Os móveis estufados, sem portas nem gavetas, espalham o cheiro de mofo. Em vez de secarem, mais de dois meses depois da enchente, os armários com prontuários médicos, fichas de pacientes e até remédios da farmácia pública ganharam uma camada de bolor, que sobe como em uma trilha pelos cantos das paredes infiltradas. O ambiente nos postos de saúde de Itajaí, cidade que teve 97% do território alagado na inundação de novembro, continua insalubre para trabalhadores e pacientes.

Continua depois da publicidade

A Secretaria da Saúde do município concluiu que serão necessários R$ 4 milhões para reformar e reequipar apenas as edificações seriamente atingidas pela água, pelo menos 15 das 35 unidades de saúde municipais. O levantamento, que ainda não terminou, também inclui as seis ambulâncias do município, cujo conserto ficou para trás depois da enchente. Apenas uma continua circulando e a UTI móvel está indisponível, porque o desfibrilador e o equipamento para eletrocardiograma não funcionam.

Dentro dos postos a situação é a mais grave. Na unidade do Bairro da Murta, a ferrugem consome metais que tiveram contato com a água suja, incluindo o material do consultório odontológico. Uma camada de compensado fecha o buraco do aparelho de ar-condicionado, furtado nos dias mais críticos da calamidade de novembro.

Os saques durante a enchente se repetiram em várias outras unidades e pelo menos 60 aparelhos terão de ser repostos. Remédios também foram furtados nos dias de enchente, mas as farmácias dos postos já estão operando normalmente, segundo a Secretaria da Saúde. Alas de atendimento aos pacientes, porém, estão longe das condições mínimas de esterilização, conforme os próprios servidores.

– A gente chega, abre todas as portas e janelas e põe tudo para secar. Mas os móveis, as macas, a sala de vacinas, está tudo perdido, infiltrado. O ambiente é totalmente insalubre – diz a enfermeira Stela Maris Minuzzi, que coordena a unidade de saúde do Bairro Cidade Nova.

Continua depois da publicidade

No Bairro Promorar II, a marca das águas de novembro ficou nas paredes do posto de saúde, enquanto, das portas, pouco restou. Elas não fecham ou tiveram pedaços levados pela correnteza, tirando a privacidade dos consultórios. Mais do que constrangimento, a possibilidade de contaminação é o que preocupa.

Obras levarão 100 dias, diz Saúde

A Secretaria da Saúde de Itajaí anunciou que pretende começar as obras nas cinco unidades de saúde em situação mais crítica a partir de segunda-feira. Os locais mais insalubres são as unidades dos Bairros Murta, Promorar II, Jardim Esperança, Cidade Nova e Bambuzal, bairro onde o posto continua fechado.

A secretária da Saúde Dalva Rhenius diz que as obras em todas as unidades atingidas pela enchente levarão em torno de 100 dias.

– A situação dos postos ainda é uma calamidade. Para as reformas mais profundas, vamos programar a transferência de atendimentos para unidades próximas – declarou.

Continua depois da publicidade

A secretária comunicou que os recursos para as obras serão destinados pelo Fundo para a Reconstrução de Santa Catarina, do Governo Federal. As unidades terão de receber mobília nova, reposição de computadores e aparelhos de ar-condicionado furtados e danificados pela água, portas, esterilizadores e instrumentos médicos e odontológicos.