A possível ida ao ministério de Dilma Rousseff do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva — que, na prática, poderia dar as cartas no Planalto — foi mal recebida pelo mercado financeiro. A aversão à possibilidade levou nesta terça-feira a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) a ter queda de 3,56% e o dólar a subir 3,03%, para R$ 3,763.

Continua depois da publicidade

Mesmo na Secretaria-Geral de Governo, a probabilidade de Lula assumir as rédeas da política econômica é vista com desconfiança pelos investidores devido à chance de uma guinada à esquerda, com o abandono de ajuste fiscal e iniciativas como aumento de oferta de crédito por meio dos bancos oficiais em um momento de pouca demanda devido à recessão pela qual o Brasil passa.

A economista Virene Matesco, professora dos MBAs da Fundação Getulio Vargas, avalia que as medidas mais prováveis a serem adotadas sob a batuta de Lula não seriam capazes de reanimar a atividade.

Leia mais:

Lula deve acumular ministério com comando de “Conselhão”

Continua depois da publicidade

Influenciado por noticiário sobre Lula, dólar fecha em alta de 3%

Incerteza política faz bolsa cair 3,5%

— Lula não tem mais capital político para restaurar a confiança na economia — sustenta.

Para Virene, ofertar mais crédito não funciona porque empresários e consumidores não estão propensos a investir ou gastar. O cientista político Rafael Cortez, da Tendências Consultoria Integrada, avalia que medidas expansionistas, como o aumento do crédito, desvalorizariam o real e gerariam inflação.

— Não dá para replicar 2008. E o preço do erro será maior — avisa.

Favorável ao uso das reservas internacionais para elevar o investimento público, o professor do Instituto de Economia da Unicamp Guilherme Santos Mello avalia que Lula deve adotar tanto medidas que agradariam à esquerda, como tributação progressiva para os mais ricos e uma proposta de reforma da Previdência mais branda, quanto saídas que seriam aceitas pelo PMDB, teoricamente principal aliado, como algum controle de gastos.

— Lula vai tentar conciliar essas duas propostas para conseguir costurar um acordo possível — diz Mello, lembrando que a dificuldade da estabilização política será a continuidade das revelações da Operação Lava-Jato.

Segundo o economista-chefe da corretora Nova Futura, Pedro Paulo Silveira, a volatilidade do mercado financeiro reflete a incerteza política, alimentada pelos rumores de que Lula poderá voltar a ter uma influência no governo federal e tentar salvar o mandato de Dilma. O movimento teria o poder de ao menos retardar o processo de impeachment.

Continua depois da publicidade

— Estamos em um processo de dominância política, que prevalece sobre a economia — entende Silveira, lembrando que o humor do mercado também piorou com as revelações da delação do senador Delcídio Amaral, que incluíram líderes da oposição, como o senador e presidente do PSDB, Aécio Neves.