O clima é de normalidade em Blumenau depois da enchente enfrentada pela cidade. Nesta quarta-feira (18), até o sol decidiu aparecer para reforçar essa sensação — discretamente, é verdade. Para algumas famílias, porém, a realidade ainda é outra. Nesta manhã, 51 pessoas estavam nos dois abrigos montados por conta das cheias, mesmo quatro dias depois do Rio Itajaí-Açu retornar à calha e estar fora do nível de alerta.
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Lenice Azevedo, o marido, o filho de 15 anos e o gato da família fazem parte desse grupo. Durante a tarde, enquanto esperava o caminhão fornecido pela prefeitura para levar os bens de volta para casa, a moradora da região da Rua 1º de Janeiro, na Itoupava Norte — a primeira a inundar em situações de enchente —, contou que permaneceu no galpão da Igreja Evangélica Livre até esta tarde por segurança.
— Na primeira vez eu fui para a casa porque disseram que era seguro, mas a água voltou a subir. Então agora decidi esperar mais para ter certeza — disse.
A mulher fala em “primeira vez” porque a enchente em Blumenau teve três picos neste mês: um no dia 5, de 8,78 metros, o segundo no dia 9, de 10,19 metros e o terceiro no dia 12, de 10,76 metros. Do primeiro para o segundo, a família havia sido liberada pela Defesa Civil para voltar ao lar. Ela relata que tudo aconteceu muito rápido, mas houve tempo para recolher os móveis, eletrodomésticos e roupas pela segunda vez e ir ao abrigo.
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Desde então, ficou no local às margens da Rua 2 de Setembro e tentou seguir a vida como deu, indo ao trabalho e faxinando a casa no último fim de semana, quando a água baixou. No abrigo, o casal e o adolescente ganharam alimentação, água, kits de higiene, colchões para dormir e toda a assistência social necessária.
Veja fotos do abrigo nesta quarta
Com a previsão de chuva intensa entre a segunda e a terça (16 e 17), a coordenação do espaço recomendou às famílias que esperassem um pouco mais antes de voltar ao lar. E assim a maioria fez. Nesta quarta, com o indicativo de que os volumes de precipitação não serão expressivos nos próximos dias, a orientação mudou: é hora de recomeçar.
Lenice pretende dormir em casa nesta noite e amanhã continuar uma tarefa que começou dentro do abrigo: a de procurar outro endereço para morar. Blumenauense, ela conhece o histórico da região, mas ouviu a promessa do locatário de que houve uma “melhora” nos últimos tempos.
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O desafio agora será encontrar um novo lar com um preço de aluguel que caiba no bolso.
Procura-se novo endereço
Mariana Cruz e o marido José Braga também desejam o mesmo. O casal buscou o abrigo quando foi surpreendido com a informação da enchente no jornal. Vindos de Belém há pouco mais de um ano, diferentemente da blumenauense, eles não sabiam que estavam em um ponto alagável.
Também moradores da região da 1º de Janeiro, no momento em que saíram da residência a água batia no joelho deles. Mariana, hipertensa, chegou a passar mal ao se deparar com a situação. A água quase alcançou o teto e alguns móveis irão para o lixo, mas boa parte do pouco que tinham ficou no andar de cima, com a vizinha, o que evitou um prejuízo maior.
— Eu fiquei espantada, nunca tinha vivido isso. Nós ficamos aqui no abrigo para esperar a casa secar, lavamos tudo ontem (17), passamos água sanitária, mas ficou um mofo e um cheiro horrível — lamenta a dona de casa.
O casal deixou o galpão da igreja horas antes de Lenice, no começo desta tarde. Na hora da partida, Mariana sorriu e trocou palavras de ânimo com a “vizinha de acampamento”. Para Lenice, os dias no abrigo não foram só de angústia. As famílias fizeram companhia umas às outras e houve espaço para risadas e conversas sobre um futuro melhor. Amizades surgiram em meio à tragédia e muitos perceberam sonhos em comum. O maior deles, no momento, é o de não precisar recorrer ao abrigo tão cedo.
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De preferência, nunca mais.
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