Santa Catarina chegou a esta segunda-feira (22) com os leitos públicos de UTI para crianças totalmente lotados em cinco de suas sete regiões de saúde. Das 121 vagas pediátricas ativas no estado, 118 estão ocupadas. A gestão Jorginho Mello (PL) afirma que a rede é pressionada por casos de dengue e doenças respiratórias, agravadas pela baixa cobertura vacinal, argumento que havia sido exposto pelo então governador Carlos Moisés (Republicanos) há cerca de um ano, com crise parecida nos hospitais.

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Entre maio e julho de 2022, as alas infantis também conviveram com 100% de lotação. Naquela ocasião, que teve até filas de espera por uma vaga de UTI, a gestão Moisés decretou situação de emergência, o que viabilizou a abertura de 114 novos leitos hospitalares no estado.

A Secretaria Estadual de Saúde (SES) afirma que aqueles leitos abertos emergencialmente foram mantidos e que a rede tem absorvido os pacientes até aqui sem filas. Atualmente, Santa Catarina já tem decreto estadual de emergência em saúde em vigor, publicado em 28 de março para que seis hospitais da Grande Florianópolis pudessem ser reformados.

De onde vem a crise?

Chefe do departamento de saúde pública da UFSC, o pesquisador Rodrigo Moretti diz que a alta das doenças respiratórias já é esperada para essa época de cada ano, com a queda das temperaturas, e que essa não é a única razão para a crise das UTIs. O problema é, na verdade, contínuo e só fica mais evidente quando há maior pressão sobre a rede hospitalar, o que ocorre agora.

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A crise parte, ainda segundo Moretti, de um histórico de baixa formação de profissionais especializados para atuar em UTIs e de investimentos abaixo do necessário ao longo dos anos, o que depende não só do governo estadual, já que a gestão do Sistema Único de Saúde (SUS) é tripartite — os municípios e o governo federal, hoje sob gestão Lula (PT), também são responsáveis.

— Isso é previsível. Quando chega o outono e o inverno, vai haver essa pressão. Entendo que há dificuldade do governo estadual, mas o governo federal também não tem linhas de financiamento para isso há muito tempo. O problema diminui em alguns períodos, mas ele não desaparece — diz.

— Existe um déficit na atenção secundária e terciária no Brasil, e não só em Santa Catarina, tanto no atendimento público quanto no privado há um tempo, não só em termos de equipamentos e de infraestrutura, mas também de profissionais. Não há especialistas. Particularmente em relação à pediatria, são abertas vagas, mas elas não são ocupadas — completa Moretti.

No ano passado, na ocasião em que anunciou a intenção em abrir emergencialmente novos leitos, a SES se viu na sequência com dificuldades em colocar a medida em prática mesmo com R$ 40 milhões à disposição para isso, justamente devido à falta de profissionais no mercado.

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Soluções emergenciais

Moretti diz que a solução emergencial para a crise não deveria ter como principal aposta a abertura de novos leitos, o que poderia levar meses para ocorrer por depender de investimentos volumosos e de credenciamento junto ao SUS.

O ideal para a situação, de acordo com o especialista em saúde pública, é fortalecer a atenção primária, das Unidades Básicas de Saúde (UBSs) e Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs), para que os casos não sejam agravados a ponto de precisarem de internações em hospitais e nas UTIs.

— A organização do SUS em Santa Catarina nos favorece a lidar com esse problema. O estado está melhor organizado e também é menor [do que outros]. Em relação à situação imediata, [a solução] tem que passar pela prorização de casos e pela liberação dos leitos, para que não se compliquem. É o que dá para fazer: um plano emergencial de reorganização, para minimizar a ida à atenção secundária e terciária.

O que o governo planeja

Na noite desta segunda, o governador Jorginho se reuniria com a secretária de Saúde, Carmen Zanotto, para discutir a eventual abertura de novos leitos.

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Conforme adiantou o colunista do NSC Total Ânderson Silva, a gestão estadual avalia utilizar espaços ociosos e não descarta, em último caso, transferir pacientes para outros estados.

A SES diz que o Hospital Materno Infantil Santa Catarina (HMISC), em Criciúma, organiza a conversão de leitos neonatais em unidades pediátricas, enquanto o Hospital Regional de São José (HRSJ), na Grande Florianópolis, terá mais cinco leitos de UTI até o fim da semana e pode ganhar uma nova emergência.

Em Florianópolis, o Hospital Infantil Joana de Gusmão deve ganhar mais 20 leitos de UTI e uma nova emergência, enquanto a Maternidade Carmela Dutra tem sob avaliação a ampliação dos leitos de UTI. Além disso, a secretária Carmen Zanotto atua junto aos hospitais contratualizados para tentar ampliar o número de vagas.

“Reiteramos que, caso o número de solicitações de leitos de UTI exceda a disponibilidade de leitos SUS disponíveis nas macrorregiões, e havendo necessidade, a Central Estadual de Regulação de Internações Hospitalares (CERIH) faz a busca na rede privada, realizando a contratação de leitos para suprir a demanda”, aponta a SES, que faz apelo pela melhora na cobertura vacinal.

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O NSC Total tentou contato também com o Ministério da Saúde, mas ainda não obteve retorno. No início do mês, a pasta havia liberado R$ 5,5 milhões para financiar novas UTIs em seis cidades catarinenses.

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