
Um é amado. E, quando se ama de verdade, perdoar é um alívio. O outro é odiado. E quando não se ama, até a posição do açucareiro na mesa pode deflagrar uma briga de vale-tudo.
Continua depois da publicidade
Por isso Paulo Autuori seguirá em paz ainda que perca amanhã no Serra Dourada para o Goiás e fique mais longe do G-4.
Por isso Tite seguirá o seu calvário mesmo se vencer o Flamengo no Beira-Rio e se aproximar da briga pelo título brasileiro.
Continua depois da publicidade
O técnico do Inter venceu o Gauchão, a Copa Sul-Americana e se equilibra no G-4 do Campeonato Brasileiro desde a primeira rodada. Perdeu as finais da Copa do Brasil e da Recopa. Mesmo assim, embora não se possa classificar tais resultados de ruins, os colorados querem acomodá-lo na guilhotina e decepar a sua cabeça a cada má fase.
Contra Tite, um fato inquestionável: o Inter recente não apresenta evolução. Oscila demais: dá show, depois faz fiasco. E a parte do fiasco anda cada vez frequente. Assim, o torcedor, que nunca gostou dele mesmo, ganha um motivo real para desgostar ainda mais.
O técnico do Grêmio está no Olímpico há menos tempo. Foi trazido para dar o ”algo a mais” nas fases finais da Libertadores. O Cruzeiro lhe atravessou o caminho e o impediu de vencer no mais importante torneio das Américas. No Brasileirão, como não ganhava fora de casa, chegou a ouvir algumas críticas.
Algo assim muito tênue, nada comparado ao que Tite ouvirá quando o seu nome for anunciado pelo sistema de som do Beira-Rio neste domingo. Assim que ganhou do Náutico nos Aflitos veio o perdão antecipado, transformando em euforia ao manter, diante do Fluminense, o desempenho avassalador em casa. A favor de Autuori, um fato inquestionável: o Grêmio recente emite sinais de crescimento lento, porém contínuo. O que dá esperança e projeta um 2010 promissor.
Continua depois da publicidade
Só que não é o desempenho do time que motiva tanto o ódio a Tite quanto o amor a Autuori. Os colorados nunca gostaram de Tite. Os gremistas sempre amaram Autuori. Os colorados nunca deixaram de achar que Tite é gremista, por conta do trabalho que fez no Grêmio. Os gremistas lembram que Autuori fracassou justamente quando treinou o Inter, embora tenha feito sucesso em vários times. Até no Botafogo Autuori triunfou. Menos no Inter.
Os resultados apenas vão se encaixando neste sentimento original, mesmo que muitas vezes o campo ofereça motivos reais para justificar frustração ou confiança. É aí que reside, muito mais do que nas questões táticas, nas explicações a cada resultado ruim ou nas opções por este ou aquele jogador, o motivo do amor e do ódio aos técnicos no Beira-Rio e no Olímpico.
Autuori ainda é sucedâneo de Celso Roth, o que já justifica mais da metade da paixão dos gremistas. Qualquer um que viesse para o lugar de Celso Roth seria tratado com pétalas. Se este alguém é um profissional civilizado e vencedor na mesma medida, como é Autuori, vira caso de namoro para caminhar de mãos dadas no Brique.
Para resumir o sentimento original que fará os colorados vaiarem Tite no Beira-Rio e os gremistas aplaudirem Autuori no Serra Dourada em frente à TV, seja qual for o resultado: os colorados acreditam que Tite, no fundo, é gremista. E os gremistas acham que Autuori, por opção ou destino, sempre teve uma queda pelo Grêmio.
Continua depois da publicidade
Vá tirar isso da cabeça do torcedor na Província de São Pedro, se é justamente esta irracionalidade deliciosa que fez o futebol gaúcho ser respeitado no mundo inteiro.
Em tempo: quer ver mais caricaturas como a que ilustra esta coluna? Entre em http://www.gonzarodriguez.com.ar/