A cada 15 dias ele chega cedo ao salão na Rua Amazonas para um ritual quase sagrado: cortar o cabelo.
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– As laterais, porque no teto já não tem mais nada – brinca o barbeiro Valmor Reis e Silva, 74 anos.
Escolhe a segunda-feira porque é quando tem folga para cuidar de si e visitar a família, em Guaramirim, sua cidade natal. Sentado na poltrona do salão decorado com quadros do Vasco, espelhos ovais e uma imagem da Nossa Senhora Aparecida na janela, ele pede o corte de sempre, o tradicional. Longe da batina e com roupa de passeio, como se ninguém fosse reconhecê-lo, ele discorre sobre o fim de semana. Depois da crisma no sábado, celebrou um casamento às 23h e dormiu. Domingo foram mais duas celebrações de comunhão, dois sepultamentos em Blumenau e uma crisma em Timbó para fechar o dia.
– Trabalha muito. O homem é terrível, não para. Se domingo ele não está rezando missa, o pessoal comenta e ainda cobra. Querem ver ele no altar da Catedral – revela Valmor.
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:: Novena da desatadora de nós atrai multidão de fiéis
:: “O padre é um psicólogo, médico, amigo e pai”, diz João Bachmann
Entre uma atividade e outra, às vezes encontra um tempo para conversar com os amigos nas lanchonetes na Rua XV de Novembro. No Mini Café Mami, toma suco de limão com pouco açúcar e na Floresta Negra come o tradicional pão com bolinho. Longe dos vitrais da igreja é outro, diz a proprietária do café, Maristela Graciola. Brinca, ri e adora um zum-zum-zum.
– Tu não conheces ele. Ele é totalmente diferente do altar. Gosta de uma pegadinha, é alegre e adora contar uma piada.
Bastam algumas palavras para ele lançar um sorriso que cativa e disfarçar a timidez. Uma timidez que fez a mãe, Teresinha Bachmann, desconfiar que ele realmente se tornaria padre:
– Me perguntava: como vai ser padre assim tão tímido? Mas olha, ele foi longe. E hoje quando falo com ele sobre a vida que levou ele sempre diz estar contente.
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Líder religioso no Vale do Itajaí, hoje faz as 230 vagas para carros da Catedral São Paulo Apóstolo lotarem às 17h30min nas quintas-feiras, uma hora e meia antes da missa com a Novena de Nossa Senhora Desatadora dos Nós. A tarefa árdua fica para o operador do estacionamento Carlos Chierici, que tem de botar cones bloqueando o acesso dos veículos:
– Às 14h30min já tem gente aqui para rezar. E muitos ficam até o fim, às 21h30min, quando a missa acaba. Prestes a completar duas décadas de trabalho em Blumenau, o padre João Bachmann é um fenômeno entre milhares de fiéis. Renovou a igreja, levou comida aos necessitados na Vila Nova com a Cozinha Comunitária Bom Pastor e mantém contato diário com dezenas de pessoas que pedem conselhos e bênçãos. Homenageado pela terceira vez em 15 anos, terça-feira recebeu do deputado estadual Jean Kuhlmann a Comenda do Legislativo Catarinense.
– Ele foi escolhido porque comemora 20 anos de trajetória no ano que vem (fevereiro). Sua missão foi fortalecer e renovar a Igreja Católica em Blumenau e até hoje ele tem sucesso no que faz. Não é apenas um líder de Blumenau, mas de todo o Vale do Itajaí – explica o parlamentar.
Como um pastor que cuida das ovelhas, ele vai a pé quase que diariamente visitar enfermos nos hospitais. É parado por fiéis na Rua 7 de Setembro, mas sabe que isso faz parte da sua rotina como pai da igreja.
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– Eu me doo o dia inteiro em todos esses anos de ministério sacerdotal. Estou neste meio e faço questão de fazer isso, é minha vida e minha motivação. Acordo sendo um padre feliz e agradeço a Deus por ter essa realização vocacional. Mas o padre João também é humano, não é? – fala o homem de 47 anos.