No dia 12 de março de 2020 foi confirmado o primeiro caso de Covid-19 em Santa Catarina. Mais de quatro anos se passaram, no entanto, pacientes que foram afetados de forma grave pelo vírus seguem apresentando sequelas causadas pela doença, como dores musculares, problemas de memória e agravamento de patologias pré-existentes, tendo que utilizar medicamentos de forma permanente.

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Somente no Estado foram mais de dois milhões de pessoas infectadas pelo vírus, segundo dados do painel da Secretaria Estadual de Saúde (SES). Um deles foi Márcio Fernando Kuchla, de 48 anos. Ele, que trabalha na área de Tecnologia da Informação, contraiu o vírus no dia 6 de abril de 2021. Desde esse dia, sua vida nunca mais foi a mesma.

As lições que a pandemia da Covid-19 deixou para SC, quatro anos após primeiros casos

— Quando contraí o vírus, sentia muitas dores na região toráxica, principalmente na parte de trás das costas. Nas semanas seguintes, após os sintomas mais graves passarem, já se percebe uma deficiência na concentração. Notei uma dificuldade de prestar atenção nas reuniões, principalmente as que eram acima de 30 minutos. O grau de atenção reduziu drasticamente — comenta Márcio.

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Mas este era só o começo dos problemas que ele teria por conta da Covid-19. Logo depois, outras doenças começaram a aparecer e afetar diretamente a vida de Márcio.

— A memória também foi afetada. Hoje se eu não anotar em algum bloco de notas, não gravar as agendas/reuniões no mesmo dia, algumas horas depois, eu esqueço. Para eu entrar em uma reunião, tenho que revisitar documentos e anotações para não ficar perdido — relata.

O que acontece quando coronavírus entra no corpo humano

Notando que algo estava errado, Márcio decidiu fazer uma série de exames dois meses depois de contrair o vírus, onde descobriu algumas alterações no organismo.

Márcio passou a ficar com os dedos tão inchados, que não conseguia usar sua aliança de casamento (Foto: Reprodução, Arquivo Pessoal)

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— Colesterol alto, glicose. No período fiz mais dois exames e do nada meus dedos começaram a doer e ficarem gordinhos e duros, causando uma desconfiança. Até que fui diagnosticado com artrite reumatóide. O médico contou que eu podia ter pré-disposição para isso, mas que a Covid pode ter acelerado o processo — revela.

O que dizem os especialistas

Segundo um artigo publicado na revista norte-americana Jama (Journal of the American Medical Association), que é referência mundial em pesquisas no campo da medicina, as dores musculares foram o quinto sintoma mais frequente durante a fase aguda de infecção da Covid, o que corresponde a doença enquanto está em atividade no corpo.

O artigo também mostrou que dores nas articulações, como nos joelhos, foi apontada como a terceira causa mais frequente de sintoma que persiste depois da infecção por Covid-19 ser curada, o que é considerada uma sequela.

De acordo com o médico ortopedista Fernando Cury, não se sabe ao certo o motivo das dores.

— Por enquanto, existem mais teorias e estudos que citam hipóteses, mas nada ainda muito comprovado — diz o médico.

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Ele comenta que algumas substâncias liberadas pelo vírus também podem causar dores no pós-covid.

— A Covid-19 causa a liberação de substâncias que ativam inflamação do nosso corpo. Isso pode desencadear ou intensificar processos dolorosos que tenham como causa da dor, a inflamação. Nesse sentido, doenças como a artrose, que causam muita inflamação das articulações, podem ter uma piora dos seus sintomas — completa.

Tratamento Pós-Covid em Santa Catarina

Assim como Márcio, diversas pessoas foram afetadas pela Covid-19. Segundo o Ministério da Saúde, não existem estimativas nacionais sobre o impacto da doença a longo prazo.

Atualmente, em Santa Catarina, a maior parte dos pacientes em tratamento pós-covid são atendidos pela Atenção Primária em Saúde, de acordo com a Secretaria de Estado da Saúde (SES).

Os serviços de referência para casos mais graves, na atenção especializada, estão sob a gestão dos municípios. Mas há uma parcela de atendimentos nos serviços de atenção especializada para reabilitação pós-covid, que recebem custeio mensal da SES. Eles vão de casos graves a moderados, e podem ser encontrados nas seguintes regiões:

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Referência para a Serra Catarinense

  • Município gestor: Lages;
  • Local de atendimento: Universidade do Planalto Catarinense (UNIPLAC).

Referências para Meio Oeste, Alto Uruguai Catarinense e Alto Vale do Rio do Peixe

  • Município sede: Joaçaba;
  • Local de atendimento: Universidade do Oeste de Santa Catarina (UNOESC).

Referência para regiões do Extremo Sul e Carbonífera

  • Município gestor: Criciúma;
  • Local de atendimento: Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC).

Referência das regiões da Foz do Rio Itajaí

  • Município sede: Itajaí;
  • Local de atendimento: Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI).

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Na região da Foz do Rio Itajaí, somente em 2023, foram atendidos cerca de 40 pacientes. O tempo de reabilitação no programa dura de dois a quatro meses. Os pacientes são atendidos, em média, de duas e a três vezes por semana.

A equipe é formada por médico, enfermeiro, fisioterapeuta, educador físico, fonoaudiólogo, psicólogo, nutricionista e assistente social. Este é o padrão de profissionais disponibilizados nas demais instituições para o mesmo tipo de atendimento.

Coleta de dados nacional de pacientes pós-covid

Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que 20% das pessoas infectadas, independentemente da gravidade do quadro, desenvolvem condições pós-covid. Para ter um recorte melhor e mais preciso, o Ministério da Saúde decidiu dar sequência em uma pesquisa em todos os estados do Brasil para avaliar sequelas da Covid-19 na população.

Intitulada “Epicovid 2.0: Inquérito nacional para avaliação da real dimensão da pandemia de COVID-19 no Brasil”, a coleta de dados deve durar entre 15 e 20 dias, conforme expectativa do Ministério. A pesquisa usará informações de 250 cidadãos de todo o Brasil.

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Nas fases anteriores da pesquisa, realizadas em 2020 e 2021, o Epicovid-19 serviu para traçar um retrato da pandemia, que auxiliou cientistas e autoridades em saúde pública a compreender melhor os efeitos e a disseminação do coronavírus no país.

Entre as principais conclusões, o estudo apontou que a quantidade de pessoas infectadas naquele momento era três vezes maior que os dados oficiais, com os 20% mais pobres tendo o dobro de risco de infecção em relação aos 20% dos brasileiros mais ricos. 

Confira as fotos da pandemia em SC

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