Está em Blumenau o ponto mais perigoso da BR-470 entre Navegantes e Apiúna. No último ano, do Km 50 ao 60, a média foi de um acidente a cada dois dias, mostrou um levantamento feito pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) a pedido do NSC Total. O trecho na região do Badenfurt foi o que mais registrou colisões em 2023, com 173 ocorrências. Para os especialistas, não é difícil entender o porquê.

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O número surge ao analisar os chamados atendidos pela PRF nos primeiros 100 quilômetros da BR-470. No ano passado foram 637 acidentes contabilizados pela corporação nesse trecho, com 727 feridos e 33 mortos.

No “raio-x” é possível perceber os contrastes de realidade na rodovia entre a Foz do Rio Itajaí-Açu e o Médio Vale: enquanto os 10 quilômetros entre os Kms 20 e 30, entre Ilhota e Gaspar, somaram 16 acidentes em todo 2023 — e nenhuma morte —, o trecho entre os Kms 50 e 60, em Blumenau, registraram no mesmo período quase 11 vezes mais colisões, com os 173 batidas e quatro mortes.

E o que os trechos mais e menos perigosos têm em comum?

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Quase nada.

Entre Ilhota e Gaspar o tráfego ocorre em pistas duplicadas, de asfalto com poucas falhas e rodeado por pasto ou plantação de arroz em boa parte da extensão. Os poucos imóveis que existem na região ficam longe da rodovia, o que faz praticamente não existir vias marginais ao longo dos 10 quilômetros.

Já no trecho mais perigoso, a realidade é totalmente oposta. O Km 50, que começa na altura da Rua 1º de Janeiro, em Blumenau, até é duplicado, mas não demora muito para as pistas simples voltarem a dominar o cenário. Ao redor, na região do Badenfurt, há muito comércio, lojas de revendas de carros, casas, postos de combustível e grandes empresas. Para o policial rodoviário federal Adriano Fiamoncini, esse conjunto de fatores ajuda a entender os números negativos:

— Ali é uma região muito urbanizada, muito industrializada, com grande volume de veículos. Moradores também utilizam a BR para pequenos deslocamentos no cotidiano. O trecho entre Blumenau e Indaial é o mais movimentado da 470 e o maior volume de veículos se reflete em um maior número de acidentes — avalia.

O especialista em Segurança no Trânsito, Emerson Luiz Andrade, complementa que a duplicação é a melhor solução para evitar acidentes, mas ela sozinha não é capaz de contê-los, já que há outros dois fatores que influenciam nas ocorrências: problemas mecânicos e comportamento humano.

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Veja o trecho menos perigoso da BR-470 na região do Médio Vale

— [No caso do Badenfurt] os acidentes estão ocorrendo não só por falha humana, mas por falha na fiscalização e sinalização. As pessoas acabam se arriscando até por falta de alternativa segura — analisa o especialista.

Isso porque boa parte do trecho mais perigoso em Blumenau está passando por obras de duplicação. O que se vê são cruzamentos ainda perigosos, muito “entra e sai”, e pistas cheias de desníveis e buracos.

— Onde tem fiscalização as pessoas não cometem infração de trânsito. Sinalização eficiente e fiscalização pontual contribuiria e muito — ressalta Emerson.

Fiamoncini concorda que um reforço policial contribuiria, mas argumenta que falta efetivo para tal. Enquanto o número de agentes federais diminui a cada mês, o de veículos nas vias só aumenta, lamenta. Assim, a fiscalização, que é uma das três medidas listadas pelo policial que ajudariam a derrubar a quantidade de acidentes, fica prejudicada. Ainda conforme o profissional, as outras duas ações seriam melhorar a infraestrutura e trabalhar educação no trânsito desde a escola:

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— Cada dia que passa são mais veículos para menos policiais. Quanto mais investimento em fiscalização, mais efetivo policial, mais investimento em infraestrutura e educação, menor o número de acidentes. Duplicação salva vidas. E ela está chegando, ainda que atrasada.

Veja fotos da BR-470

Trecho em obras

Entre os Kms 50 e 60, os quilômetros mais perigosos da BR-470 no Vale, o trecho mais perigoso fica entre o Instituto Federal Catarinense e a entrada da empresa Altenburg. Junto com a região do Celeiro do Vale, esses dois pontos concentraram 39% dos 173 acidentes em 2023.

Ambos são locais com urbanização intensa, de faixas simples e com muitos trevos, reforça Fiamoncini. A combinação “de excesso de veículos, de urbanização e de falta de logística é que resulta no número maior de acidentes” nesses pontos, avalia o policial.

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— Blumenau é a terceira cidade mais populosa de Santa Catarina, crescendo demais, espalhando-se principalmente para o outro lado da rodovia — frisa.

Em nota, o DNIT, responsável pelas obras de duplicação, disse que faz a sinalização dos trabalhos com placas, cavaletes, dispositivos luminosos e outros equipamentos, além de informar bloqueios, desvios e alterações de trânsito com antecedência aos motoristas.

Defendeu também que vai construir vias marginais e mais três viadutos na região de Blumenau. “As estruturas no Km 52 (junto à Rua Ari Barroso), no Km 54 (junto ao trevo do Celeiro do Vale) e no Km 57, no Badenfurt, vão otimizar o trânsito da região e garantir a entrada e saída segura entre a pista principal da rodovia e as ruas municipais de Blumenau, além de eliminar pontos de cruzamento em nível”, escreveu o departamento.

Trechos mais fatais

KMCidadeOnde ficaNúmero de mortes
40 a 50Gaspar/BlumenauDesde o Belchior Baixo até a entrada para o Parque das Itoupavas, em Blumenau 7
60 a 70Indaial Do limite com Blumenau até o portal da cidade6
50 a 60BlumenauPouco antes do trevo da Mafisa, perto da entrada do Parque das Itoupavas, até o limite com Indaial4

Apesar dos 10 quilômetros na região do Badenfurt serem os campeões em número de acidentes no Vale, não foi esse o ponto mais fatal da BR-470 na região em 2023. O ranking negativo foi liderado pelo trecho no entorno do antigo prédio da Dudalina, na Fortaleza, onde houve sete mortes no último ano. Na sequência, com seis óbitos, vem o trecho que corta Indaial. E então, em terceiro, está o Badenfurt, com quatro mortes.

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Nos dois primeiros, a colisão frontal liderou o tipo de acidente que mais matou em 2023. Já no Badenfurt, atropelamentos foram a principal causa, seguidos de engavetamento e saída de pista.

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