Philip Roth não chega a ser best-seller no Brasil – mas, em um país onde as edições costumam ter de 2 mil a 3 mil cópias, tampouco são modestas as tiragens de seus livros. Alguns exemplos: Homem Comum foi um sucesso: três reimpressões e 18 mil exemplares. Fantasma Sai de Cena chegou aos 13 mil. Indignação (2009) saiu com 7 mil exemplares – 10% da tiragem inicial de Leite Derramado, livro de Chico Buarque lançado no mesmo ano.

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A convite de ZH, seis ilustres leitores gaúchos explicam para o Segundo Caderno por que Roth é imprescindível nas nossas bibliotecas:

LUIS AUGUSTO FISCHER

Professor e escritor, autor de “Quatro Negros”

“O que tem na ficção dessa figura tão importante de nossos dias: (1) A vida de todos nós, gente de classe média confortável e culta, passada pelo filtro da inteligência. (2) Um completo destemor em relação aos clichês e às restrições tolas da chamada correção política (nem todas são tolas, mas algumas são desprezíveis; discernir entre elas já é uma operação relevante, que ele faz bem). (3) Uma fluência narrativa admirável, que nos faz ler como se estivéssemos observando aquele enredo sem a mediação das palavras. (4) Protagonistas heterossexuais sem culpa de sê-lo. (5) Discreta mas eficiente visão crítica da vida de nosso tempo, em particular da vida do império de nosso mundo, a terra dele, os EUA. (6) A neurose nossa de cada dia tratada como deve – como matéria-prima de histórias comuns, mas vistas pela lente certa. (7) O romance como forma de estar no mundo, não de fugir a ele. (8) Vida adulta vertida em histórias, quer dizer, literatura feita com isso mesmo que nos faz sofrer e vibrar, casamento, separação, paternidade, conflito, raiva do poder absurdo de instituições que invadem nossa vida privada, a iminência nunca afastada da morte.”

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>> 3 livros recomendados por Fischer: O Complexo de Portnoy, O Animal Agonizante e Entre Nós (volume de entrevistas e ensaios com e sobre outros escritores).

CINTIA MOSCOVICH

Escritora, autora de “Duas Iguais”

“Os livros de Roth são daqueles que se lê com prazer, com vontade, porque é literatura feita com rara ironia e consequente sentido de humor – e dispensando mesmo o menor traço de autoindulgência. Roth tem uma narrativa sedutora, além de absolutamente contemporânea, sem que aquilo que ele escreva seja, em absoluto, datado.”

>> 3 livros recomendados por Cintia: “A trilogia Pastoral Americana, Casei com um Comunista e A Marca Humana é um dos colossos do Ocidente. A gente consegue entender não só a América, mas o desastre em que se tornou o mundo, e cada indivíduo sobre ele, depois das duas grandes guerras.”

SERGIUS GONZAGA

Professor de Literatura

“Ler Philip Roth é uma experiência tão vertiginosa quanto asfixiante. Em primeiro lugar, porque o seu realismo sincrético (todas as conquistas técnicas da ficção ocidental do século 20com o máximo de verossimilhança) possibilita um notável registro totalizante da classe média americana, especialmente dos núcleos mais intelectualizados. Em segundo, porque seus temas são os temas dilacerantes da contemporaneidade: a luta do indivíduo contra uma sociedade dominada pela alienação, pelo conformismo e pela demagogia do politicamente correto; a angústia metafísica dos personagens diante da passagem do tempo; e o esforço de resistência de alguns seres no sentido de afirmar seu protesto contra a realidade através de uma vida pessoal

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libertária e baseada em valores autênticos.”

>>> 3 livros recomendados por Sergius: Pastoral Americana, Fantasma Sai de Cena e O Animal Agonizante.

MICHEL LAUB

Escritor, autor de “O Gato Diz Adeus”

“Porque é um escritor completo, um dos pouquíssimos em atividade. A obra dele abrange todos os temas importantes, tanto os grandiosos – política, história, cultura, sociedade – quanto os íntimos – amor, sexo, morte, culpa. E faz isso misturando vários registros narrativos, do realismo à fantasia, da solenidade ao humor, em livros que ao mesmo tempo conseguem ser profundos e fluentes, tristes e divertidos.”

>>> 3 livros recomendados por Michel Laub: O Teatro de Sabbath, A Marca Humana e Homem Comum.

CLAUDIA TAJES

Escritora, autora de “Dez (Quase) Amores”

“Um livro do Philip Roth é o melhor lugar para não se encontrar jamais um crime perfeito, uma saga, uma mulher em crise, uma civilização distante. E essa é a grande razão para ler Roth: ele escreve sempre sobre o misterioso homem comum. E mesmo que esse homem seja um judeu norte-americano intelectual, e ainda que um dia acorde transformado em um peito feminino, ou se masturbe até com um fígado gelado que comprou no açouge, ele é feito de conflitos e sentimentos conhecidos por todos os leitores. O autor só não acerta quando seus personagens descrevem a roupa da mulher por quem estão interessados, e essa é mais uma das virtudes dele: Philip Roth não entende nada de moda. E só um homem clássico assim para escrever com tanta propriedade sobre o que atormenta um homem.”

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>>> 3 livros recomendados por Claudia Tajes: “Posso dizer três personagens? David Kepesh (de O Peito, O Professor de Desejo e O Animal Agonizante),

Nathan Zuckerman (de nove títulos, como Fantasma Sai de Cena e O Avesso da Vida) e Alexander Portnoy (O Complexo de Portnoy).”

Reportagem publicada em Zero Hora em 13 de junho de 2009.