“Para mim, uma democracia melhor é aquela em que as mulheres não só têm o direito de votar e eleger, mas de serem eleitas”. Michelle Bachelet, primeira presidente mulher do Chile e primeira chefe da entidade para direitos de gênero e empoderamento feminino das Nações Unidas, disse essa frase e foi, na história recente, uma das mulheres a quebrar o paradigma de que não há lugar para elas na política. Há 83 anos elas ganharam o direito a voto, mas, em alguns lugares, ainda têm dificuldade para chegar aos cargos eletivos.

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:: Mulheres nas eleições de Blumnenau: participação apenas dentro da lei

Em terras blumenauenses, a primeira a conseguir o feito e quebrar a própria percepção de que não havia lugar para as mulheres na política foi Maria do Carmo Carl, a dona Polaca. Hoje aos 90 anos – com lucidez de jovem, “muito bem de saúde, graças a Deus!” e até dirigindo -, ela lembra com clareza de 1976, quando se tornou a primeira mulher eleita para a Câmara de Vereadores de Blumenau.

– Quando o Evelásio (Vieira, ex-prefeito de Blumenau) me convidou e disse que eu ia ser a primeira vereadora de Blumenau não acreditei. Disse pra ele que não sabia nada de política. Ele me respondeu que não precisava saber, que política precisa ter trabalho, estender a mão amiga. E disso eu sabia.

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Maria sabia muito bem. Tinha um armazém na Rua 25 de Julho, na Itoupava Norte, e era procurada por todos que queriam uma boa conversa ou mão amiga. Ajudou a criar um dos primeiros Clubes de Mães da Fortaleza e dedicou sua vida ao voluntariado, pastorais, comunidades e atividades sociais. Foi eleita e reeleita vereadora, legislou na Câmara de 1977 a 1988, depois foi suplente por outros 13 anos. Entrou na política aos 50 e saiu aos 73.

Desde que Maria sentou na cadeira de vereadora, há quase 40 anos, apenas outras 12 mulheres ocuparam o mesmo posto até hoje. Destas, só quatro foram eleitas diretamente (as outras assumiram interinamente como suplentes). Um avanço tão pequeno na participação feminina culminou na Câmara formada após a eleição de 2012, com os 15 postos ocupados por homens.

Em tempos atuais o dado por si só é alarmante, mas fica ainda pior se visto como o resultado da primeira eleição municipal após a Lei 12.034, de 2009, que atualizou as normas eleitorais e definiu como obrigação que cada partido ou coligação tenha, ao menos, 30% de candidatas. Norma respeitada, mas sem efeito direto nas urnas.

– A mulher é indispensável na política. Primeiro porque é um direito constitucional; porque a mulher precisa estar representada e representando; porque ela tem uma percepção diferente da esfera pública e um ponto de vista diferente do homem; porque pesquisas afirmam que, em cargos de liderança, elas são mais honestas e empreendedoras que homens; porque no mundo todo há uma tendência de liderança feminina em crescimento – afirma a advogada, doutora em Direito e professora da Universidade do Vale do Itajaí (Univali), Queila Jaqueline Nunes Martins.

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