Por Amanda Busato

Jornalista e fundadora da tecnologia social Inturma

Em Florianópolis para participar da 5ª edição do Festival Social Good Brasil, que trará tendências do futuro para um público de mais de 5 mil pessoas, Darlene Damm, americana que é Diretora do Prêmio de Desafios Globais da Singularity University, respondeu à coluna antes de subir ao palco nessa sexta-feira (4). Na instituição criada na Califórnia com apoio da NASA e do Google para resolver os problemas do mundo, Darlene trabalha com tecnologias exponenciais enquanto alternativas para gerar impacto social.

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Vivemos em uma das melhores cidades no Brasil para empreender, o que se deve também ao ecossistema forte de inovação que a cidade oferece. O que o Vale do Silício tem feito para incluir empreendedoras mulheres?

Essa é uma questão muito importante e estamos lutando muito por ela no Vale do Silício. Na Singularity University, nosso objetivo para o principal programa de verão é ter 50% de mulheres, e batemos essa meta nos últimos anos. Isso é inédito por lá – embora eu não saiba as estatísticas exatas, acredito que a maioria das empresas, aceleradoras e startups têm entre 10 e 30% de mulheres em seu quadro de colaboradores. Entretanto, atualmente vemos várias mulheres empreendedoras abrindo empresas na área espacial, de tecnologia block chain (estrutura de dados que representa uma entrada de contabilidade financeira ou um registro de uma transação), realidade virtual, inteligência artificial, biotecnologia, entre outras. Nesse sentido, as empresas e instituições simplesmente precisam mudar e reconhecer que as mulheres têm talento e serão bem sucedidas na área de tecnologia.

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Quais lições vocês aprendeu na sua trajetória como mulher empreendedora?

Ao longo da vida, as mulheres são recompensadas por seguir as regras e punidas por quebrá-las. Estamos nos saindo muito bem em áreas que precisam que regras sejam seguidas – como frequentar a universidade, tornar-se médicas e advogadas, crescer como executivas ou abrir pequenas empresas nas áreas de artesanato ou beleza, por exemplo. Isso requer trabalho duro, mas segue um caminho determinado e um conjunto de regras conhecidas. O empreendedorismo que falo é o oposto. Trata-se de quebrar as regras. Você viola os sistemas atuais e constrói algo melhor que ninguém acredita ser possível. Como mulher, você tem que se tornar confortável em quebrar as regras e ouvir pessoas dizendo que a sua ideia nunca dará certo, ou até mesmo em ouvir pessoas punindo você por isso, e fazer do mesmo jeito.

Quais dicas você daria a empreendedoras mulheres que estão inovando no setor tecnológico?

Comece a ensinar a si mesma sobre as tecnologias mais inovadoras e então abra a sua própria empresa e faça suas próprias regras. Mesmo que outras pessoas possam ajudar nessa jornada, no fim das contas, você tem que se colocar naquela posição de poder e protegê-la, independentemente do fato de outras pessoas acreditarem em você ou quererem que você esteja nessa posição. Como mulheres, aprendemos a receber bem informações e conselhos alheios – algo que pode ser muito útil no desenvolvimento de um produto ou no gerenciamento de uma empresa, por exemplo – mas, às vezes, precisamos saber quando não escutar aos outros e apenas testarmos nós mesmas as nossas ideias sem pedir conselhos e opiniões, realmente construindo-as para ver o que acontece.

No Festival Social Good, você vai falar sobre habilidades do futuro. Pode nos adiantar algumas das competências que precisamos desenvolver para lidar com as novas tecnologias e com o futuro que nos espera?

As pessoas precisarão de um conjunto de habilidades sociais e éticas muito mais sólido. Elas também precisam começar a pensar em como a tecnologia pode resolver problemas e fazer do mundo um lugar melhor.

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No Brasil, a terceira temporada da série britânica Black Mirror, veiculada pela Netflix, está dando o que falar nas redes sociais. Para você, existe alguma forma de prever e até mesmo prevenir consequências ruins de tecnologias que estão sendo criadas?

A tecnologia em si é neutra. Você pode usar um drone para entregar um medicamento emergencial ou uma bomba. Você pode usar as mídias sociais para arrecadar milhões de dólares para curar uma doença ou para recrutar terroristas. Você pode usar a biotecnologia para curar um vírus ou disseminá-lo. Trata-se de como nós, como humanos, escolhemos usar a tecnologia. No passado, quando a tecnologia era mais cara, apenas algumas poucas pessoas tinham acesso a ela, então era menos perigoso e mais fácil de regulamentar. A tecnologia exponencial é diferente, pois o custo dela cai tão rapidamente que bilhões de pessoas podem acessá-la.

Precisamos então transformar nossos sistemas educacionais de forma a priorizar o ensino de ética, empatia, responsabilidade social e o uso da tecnologia para o bem?

Acredito que, ao passo que robôs assumirem mais trabalhos convencionais, o propósito da educação deveria mudar para nos ensinar a ser pessoas melhores e ajudar uns aos outros. Se você pensar nas pessoas em quem mais confia no mundo, você provavelmente acredita que elas não prejudicariam você ou outras pessoas com a tecnologia, não é mesmo? É possível que as famílias e escolas ensinem as crianças a se importar com os outros e a encontrar maneiras positivas de resolver problemas. É importante fazermos isso agora, sendo que as tecnologias exponenciais estão surgindo com rapidez.

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Na sua opinião, como indivíduos e organizações podem se preparar para construir um futuro melhor?

A melhor maneira de fazer isso é realmente tentar resolver um problema com o qual você se preocupa. Você pode fazer isso sozinho, com amigos, com a sua empresa e colegas de trabalho, com sua família, com uma igreja ou clube, etc. Todos nós vemos problemas ao nosso redor diariamente, eles podem estar no nosso bairro ou nos noticiários internacionais. Em seguida, comece a aprender sobre esse problema, estude sobre ele, faça perguntas e aja para tentar resolvê-lo. Você aprenderá muito e irá progredir muito mais que espera. Foi assim que muitos dos grandes empreendedores sociais começaram, eles viram um problema que realmente os incomodava e tentaram resolvê-lo.

Festival Social Good Brasil

Sexta (4) das 13h às 19h40, e sábado (5), das 16h30 às 19h na Acate (SC-401, km 4, Florianópolis).

É possível acompanhar as palestras pelo site sgb.org.br/festival-sgb