Por entre as pedras e o verde que a rodeia, a Praia de Cabeçudas, em Itajaí, guarda uma rica história.
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Considerada o berço catarinense do chamado turismo de sol e mar – em evidência entre as décadas de 1940 e 1970 – o local ainda preserva velhos traços: tranquilidade e romantismo, graças a antigas construções e à aconchegante praça de frente para a orla. Se por um lado o charme de outros tempos mantido na praia é um diferencial, por outro, a antiga estrutura oferecida à beira-mar deixa a desejar.
Cabeçudas já ganhou pequenas melhorias, mas nunca passou por revitalização. A falta de reformas na orla chama a atenção de quem circula por ali e causa uma impressão de lugar abandonado. O calçadão, que por tempos foi considerado o melhor de Santa Catarina para os passeios à beira-mar, hoje apresenta vários remendos.
Além disso, a praia não conta com acessibilidade adequada e os quiosques construídos na faixa de areia não têm padronização e nem água potável para o atendimento ao público.
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– A praia está esquecida. Depois da forte ressaca sofrida em maio deste ano, a faixa de areia de Cabeçudas ficou totalmente desnivelada. Há pontos da praia que mal tem areia. Vemos muito investimento na Praia Brava e por aqui nada – reclama a artesã Rosangela Gastão Viana, que frequenta o local para passeios e prática de esportes.
A opinião do auxiliar de serviços gerais Gilson Lemos, 43, é a mesma. Sentado na areia aproveitando o dia de sol, ele conta que a praia é um paraíso, mas garante que o local deixou de ser a menina dos olhos de Itajaí há muito tempo.
– A limpeza da praia está impecável, não se enxerga um papel jogado no chão. Porém, não existe investimento na orla. Desde que moro aqui, há 30 anos, nada mudou na estrutura de Cabeçudas – relata.
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Vida sossegada
Para o casal Margareth Burgel, 46 anos, e Arthur Augusto de Andrade, 48, que vieram do Paraná em busca de sossego há três anos, a falta de infraestrutura do bairro não chega a incomodar. Mesmo com a ausência de serviços básicos como supermercados e farmácias no bairro, os dois não têm dúvidas de que acertaram na escolha na pequena praia de Itajaí como um refúgio.
– Para fazer compras precisamos ir até o Centro de Itajaí, pois não há opções por aqui. Na questão da infraestrutura o calçadão está meio esquecido e poderia melhorar, mas nos sentimos felizes aqui mesmo assim – diz Margareth.
Andrade, que é engenheiro naval, conta que o encanto pela praia foi imediato, no primeiro passeio pelo local.
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– Passamos por Cabeçudas e nos apaixonamos. É um ambiente familiar, uma praia calma. E esse ar nostálgico nos encantou.
A casa comprada pelo casal fica três quadras distantes da faixa de areia. A edificação é de 1942 e pertencia ao blumenauense Max Albert Schelling, que a utilizava com a família durante as temporadas de verão. Mesmo com a reforma, Margareth e Arthur fizeram questão de manter a estrutura original, presente também em muitas construções vizinhas.
– Ela ganhou um ar mais moderno, mas fizemos questão de preservar a estrutura. Todas as divisões da casa são originais, o piso da cozinha foi restaurado e o chão de madeira também permaneceu nos quartos e na escadaria – afirma Margareth.
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Turismo existe
Apesar de parecer apenas praia de frequentadores locais, Cabeçudas ainda é atrativa para os turistas. No único hotel existente à beira-mar, a lotação chega a 100% na temporada de verão. Gerente do Marambaia Cabeçudas, Carlos Valente explica que 80% das pessoas que procuram a praia são do Paraná, especialmente da cidade de Curitiba. O restante dos turistas vêm de São Paulo e do interior de Santa Catarina.
– Os nossos hóspedes, na grande maioria, são famílias e casais que procuram Cabeçudas em busca de sossego. Mas temos também alguns jovens que se hospedam aqui, mas aproveitam a estrutura da Praia Brava durante o dia.
Sem atrativos de frente para o mar
Ao contrário da Praia Brava e Balneário Camboriú, Cabeçudas não tem opções de restaurantes e bares para quem busca diversão e boa gastronomia na orla. Mesmo com a falta de conforto nos atrativos turísticos, a praia mantém a antiga sofisticação das moradias. À beira-mar há casas sendo vendidas por R$ 1,5 milhão.
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– A Praia de Cabeçudas sempre se diferenciou no turismo pelas belezas naturais. Já a infraestrutura ficou esquecida ao longo dos anos. É preciso investir em um novo calçadão, na padronização dos quiosques, que não podem ficar na faixa de areia e em atrativos gastronômicos. Tudo isso daria novo ânimo aos frequentadores. Manter os prédio antigos que existem no bairro também precisa ser uma prioridade do poder público – destaca Marcus Polette, geógrafo, oceanógrafo e um dos autores do Atlas Socioambiental de Itajaí.
O Secretário Municipal de Urbanismo de Itajaí, Paulo Praun Cunha Neto garante que um projeto amplo e completo de revitalização para a Praia de Cabeçudas está sendo elaborado pela prefeitura. Calçadão, quiosques, acessibilidade e melhorias na estrada que leva até o local fazem parte do plano, que por enquanto, não tem data prevista para sair do papel. Com a ideia pronta, a administração precisa ainda buscar recursos para a execução das obras.
– É um projeto que precisa ser muito bem feito, porque é uma obra demorada e que mexerá com toda a estrutura da praia – conclui Praun.
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