Casas destelhadas, árvores partidas ao meio e mortes. Um cenário dramático enfrentado por cidades catarinenses nos últimos anos e que reflete a passagem de um fenômeno que, só em 2021, já atingiu três municípios catarinenses: o tornado.
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Segundo dados da Defesa Civil, três tornados atingiram Santa Catarina até o momento neste ano. Todos foram no Oeste, sendo que dois deles ocorreram no intervalo entre a semana passada e a atual. Para especialistas, é preciso pensar em politicas públicas para diminuir o impacto dos estragos, pois o fenômeno é considerado comum para a região.
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Do latim “tornare”, que significa “trovejar”, o tornado é um tipo de funil em forma de nuvem que desce até o solo. Sua parte inferior é rodeada por fortes ventos que se materializam em uma grande coluna de ar e que gira de uma forma rápida e violenta quando entra em contato com a terra.
Para medir a sua intensidade, é utilizada a escala de Fujita, que avalia a força e a potência de danos que podem ser causados. Ou seja, aqueles classificados com F0 podem destruir, no máximo, árvores e postes, porém, os de tipo F5 podem prejudicar grandes edificações.
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Classificação, velocidade dos ventos (km/h) e danos provocados
- F0: 65-115 km/h (Leves)
- F1: 115-180 km/h (Moderados)
- F2: 180-250 km/h (Fortes)
- F3: 250-330 (Severos)
- F4: 330-420 (Devastadores)
- F5: 420-530 (Incríveis)
Em 2021, o primeiro tornado em SC foi registrado no dia 29 de maio em Campos Novos, no Meio-Oeste catarinense. Com ventos de 123 km/h, casas foram destelhadas e um caminhão chegou a tombar com a força do temporal.
Quase quatro meses depois, no dia 20 de setembro, foi a vez da cidade de Guatambu, no Oeste, registrar a passagem do fenômeno. Na ocasião, casas também ficaram destelhadas, além de árvores quebradas.
O último registro ocorreu no início desta semana, em Seara, também no Oeste. Com a força dos ventos, árvores partiram ao meio. Apesar dos estragos, o tornado ficou concentrado em uma área de reflorestamento no interior da cidade.
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Segundo o meteorologista chefe da Defesa Civil de Santa Catarina, Murilo Fetta, a entrada de uma condição atmosférica foi o que contribuiu para a presença das ocorrências em um curto espaço de tempo.
— O gatilho para os fenômenos foi uma frente fria, com um escoamento de umidade e ar quente vindo da Amazônia. Isso causou as tempestades severas na região e, consequentemente, os episódios tornádicos — conta.
SC na rota dos tornados
Segundo o professor de geociências da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Lindberg Nascimento Júnior, os tornados não são fenômenos raros. Na região, há registros de ocorrências desde a década de 1950, porém, a partir do final do século XX houve um crescimento nas notificações.
— Santa Catarina está localizada na rota habitual de fluxos atmosféricos que induzem a formação e a origem desses fenômenos [os tornados]. No nosso Estado, de fato, o setor Oeste é o mais suscetível, devido o fator orográfico [quando uma massa de ar entra em contato com um relevo] provocado pela organização das serras — explica.
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Geralmente, o tornado ocorre quando o ar frio ou polar, das latitudes médias, avança pela região e se encontra com uma massa de ar quente e seco. Isso faz com que ocorram instabilidades na atmosfera, que favorecem a condição para tornados e tempestades.
— Na nossa região, grande parte desses fenômenos são associados aos sistemas frontais, como linhas de instabilidade, por exemplo. Esse caráter também mostra que eles podem ocorrer em qualquer época do ano, com destaque para primavera e verão — salienta o professor.
O Extremo-Oeste do Estado, inclusive, é a segunda região mais favorável para o desenvolvimento de um tornado no mundo, de acordo com a Defesa Civil Estadual, perdendo apenas para Oklahoma, nos Estados Unidos. De acordo com Murilo Fetta, meteorologista do órgão, a região possui algumas características que contribuem para isso.
— Os locais mais propícios são do Meio-Oeste ao Extremo-Oeste. Eles têm algumas condições que favorecem isso, como as frentes frias. Além disso, os ventos que vêm daquele escoamento, que vêm do Saara, passam pela região Amazônica e entram em Santa Catarina, combinados com a passagem das frentes frias, acabam dando a condição — diz.
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Política de risco pode ser solução para prevenir desastres
Por ser um fenômeno natural, é díficil prever quando um tornado vai atingir o Estado. Segundo o professor Lindberg Nascimento Júnior, a dificuldade é ainda maior devido ao impacto que ele traz em diferentes setores. Por isso, ele acredita que reconhecer o fenômeno como parte da dinâmica climática do Estado pode ajudar na redução de desastres.
— Uma estratégia inicial é promover uma cultura de redução da vulnerabilidade e de aumento da participação ativa de instituições, como a Defesa Civil, em planos de prevenção de desastres. Outra aposta seria construir uma agenda de políticas de risco, pensada e construída a partir da própria realidade catarinense, considerando a diversidade regional e local — reforça.
Murilo Fetta diz que a Defesa Civil faz, diariamente, o monitoramento de todo o Estado e, quando a equipe identifica a presença de condições que podem levar à formação de um tornado, alertas são emitidos nas redes de comunicação e às centrais regionais, com o intuito de preparar a população para um possível desastre.
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Podemos esperar um novo tornado em SC?
Apesar da primavera ser uma estação onde há uma grande concentração de tornados no Estado, Fetta afirma que não há previsão de novos fenômenos para os próximos dias. Porém, ele não descarta a possibilidade no futuro.
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— Para agora, não há nenhum ingrediente para que ocorra um tornado. Porém, no início de outubro, que tende a ser um mês chuvoso, pode ser que se tenha condições para o desenvolvimento de tempestades severas, que podem ocasionar o tornado — pontua.
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