Os novos casos de afogamento registrados nesta quinta-feira em Santa Catarina, com o resgate de um turista na praia de Canasvieiras, em Florianópolis, e a morte de um jovem de 20 anos em Braço do Norte, no Sul do Estado, reforçam o alerta de prevenção para os banhistas que procuram se refrescar no interior ou no Litoral de Santa Catarina na temporada de verão.

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A ocorrência se junta a outros casos que despertam preocupação. Somente nos cinco primeiros dias da estação mais quente do ano, ao menos sete mortes por afogamento foram registradas em Santa Catarina.

Na terça-feira (24), um turista gaúcho de 51 anos morreu afogado na praia de Canasvieiras, no Norte da Ilha. Um dia depois, nesta quarta (25), um jovem de 17 anos perdeu a vida em um afogamento na praia de Ubatuba, em São Francisco do Sul, no Litoral Norte.

Outros três casos também foram registrados em uma cachoeira, em Nova Erechim, no Oeste, em um rio, em Araranguá, e uma lagoa, em Jaguaruna, ambas no Sul do Estado. Nesta quinta, um jovem de 20 anos morreu em um rio de Braço do Norte, também na região Sul.

Segundo o Corpo de Bombeiros Militares de SC, de 21 a 25 de dezembro, foram três mortes em água doce e três em água salgada. Em outros três casos, as vítimas de afogamentos foram socorridas e precisaram passar por recuperação.

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Foram feitos ainda outros 203 salvamentos, com menor gravidade envolvida, e 344,6 mil ações preventivas. A reportagem ainda não teve acesso ao número de casos no mesmo período de 2018.

Mas afinal, por que Santa Catarina registra tantos afogamentos? O Corpo de Bombeiros de SC não esconde a preocupação com os casos neste início de verão.

O coronel Cesar Assumpção Nunes, do Corpo de Bombeiros de SC, considera que não se trata de falta de prevenção. Ele atribui os casos a fatores como teimosia de banhistas, que às vezes descumprem a orientação dos guarda-vidas, e também ao consumo de bebidas alcoólicas por parte dos banhistas.

– Com toda a prevenção que se faça, as pessoas têm que ajudar. Se não respeitar a sinalização e as orientações, não vai adiantar. As pessoas têm que obedecer a norma – apela.

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Segundo ele, os casos desses primeiros dias de verão também não ocorrem por causa da condição do mar, que segundo ele está ajudando. A busca por locais de banho de alto risco, com águas profundas, ou sem acompanhamento de guarda-vidas ou áreas particulares, como o local de morte de dois irmãos que se afogaram em Jaguaruna, no Sul do Estado, é outro tipo de conduta citado pelo coronel como fator que aumenta o risco de novos afogamentos.

O oceanógrafo do sistema Epagri/Ciram, Carlos Eduardo Salles de Araújo, também atribui o alto índice de afogamentos nessa época a condutas inadequadas dos banhistas como o excesso do uso de álcool e a falta de conhecimento do mar, sobretudo por parte de turistas de outros Estados.

Nas praias, correntes de retorno são o maior risco

No entanto, uma segunda causa apontada pelo oceanógrafo da Epagri/Ciram para esses afogamentos é técnica: as correntes de retorno.

Ele explica que as ondas nem sempre chegam à praia em uma linha paralela com a orla – às vezes, chegam formando um ângulo, em uma espécie na diagonal. Isso cria uma espécie de canal que leva as águas de volta para o mar. Nessas correntes, o mar costuma ser mais fundo e a cor, por isso, mais escura.

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Em geral, no mar, o banhista consegue perceber apenas que está sendo puxado para os lados. Mas é quando duas correntes laterais dessas se juntam que se forma a corrente de retorno, puxando o banhista para o mar.

– Normalmente as pessoas se assustam, porque nessa área da corrente é mais fundo e não costuma dar pé, e não conseguem mais sair. A orientação é evitar as correntes, que são sinalizadas com bandeiras, mas, se acabar caindo em uma delas, nunca nadar contra a corrente, porque você dificilmente vai vencer. É recomendado tentar nadar lateralmente ou para o fundo, porque no final da corrente esse movimento para – explica Carlos Eduardo.

Em Canasvieiras, suspeita envolveu alargamento da faixa de areia

Turista foi socorrido na tarde desta quinta-feira, em Canasvieiras
Turista foi socorrido na tarde desta quinta-feira, em Canasvieiras (Foto: Arcanjo 01, Divulgação)

No caso dos registros na praia de Canasvieiras, uma das suspeitas era de que a obra de alargamento da faixa de areia pudesse ter criado “buracos” ou mudado a dinâmica do mar a ponto de provocar afogamentos dos banhistas, como o que vitimou o turista na terça-feira (24).

A prefeitura de Florianópolis, técnicos da Secretaria de Infraestrutura, a empresa responsável pela dragagem e os bombeiros se reuniram na manhã desta quinta-feira para trocar informações sobre a dinâmica do mar no local.

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Após a reunião, a prefeitura emitiu nota afirmando que os indícios não demonstram a relação do afogamento com a obra de engordamento da faixa de areia.

A prefeitura se baseia na análise do oceanógrafo Rafael Bonanata, especialista em engordamento de faixa de areia e que trabalhou no projeto. Segundo ele, em vez da formação de buracos ou poços, o que poderia ocorrer no local seria a deposição, e não a erosão.

A empresa DTA Engenharia, responsável pela obra, também sustentou que não haveria mudanças drásticas de profundidade ao longo do perfil da praia.

O coronel Cesar Assumpção Nunes, do Corpo de Bombeiros de SC, considera prematuro concluir que a obra de alargamento da faixa de fato tenha contribuído com o afogamento desta semana. Ainda assim, o relatório de investigação de afogamento (RIA), que tradicionalmente é feito após os casos, deve analisar essa e outras hipóteses que podem ter provocado o afogamento.

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– Em conversa com a empresa, não parece que seja o caso (de que a obra tenha aumentado o risco). Mudou a dinâmica marinha, claro, mas ela muda mesmo sem obra. A toda hora ela muda, e por isso a memória da praia também muda para o banhista. Por isso a importância da prevenção. Não é o mar que tem que se adaptar ao banhista, e sim o banhista que tem que se adaptar ao mar – alerta o coronel.

Polêmicas à parte, o Corpo de Bombeiros reforçou o número de guarda-vidas em Canasvieiras e, na noite desta quinta-feira, fez nova reunião para discutir possíveis ações para reforçar a prevenção a afogamentos no local.

Afogamentos em SC, de 21 a 25 de dezembro de 2019:

Mortes em água salgada: 03

Mortes em água doce: 03

Afogamentos com recuperação em água salgada: 03

Salvamentos: 203

Ações preventivas: 344.607

Fonte: Corpo de Bombeiros de SC