Três vezes por semana André entra na água e nada por mais de uma hora em um clube de Florianópolis. Braçadas ritmadas ao lado de crianças que aprendem as técnicas da natação e de adultos com fôlego renovado. O ritmo já não é mais o mesmo, mas o ritual é igual há quase sete décadas. Aos 80 anos, é na água que ele encontra os caminhos para vencer a idade e manter a vitalidade enquanto treina e ainda compete em torneios de natação no Brasil e no exterior.

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Engenheiro aposentado, André Roger Boutigue é um exemplo dos moradores de Santa Catarina que rompem as barreiras da idade como nadadores nas raias. Conforme um estudo recém-divulgado pelo IBGE, os catarinenses têm a maior expectativa de vida do país e, em média, vivem três anos a mais em relação aos brasileiros.

Nascido na França, André mora no Brasil desde os oito anos de idade. Quando ele tinha 10 dias de vida, o pai foi convocado para a guerra e acabou retornando ferido, o que motivou o pedido de transferência na empresa automotiva em que trabalhava. O Brasil foi o destino e, hoje, André mora em Florianópolis com a esposa e uma filha. Manteve a natação na rotina durante a vida inteira, como lazer e em competições. Hoje ainda disputa campeonatos na categoria de homens entre 80 e 84 anos, um nível em que poucos atletas chegam e, muitas vezes, André precisa nadar contra os mais jovens.

— Vou nadar até onde der. Se não nadar, não vou ter o que fazer. O segredo é não parar, se parar já era. Eu vou levando enquanto conseguir — diz.

Sem parar, André encontrou nas braçadas razões para manter uma vida saudável e disposta, e também conhecer pessoas e viajar. Pelas competições de natação, viaja para provas em piscinas ou até travessias aquáticas.

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– Me mantenho saudável com a natação, uma coisa que nunca fiz foi regime. Como o que gosto – brinca.

É com índices altos de qualidade de vida e atividades saudáveis como as da rotina de André que os catarinenses alcançaram, segundo o levantamento do IBGE, a média de 79,7 anos de longevidade – enquanto a do Brasil é de 76,3. Entre as mulheres a expectativa de vida é ainda maior, atingindo os 83 anos em média. Outro ponto levantado e que destaca Santa Catarina é a expectativa de vida da população mais velha. Quem chegar aos 65 anos, por exemplo, na média deve viver pelo menos até os 85 segundo a pesquisa.

André Boutigue
André nada desde os 10 anos de idade (Foto: Diorgenes Pandini / Diário Catarinense)

"É importante inserir o idoso no meio em que ele vive", diz médico geriatra

O envelhecimento populacional é uma realidade no Brasil (e em Santa Catarina) e as iniciativas privada e pública não podem dar as costas a essa realidade. A afirmação é do médico especialista em geriatria Roberto Esmeraldino, que aponta quatro fatores que influenciam no resultado positivo de SC em longevidade:

– Santa Catarina tem essa cultura de conscientização de cuidar da saúde, de envelhecer com mais qualidade de vida. Há também o avanço da medicina, com meios de tratamento e diagnósticos mais modernos, e o acesso à informação em SC é mais disseminado. Por fim, apenas de todos os problemas, o nosso Estado tem uma rede de saúde pública mais abrangente em relação a outros estados.

Para Esmeraldino, é essencial que as políticas públicas incentivem a inserção do idoso na sociedade em nível profissional, de saúde, social e cultural. Assim, as cidades podem se tornar mais amigáveis ainda para a população mais velha. Idoso, lembra o geriatra, é considerada a pessoa a partir dos 60 anos, sendo que pela nova previdência os brasileiros vão trabalhar ao menos até os 65 anos. Assim, o especialista prevê uma terceira idade cada vez mais ativa e com necessidades na sociedade.

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– Antigamente era só botar o idoso no baile dançando. Isso mudou. Não é só falar em saúde, tem que pensar até nas aposentadorias para envelhecer melhor. É uma sopa de letrinhas para formar um bom caldo. Quanto mais cedo para se cuidar melhor, mas nunca é tarde para começar.

Estado faz parte de programa nacional de políticas para a terceira idade

Uma população que cada vez vive por mais tempo demanda também por cidades mais preparadas para atender a esse público. Desde maio de 2018 Santa Catarina faz parte da Estratégia Brasil Amigo da Pessoa Idosa, um programa do governo federal voltado ao envelhecimento ativo, saudável, cidadão e sustentável da população idosa – especialmente na faixa de vulnerabilidade social. Cada município tem etapas para cumprir dentro do programa e o Estado acompanha o desenvolvimento.

– Acreditamos que para implantar a Política de Assistência ao Idoso, em primeiro lugar há a necessidade de se conhecer a realidade do idoso em Santa Catarina, e para isso estamos realizando diagnóstico por meio de um levantamento nos sistemas disponíveis para obter informações completas sobre os idosos que recebem o benefício do Programa Bolsa Família, bem como a quantidade de violência sofrida pelo idoso. Para nós, o foco das políticas públicas e o grande desafio é combate a violência contra a pessoa idosa e para isso precisamos promover o envelhecimento ativo e saudável – explica a gerente de Políticas para Pessoa com Deficiência e Idosos da Diretoria de Direitos Humanos da Secretaria de Desenvolvimento Social de SC, Roseane Zacchi Colasante.

Em 2017 um relatório do Instituto de Longevidade Mongeral Aegon, em parceria com a FGV, fez um ranking das cidades grandes do Brasil com melhor preparação para a terceira idade. Florianópolis ficou em segundo lugar, atrás apenas de Santos (SP), e Blumenau foi a 11ª do ranking. O Estado tem bons índices em Balneário Camboriú – que segundo o governo de SC é o município catarinense mais avançado no programa Brasil Amigo da Pessoa Idosa – e Chapecó, onde a Cidade do Idoso é um exemplo de atendimento.

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Em Florianópolis, o relatório destaca pontos positivos em quesitos de renda para os idosos e o ótimo desempenho em atividades de cultura e engajamento, além de acesso à informação. A Capital promove ações como o Floripa Feliz Idade, que incentiva ações culturais e de lazer como viagens e artesanato, além de práticas esportivas. Em Blumenau, a prefeitura cita que ao menos 6,8 mil idosos são atendidos pelo programa Pró-Idoso, com atividades específicas de cultura, lazer e esporte.

– O desafio é continuar mantendo firme a saúde básica. A pessoa só chega lá porque teve saúde, e criar novas opções de lazer, especialmente nos bairros, para manter a cidade preparada para o idoso – diz o prefeito de Blumenau, Mário Hildebrandt.

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