A revolução pelos direitos femininos começou em 8 de março de 1857, quando operárias norte-americanas protestaram por melhores condições de trabalho e deram origem ao Dia Internacional da Mulher. Mas foi só em maio de 1960 que elas passaram a ter autonomia para escolher o momento de engravidar e ampliar a entrada no mercado de trabalho da época, com a criação e comercialização da pílula anticoncepcional. A novidade foi um divisor de águas em termos de liberação sexual, e deu às mulheres uma alternativa à expectativa da maternidade e vida doméstica. Mais de meio século e muitos questionamentos depois, elas voltam a pregar a revolução através de outra escolha: interromper o uso da pílula.
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::: Os prós e contras da pílula anticoncepcional
Na contramão do que se pode pensar, estas mulheres não querem engravidar. Pelo menos não agora. O motivo para a decisão, segundo a maioria, é simples: menos hormônios e mais autoconhecimento. É o caso da social media Tâmara Calippo Chuffi, 21 anos. Moradora do bairro Vila Nova, em Blumenau, ela conta que parou de tomar a pílula aos 15 anos para evitar desconfortos como inchaço e aparição de espinhas. Poucos meses depois, já pensando em retomar a rotina, a blumenauense descobriu que sofria de lúpus. Foi a desculpa que faltava para descartar de vez o método.
– Meu hematologista disse que a alta dosagem de hormônios da pílula pioraria a minha condição, e como eu menstruava demais já estava ficando anêmica. Achava que a pílula era um malefício, depois disso só tive mais certeza. Mesmo se não tivesse descoberto a doença, teria parado. Não sou mais refém daquilo, me sinto mais livre e feliz. Afinal, não é algo natural do nosso corpo. Não me sinto menos mulher por causa disso – comenta.
Já a pesquisadora Marta Brod, 30, revela que suspendeu o uso da pílula há cinco anos. Logo de cara, percebeu os efeitos positivos causados pela mudança.
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– Enquanto tomava eu não me sentia eu mesma, sabe? Além disso, comecei a ter enjoos e dor de cabeça por conta do remédio. Então, achei por bem parar com a pílula. É libertador poder conhecer seu corpo sem nenhum tipo de intervenção química. Claro, a cólica fica um pouco mais forte, mas nada que uma bolsa de água quente e um chazinho não resolvam. Percebi que tudo fica mais natural. A pele fica melhor, o cabelo – diz Marta.
Enquanto mulheres que fizeram uso da pílula anticoncepcional por muitos anos decidiram parar, as novas gerações têm tido cuidado redobrado na hora de optar por um método contraceptivo. Aos 19 anos, a estudante de Psicologia Maira Kremer, de Blumenau, nunca tomou a pílula. Ela diz que encontrou outras formas de evitar a gravidez, e descartou o comprimido quando descobriu as desvantagens da marca recomendada pelo médico:
– Sensibilidade e dor nas mamas, secreção, náusea, vômito, cefaleia, alterações de humor, depressão, retenção de líquidos, alterações da libido… Sei que talvez esses sintomas nem cheguem a me atingir, mas prefiro não arriscar. Algo que cause tantos sintomas, e muitos piores, não pode ser benéfico. Ainda mais um medicamento de uso prolongado. Nossa geração está começando a prestar atenção nas pesquisas e começando a compreender que a pílula talvez seja só mais uma forma de nos responsabilizar por uma preocupação que devia ser partilhada, e não só da mulher. Me sinto saudável assim e não pretendo mudar isso – garante a estudante.
Um dos meios utilizados há anos pelo público feminino para prevenir a gravidez, a famosa tabelinha é um dos meios encontrados pelas novas gerações para prevenir a gravidez sem precisar recorrer aos temidos hormônios. A diferença é que o acompanhamento saltou do papel para a tela do celular, em forma de aplicativos que ajudam a regular o ciclo menstrual, a ovulação e o período fértil da mulher. Na visão da ginecologista Amélia Bruns, a tecnologia pode ser útil desde que não se dependa somente dela:
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– Os aplicativos são ótimos, mas a mulher precisa ter consciência de que eles não determinam exatamente o dia e as condições em que você pode engravidar. Muitas coisas interferem no seu período fértil quando não se toma a pílula, da alimentação ao sono. Tudo isso pode fazer andar para a frente ou para trás no ciclo – esclarece a especialista.
A médica também destaca que para evitar a gravidez, além da camisinha, hoje há métodos menos agressivos em relação à pílula. Tâmara, por exemplo, optou pelo Dispositivo Intra Uterino (DIU).
– Mas temos também o anel vaginal, o diafragma e, se for o caso, pílulas com menor dosagem de hormônios – aponta.