trabalha em algumas ações que têm como finalidade eliminar as fontes poluentes do mar. A principal delas é a drenagem do rio Gravatá, que começou no segundo semestre de 2012 e deve ficar pronta nos próximos meses.
De acordo com o superintendente da Fundação Municipal do Meio Ambiente de Navegantes (Fuman), Paulo Celso Mafra, isso deve reverter parte da contaminação da praia. Mesmo assim, uma solução definitiva só deve ser possível nos próximos anos.
A implantação de molhes, que fariam com que a água do rio desembocasse em alto-mar já está sendo estudada. O projeto está para análise da Fatma e, se aprovado, as obras podem começar logo, já que existe verba aprovada pelo PAC 2.
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Em frente ao posto 6 dos guarda-vidas, onde existe despejo de água pluvial, também estão sendo feitas obras para reverter a situação. Segundo Mafra, a prefeitura está implantando um sistema de galerias na via paralela à Beira-Mar.
Quando a implantação estiver concluída não haverá mais despejo de água da chuva na praia. Essa água passará a desembocar no rio das Pedras, que segundo o superintendente não desemboca na praia de Navegantes.
A água acaba saindo poluída na praia devido às ligações de esgoto doméstico ligadas à rede. Conforme o secretário, as ligações são de edificações antigas porque hoje não são aprovadas construções que não apresentem destino correto do esgoto.
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No entanto, segundo ele, fiscalizar e autuar os donos de casas com ligações clandestinas ainda é difícil porque seria necessário adivinhar quais imóveis não têm rede coletora. Por isso a secretaria conta com denúncias para coibir essa prática.
De acordo com Haroldo Elias é possível retomar a qualidade do mar em questão de dias. Basta eliminar as fontes poluentes que a água deixa de ser imprópria de uma semana para a outra.