Em 1876, o ilhéu Virgílio dos Reis Várzea se matriculou, aos 13 anos, na Escola Naval do Rio de Janeiro, dela saindo aos 16 para correr o mundo, do Cabo Horn às Antilhas, do Atlântico ao Índico e ao Pacífico, com passagens pelos Açores e pelos também lusófonos Arquipélagos do Cabo Verde.

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Esse verdadeiro “Mestre dos Mares” haveria de se transformar num “Mestre das Letras” ao retornar à sua Desterro em 1881 e se tornar amigo e empreendedor literário, em parceria com João da Cruz e Sousa. Os dois passaram a editar, em sociedade, os jornais locais Colombo e Tribuna Popular, baluartes da causa abolicionista.

Dono de uma obra imortal Traços Azuis (1884, poesia), Tropos e Fantasias (1885, prosa, com Cruz e Sousa), O Brigue Flibusteiro e Os Argonautas (contos, 1904 e 1909), entre outros textos relevantes, Virgílio Várzea deixou de presente para a Ilha de Santa Catarina uma espécie de memorial descritivo em que o escritor “pincela” as praias, as enseadas, os promontórios, as freguesias e as lagoas, os altiplanos e os baixios da Ilha num livro que é, ao mesmo tempo, um “quadro” e uma “carta”, num estilo que se poderia caracterizar como prosa-pictórica.

Em 1900, aos 37 anos, Virgílio Várzea “pinta” A Ilha com aquele amor dos que a tiveram por berço e âncora – despido da habitual modéstia dos seus nativos:

“Poucos lugares do globo possuirão praias tão bonitas e de um desenho mais interessante e caprichoso como os da costa catarinense”, escreveu, antes de seu hino de amor à Ilha.

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Então, descreveu a Ilha com a emoção de um filho, pincelando as suas belezas em sua prosa poética. Cultivou-a como “um dos mais belos panoramas que o olho humano pode apreciar”.

Majestade e grandeza que viviam na alma de Várzea, amigo dos seus amigos. É ao amigo “marinheiro” que recorre um desesperado Cruz e Sousa, escrevendo-lhe do Rio de Janeiro onde, em vão, “espera sem fim por acessos na vida, que nunca chegam”.

“Estou profundamente mal, e só tenho a minha família, só te tenho a ti e a tua belíssima família (…) Só dessa linda falange de afeições me aflige estar longe, e por isso morro, sim, de saudades.”

O sol que voltou à Ilha homenageia o magnífico aquarelista de alma marinheira e caráter nobre, destituído de qualquer salitre. O marinheiro que escrevia com um pincel na mão.

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