As mudanças nos preços dos combustíveis fazem com que uma pergunta surja com frequência aos motoristas na hora de abastecer: o que compensa mais, gasolina ou etanol? Um levantamento recente mostrou que em 18 estados do país, incluindo Santa Catarina, a gasolina é mais vantajosa, enquanto outros oito estados e o Distrito Federal têm o etanol como escolha que mais vale a pena.

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Em Santa Catarina, há pelo menos 10 anos essa pergunta tem uma mesma resposta. Um levantamento do NSC Total com base nos preços médios semanais pesquisados pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) entre julho de 2014 e julho de 2024 mostrou que, em todo esse período, a gasolina sempre foi a escolha mais vantajosa para os catarinenses.

Gasolina ou etanol: o cálculo definitivo para escolher o melhor combustível

Para que o etanol seja mais vantajoso, é preciso que o preço seja menor do que 70% do valor cobrado pela gasolina. Isso se deve a diferenças no consumo entre os combustíveis. O etanol gera menos energia e permite percorrer menos quilômetros por litro do que a gasolina.

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Por que etanol não compensa?

Em Santa Catarina, o etanol nunca esteve abaixo desse patamar de 70% do valor cobrado pelo litro de gasolina desde 2014. Em maio de 2020, durante a pandemia de Covid, o litro do etanol chegou a representar quase 95% do preço da gasolina, com uma diferença de apenas 20 centavos entre os dois combustíveis (R$ 3,85 da gasolina contra R$ 3,65 do etanol).

O presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados do Petróleo de Blumenau e Região (Sinpeb), Júlio César Zimmermann, explica que o principal motivo é a ausência de usinas produtoras de etanol no Estado. O plantio de cana-de-açúcar, considerado pouco expressivo no Estado em função de questões como clima e solo, também ajuda a tornar o etanol menos vantajoso.

— Como não temos usinas, para ter o etanol nos postos é preciso buscar de estados como São Paulo, Paraná, o que gera custos de frete, e faz com que o combustível acabe não compensando. Isso ocorre historicamente em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul — explica.

Veja variação da gasolina e etanol em SC desde 2014

Etanol está mais perto de ser vantajoso em 2024

Uma mudança recente nos números, no entanto, chama a atenção. Nesse período de 10 anos, o momento em que o etanol mais esteve perto de chegar a níveis que o tornassem mais vantajoso que a gasolina no Estado foi justamente no primeiro semestre de 2024.

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No fim de março deste ano, o litro do etanol custava R$ 4,16, valor que representava 70,3% do preço de um litro de gasolina na ocasião (R$ 5,87). Na última pesquisa, o etanol custava R$ 4,24, equivalente a 71% do valor do litro da gasolina.

Se considerado o cálculo de entidades do setor de etanol, que defendem que o cálculo correto seria de até 73% do valor da gasolina para que o etanol seja mais vantajoso, os percentuais registrados nas últimas semanas já dariam ao etanol um melhor custo-benefício do que a gasolina no Estado.

Outra vantagem mostrada no levantamento é no reajuste dos preços em 2024. Enquanto a gasolina teve alta de 3,8% desde janeiro, o etanol subiu menos, 2,4%.

O presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis Minerais de Florianópolis (Sindópolis), Vicente Santanna, explica que embora o consumo do etanol no Estado tenha a desvantagem do frete e dos impostos, um investimento maior vem sendo registrado no setor de etanol no país. Entre os motivos para isso estão o fato de o etanol ser considerado um combustível limpo, renovável e em alta justamente pela questão ambiental.

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Os números da produção de etanol comprovam a tese. A safra deste ano, encerrada em março, foi considerada a maior da história do país, com quase 20% de aumento em relação ao ano anterior.

— Como está havendo muito investimento no setor de etanol, acaba aumentando a produção e consequentemente há uma maior oferta, e menor preço — detalha o dirigente do Sindópolis.

Alguns fatores influenciam no aumento da produção de etanol no país, além do apelo ambiental e por combustíveis renováveis e com baixa emissão de carbono. Outro incentivo foi o anúncio de um possível aumento na proporção da mistura da gasolina — quantidade de etanol que é adicionada a toda gasolina vendida nos postos do Brasil. O percentual, que hoje é de 27%, passaria para 35% até 2030. A proposta segue em discussão no Senado, mas a previsão já foi suficiente para incentivar o setor de etanol a apostar no aumento da produção.

Tributação também afeta o etanol

O problema do imposto é outro motivo que faz com que o etanol tenha dificuldade de ser competitivo nos estados em que não há produção de cana e etanol. O diretor de Inteligência Setorial da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), Luciano Rodrigues, explica que estados produtores como Minas Gerais e São Paulo praticam alíquotas diferentes de ICMS entre etanol e gasolina, por entenderem que a cadeia do combustível de cana gera empregos e estimula a economia local.

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Nos estados em que não há produção de etanol, incluindo Santa Catarina, a tributação é a mesma para gasolina e etanol, o que é visto pelo dirigente como um desestímulo. Com a reforma tributária, a expectativa do setor é que o etanol tenha tributação diferenciada por se tratar de combustível renovável, o que poderia incentivar o etanol em estados onde não há produção.

— Com a expansão da produção para além dos estados tradicionais, com etanol a partir do milho, por exemplo, e diferenciação na tributação, imaginamos que haja condição de estender o etanol para estados onde hoje ele ainda não é competitivo — explica Rodrigues.

A safra recorde e a perspectiva favorável empolga o setor do etanol para um futuro em que o combustível pode ocupar espaço de destaque. A busca por fontes de energia renováveis e sustentáveis para carros, que tem impulsionado a venda de veículos elétricos, por exemplo, pode beneficiar também o combustível da cana.

— É um biocombustível de baixo carbono, permite a descarbonização, com produção interna e custo mais baixo. Acredito que vai haver um caminho para a eletrificação híbrida, e o etanol vai ter um papel importante — analisa o dirigente da Única.

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Usina de etanol em SC pode mudar cenário

Outra novidade no ramo de etanol em Santa Catarina pode resultar em mudanças na soberania da gasolina frente ao etanol no Estado. Em fevereiro deste ano, a cooperativa Copercampos anunciou a construção de uma usina de etanol em Campos Novos, no Meio-Oeste, com investimento estimado em R$ 200 milhões.

A estrutura usaria milho e trigo para a produção do combustível renovável — as matérias-primas têm ganhado força em regiões onde há dificuldades climáticas para o plantio da cana-de-açúcar. Segundo a cooperativa, o projeto está na fase de liberação ambiental para início da construção da unidade. O prazo estimado para a construção é de dois anos, com início de atividades no começo de 2026.

Além do etanol, a estrutura também vai permitir a destinação do chamado DDG, material restante da produção de etanol e que pode ser destinado para rações de animais. A ideia da usina surgiu justamente para dar aproveitamento ao milho produzido na região. A capacidade de produção deve ser de 130 mil litros de etanol hidratado. A planta industrial também deve ser abastecida com energia gerada a partir de biomassa, mantendo o conceito de sustentabilidade.

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— Hoje o etanol vem para nós quase mais caro que a gasolina, acaba não valendo a pena. Tenho certeza que com a usina, vamos produzir etanol para vender nesses níveis (de preços), para que acabe compensando — conta o gerente industrial da Copercampos, Nelson Cruz.

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