Você pode nunca ter ouvido falar, mas com certeza conhece alguém que já viu, pelo menos uma vez, um vídeo deles na internet. O grupo Porta do Fundos é, nos últimos dois anos, o maior fenômeno da internet. Cada esquete postada por eles no YouTube tem, no mínimo, 1 milhão de visualizações.

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O canal já ultrapassou a marca de 6,1 milhões de assinantes. Eles tocam em assuntos polêmicos sem o menor pudor, brincam com coisas do dia a dia e conquistaram muita gente. Além, claro, de criar outro número enorme de críticos.

Nesta semana, alguns integrantes estiveram em Balneário Camboriú, onde participaram de um bate-papo com os fãs, no Atlântico Shopping. Centenas de pessoas, na grande maioria adolescentes, se espremiam e ficaram atentas para cada resposta dada por eles. Hoje, os atores percebem que são tratados como celebridades.

Estiveram na cidade o diretor Ian SBF, o roteirista Gabriel Esteves, e os atores Luis Lobianco, Julia Rabello e Letícia Lima. Antes de conversar com os fãs, eles deram uma série de entrevistas aos jornais da região. Bem humorados, faziam piadas a todo o momento, mas também sabiam a hora certa de falar sério.

A intimidade do grupo ficava evidente, quando um completava a frase do outro ou até mesmo pelo fato de se referirem a Antônio Tabet (um dos mentores do grupo) apenas como Kibe, pelo fato dele ser também o responsável pelo blog Kibe Loco, talvez o primeiro site de humor a ganhar projeção nacional.

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Aos fãs, responderam sobre quase tudo, desde a origem do nome do grupo e até mesmo sobre o limite do humor. Depois, fizeram uma sessão de autógrafos do livro lançado recentemente e que leva o nome do grupo. Afinal, foi por causa dele que os cinco estiveram em Balneário Camboriú. Confira abaixo os principais trechos da conversa.

Vocês começaram como um programa com vários quadros e logo depois mudaram para a publicação das esquetes separadamente. Quando vocês perceberam que essa mudança seria necessária?

Ian SBF – Não foi uma decisão tomada assim tão rápido. Durante os quatro primeiros meses fizemos o programa semanal. Mas começamos a perceber que alguns quadros não tinham a repercussão que a gente esperava. Tem uns quadros ótimos que a gente fez e que pouca gente ainda lembra. Então percebemos que separados funcionaria melhor. Foi uma questão de tentativa, erro, tentativa, erro, um processo natural.

Algum motivo especial por escolher divulgar os vídeos sempre segunda e quinta-feira, às 11h?

Ian – Foi uma ideia do Kibe (Antônio Tabet). Como ele conhece bem a internet e sabe como funciona, achou que segunda e quinta seriam bons dias para publicar e as coisas deram certo.

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Como funciona o processo de criação dos quadros? Quando se escreve, já se pensa no ator que vai interpretar cada personagem?

Gabriel Esteves – Eu particularmente não penso. Acho ruim isso, até. Quem escreve somos eu, o (Fabio) Porchat, o Kibe e o Gregório (Duvivier). Aí, quando o roteiro é aprovado, escolhemos o elenco. A primeira opção é com quem se adequa mais ao papel. Depois tem a questão de disponibilidade de agenda, por exemplo, que pode gerar algumas trocas.

Um dos vídeos mais comentados é o Sobre a Mesa (é o segundo mais visto do canal, com mais de 11 milhões de visualizações), onde o texto é baseado praticamente em cima de um monte de palavrões falados pela personagem interpretada por você, Julia. Como foi esse processo? O que o teu pai achou disso tudo?

Julia Rabello – Meu pai só disse: “Minha filha”. Foi o meu segundo vídeo no Porta. O primeiro foi quando ainda era programa e não teve a mesma visibilidade. Ele se chamava Cocaína, para você ver que eu comecei leve. Eu sou muito brincalhona. O Sobre a Mesa foi gravado lá em casa e realmente foi muito divertido na hora. Só uma cabeça como a do Kibe para pensar nisso (ele é o autor do roteiro). Mas depois quando eu vi o vídeo pronto eu me dei conta e falei “hã, Senhor Deus, o que que é isso?”. O que me assustou também foi o primeiro contato que eu tive com os comentários na internet. Mesmo assim, acho que o Sobre a Mesa foi um divisor de águas para mim, posso dizer que esse quadro me abriu a porta dos fundos.

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E como está a carreira de vocês, mulheres, depois do Portas dos Fundos? As revistas masculinas começaram a procurar mais vocês?

Leticia Lima – Mais ou menos. É algo bem tranquilo.

Julia – Não aumentou, para mim apareceu. Não tinha alguém todo mês de uma revista me ligando. Mas como tudo, com mais pessoas conhecendo nosso trabalho, aumentou nossa visibilidade. Aumentou o público, a procura da imprensa em saber mais da gente e até a procura desse tipo de revista.

Além do Porta dos Fundos, vocês começaram a produzir outros vídeos, como o Portaria (onde dois atores comentam a repercussão dos quadros de acordo com o comentário de quem assistiu). Como vocês sentiram essa necessidade?

Ian – Fui com o Fábio a uma feira e percebi que a gente estava fazendo internet com modelo parecido com a tevê. A gente não estava interagindo, que é algo que a internet pede. Ou seja, a gente tentava fugir da TV, mas estava fazendo o mesmo que eles.

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Falando em comentários, como é lidar com isso? Afinal, muita gente xinga vocês…

Leticia – O bom é evitar ler. Há uns dois anos era legal ler, mas agora não acho mais.

Luis Lobianco – Eu adoro ler. Tem alguns comentários que eu lembro.

Julia – Sério?

Ian – Sim, ele até lembra de alguns.

Julia – Tem um que eu vi que é inesquecível para mim. Foi em um fórum que abriram para falar sobre o Porta. Um dos comentários era: “quem foi que disse que essa Julia Rabello é bonita? Sou muito mais a Letícia”. Mas eu nunca disse que era bonita. Eu estava me divertindo muito lendo. Até chegar nesse: “cara de velha, voz de homem, sem mais”. Aí eu parei na hora. Não quero saber. (risos)

Leticia – Engraçado, eu sempre achei a tua voz legal. Quando te conheci, a primeira coisa que eu pensei, foi: que voz f***.

Luis – Eu já li coisas do tipo: “ontem vi esse escroto passar na minha rua, boladão. Adoro ele” (risos). Outro já disse que eu cheguei a curar uma doença porque a fazia rir. Já me compararam com um cara que cria jogos de videogame, nem sei quem é.

E como é essa interação com o público, como essa de hoje? Tem alguns engraçadinhos que passam dos limites ou até mesmo que xingam vocês?

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Luis – As pessoas são bem mais corajosas na internet, né.

Ian – Isso é um “quero ver falar na minha cara”? (risos)

Luis – Sim, “quero ver falar na minha cara”. Mas quem vem encontrar a gente está cheio de amor para dar.

Julia – Não acredito que alguém vai sair de casa para vir até aqui ver a gente e nos xingar. Era só o que faltava.

Depois do livro, quais os próximos projetos do Porta dos Fundos?

Ian – Vamos lançar um DVD em dezembro. No ano que vem vamos fazer o filme, que está em fase de produção do roteiro. Em 2014, vamos começar a filmar, mas ainda não é possível dizer quando lançar. Também temos planos para uma série e de criar jogos para celular.