Estudar em outro país é enriquecedor não somente pelo contato com outras culturas e línguas, mas por vivenciar a lógica de outro mercado. Em visita a Santa Catarina na última sexta, o embaixador do Reino Unido, Alex Ellis, afirmou que o governo britânico tem interesse em triplicar o número de bolsas Chevening (veja detalhes na tabela abaixo) concedidas a brasileiros, com foco especial nos catarinenses. Confira a entrevista:
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Diário Catarinense – O senhor disse que a intenção é triplicar o número de brasileiros com bolsas Chevening e que os estudantes catarinenses são muito visados. Por que esse interesse?
Alex Ellis – Temos hoje cerca de 1.400 ex-bolsistas Chevening no Brasil: 40% são de São Paulo, 20% do Rio e 20% de Brasília. Acreditamos que existem inúmeros talentos com potencial de liderança em outras regiões do Brasil que podem se beneficiar de uma bolsa como o Chevening e estamos trabalhando para chegar neles. Os estudantes catarinenses fazem parte desse grupo já que o estado possui uma vocação para ser um pólo no Brasil de Tecnologia e Inovação, como pude conferir durante a minha visita na semana passada em Florianópolis.
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DC – Em agosto, uma universidade inglesa criticou o descomprometimento de brasileiros do Ciência sem Fronteiras. Como o país vê nossos estudantes?
Ellis – Os estudantes brasileiros são muito bem vistos e recebidos pelas universidades britânicas. O programa como um todo é um grande sucesso e o Reino Unido é o segundo destino mais escolhido em geral e o primeiro por alunos de pós-graduação, tendo recebido até agora mais de 8.500 alunos de graduação, doutorado e pós-doutorado. Temos algumas das melhores universidades do mundo – o último ranking do QS coloca 4 universidades britânicas entre as 6 melhores do mundo. Além da qualidade no ensino, para o aluno intercambista é uma experiência multicultural única e enriquecedora. Esperamos continuar recebendo cada vez mais estudantes brasileiros no Reino Unido, seja pelo Ciência sem Fronteiras ou não, e esperamos ter cada vez mais britânicos vindo estudar no Brasil também. Temos muito a ganhar com a cooperação científica entre os dois países – pesquisas publicadas por pesquisadores brasileiros e britânicos, em parceria, tem um impacto três vezes maior do que aquelas publicadas somente por brasileiros. O número de estudantes tem crescido muito rapidamente nos últimos dois anos. É natural que você tenha um ou outro problema como no caso da Universidade de Southampton, mas a avaliação global é muito positiva.
DC – Quais outros programas o senhor recomenda aos estudantes de SC que tenham interesse de cursar universidade no Reino Unido?
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Ellis – Não temos um programa centralizado voltado para a graduação, mas as diferentes universidades oferecem programas para brasileiros. Para ajudar os estudantes a iniciar essa pesquisa, nós criamos o App Guia Estude no Reino Unido (disponível na Google Play) que te ajuda a identificar a universidade, curso e cidade que melhor cabe com seus interesses, além de informações sobre bolsas e vistos. O Chevening é um programa de bolsas de estudo para mestrado financiado pelo Ministério das Relações Exteriores e organizações parceiras. A bolsa Chevening cobre desde as despesas de passagem, visto, até as taxas da universidade e incluindo uma ajuda de custo mensal. Temos também a Global Innovation Initiative: um projeto em conjundo dos governos do Reino Unido e dos Estados Unidos, em parceria com o Institute of International Education e o British Council que apoia o fortalecimento multilateral de pesquisa entre instituições de ensino superior norte-americanas, britânicas e brasileiras. São aceitos projetos de pesquisa na área de ciências naturais e exatas, tecnologia, engenharias e matemática e que tenham uma abordagem global.
DC – Quais os processos burocráticos e os pré-requisitos necessários para um estudante brasileiro se graduar no Reino Unido?
Ellis – Os requerimentos e pré-requisitos variam dependendo do curso e universidade escolhidos. O App Guia Estude no Reino Unido disponibiliza algumas dessas informações, principalemente no que se refere ao processo de vistos e nível de proeficiência de inglês. O estudante precisa, então, verificar quais os requerimentos de sua universidade de escolha com antecedência para saber exatamente quais são eles e se preparar de acordo.
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DC – Nos últimos anos, Brasil e Reino Unido têm se revezado no posto de sexta economia do mundo. Apesar da aparente paridade econômica, o Reino Unido é menor e menos populoso. O que o Brasil tem a aprender com os britânicos?
Ellis – O Reino Unido é um país diverso, multicultural e inovador. Temos tradição em várias áreas – como a educação – mas essa tradição caminha lado a lado com uma cultura altamente inovadora. Mas esse é só um lado da moeda. Nós também temos muito a aprender com o Brasil e, mais ainda, temos muito a fazer juntos. Vamos mais longe se formos juntos.
DC – A Inglaterra teve grande guinada ao apostar na economia criativa. O senhor vê como saída para as economias emergentes, como o Brasil?
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Ellis – Certamente é uma boa alternativa. Assim como no Reino Unido, no Brasil o setor de serviços tem crescido muito – e o setor criativo tem contribuído para geração de novos empregos principalmente entre a parcela mais jovem da população. Atualmente, 2.5% do PIB brasileiro vem do setor criativo. Além da geração de empregos, o setor também contribiu para um maior investimento em educação e novos cursos estão sendo ministrados em universidades públicas e privadas. O Ciência sem Fronteiras também tem beneficiado uma grande quantidade de estudantes, incentivando a troca de experiências com países como o Reino Unido, que já possuem sucesso na área. O Brasil é um país criativo por natureza e o setor proporciona melhores salários, educação e até inclusão social. Então, como disse, acredito ser uma boa alternativa.