A mais recente aparição do deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) foi também a que mais chamou atenção – e não teve nada a ver com propostas políticas ou projetos de lei. Em plenário, o parlamentar disse à também deputada federal Maria do Rosário (PT-RS) que não a estupraria porque ela “não merece”. Em entrevista a ZH, disse que não tem medo de processos e completou a ofensa, dizendo que a gaúcha não merece “porque é muito feia“.
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Não foi a primeira de Bolsonaro. Em 2003, ele havia dito exatamente a mesma coisa a Maria do Rosário, além de chamá-la de “vagabunda“. Em março do ano passado, chamou Eleonora Menicucci (PT-MG), indicada por Dilma Rousseff à Secretaria de Políticas para as Mulheres, de “sapatona“. Dois anos antes, bateu boca com a então senadora Marinor Brito (PSOL-PA), chamou o partido dela de “um partido de pirocas“, falou que aquilo tudo era “coisa de viados” e completou garantindo que “ninguém gosta de homossexual, a gente suporta“. Já agrediu verbalmente a cantora Preta Gil, disse para a presidente Dilma Rousseff que “se o teu negócio é amor homossexual, assuma” e garantiu que iria dar o endereço da casa de Benedita da Silva (PT-RJ) a um menor infrator “para que ele vá praticar furtos lá“.
Só que Bolsonaro nunca foi punido por nenhuma dessas agressões. E o advogado eleitoralista Antônio Augusto Mayer dos Santos acha muito difícil que essa situação mude, ainda que quatro partidos tenham pedido a cassação do mandato do deputado e Maria do Rosário tenha garantido que vai entrar com ação judicial contra ele.
– A imunidade e a inviolabilidade garantidas aos congressistas pela Constituição Federal têm contornos quase absolutos. Significa que ele pode dizer o que ele quiser e que ele não pode ser processado dentro ou fora da Câmara – afirma.
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Essa garantia está prevista no artigo 53 da Constituição Federal, que diz que “os deputados e os senadores são invioláveis no exercício do mandato, por suas opiniões, palavras e votos“. Segundo Augusto Mayer, ainda que o assunto chegue ao Supremo Tribunal Federal (onde congressistas são julgados), o assunto é “praticamente inquestionável”:
– As exceções são peculiares, peculiaríssimas.
Para ministra, atitudes de Bolsonaro são “inadmissíveis”
Quando Marinor Brito brigou com Bolsonaro, o PSOL entrou com representação contra o parlamentar na Câmara Federal. O processo foi arquivado.
– Já não era a primeira representação. Ele já tinha arquivado duas ou três, uma delas por agressão física à própria Maria do Rosário. O que existe no Congresso é um corporativismo que gera um pacto velado. Um protege o outro. Felizmente não são todos os congressistas, mas o fato de o Congresso ter uma característica cada vez mais conservadora na sua formação facilita a vida e o comportamento desse, para mim, criminoso – avalia Marinor, que hoje atua como vereadora em Belém.
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Em um dos episódios mais raivosos da carreira política de Jair Bolsonaro, ele subiu em 2013 ao palanque para se posicionar contra a indicação de Eleonora Menicucci (PT-MG) ao cargo de ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres. Disse que, ao fazer isso, a presidente assumia que “não tem compromisso com a família”, já que Eleonora “continua tendo relações com homens e mulheres, ou seja, no linguajar popular, é sapatona” e “diz que o maior orgulho dela é a filha, que é gay”.
– A primeira questão é que esse deputado tem uma prática reiterada de agredir com violência verbal as mulheres. É algo com as mulheres. Ele já fez comigo várias vezes, e agora repete. A imunidade parlamentar não pode, de forma alguma, protegê-lo de um processo. Isso é inadmissível, porque humilha e desacata o mais profundo da mulher, que é o sentimento de dignidade – diz a ministra.
Nesta quinta-feira, o Conselho Nacional de Direitos Humanos protocolou representação junto à Procuradoria-Geral da República pedindo a abertura de processo contra Bolsonaro. Na Câmara, PT, PCdoB, PSOL e PSB também anunciaram representação no Conselho de Ética por quebra de decoro parlamentar. No entanto, como se trata de um pedido de investigação no término da legislatura, o caso deve ser arquivado por falta de prazo para a continuidade do processo. Em fevereiro, quando o novo Congresso assumir, os partidos poderão pedir o desarquivamento da ação contra Bolsonaro. Na tarde de quinta, o deputado minimizou as ações.
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– É um direito deles representar. Eu já respondi a mais de 30 processos de cassação nesta Casa.
*ZH com agências