A Praia do Moçambique, em Florianópolis, pode se tornar a primeira Reserva Nacional de Surfe. O local disputa a nomeação com mais quatro praias do Brasil, incluindo a do Sumidouro, em São Francisco do Sul, também em Santa Catarina. Um comitê técnico-científico do Instituto Aprender Ecologia está avaliando as candidatas, e deve divulgar o resultado no dia 31 de agosto. 

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Para ser considerada uma reserva, a praia deve ser um destino icônico do surfe e também ser referência em conservação ambiental. A iniciativa é inspirada no Programa Mundial de Reservas de Surfe, coordenado pela Save the Waves Coalition, que reconhece praias a nível mundial — a Guarda do Embaú, em Palhoça, é considerada reserva mundial de surfe desde 2016.

As cinco praias que concorrem à nomeação de Reserva Nacional de Surfe estão sendo avaliadas em quatro quesitos: qualidade das ondas; características sócio-ecológicas do ecossistema de surfe; cultura e desenvolvimento do surfe no local; e engajamento comunitário. A vencedora deverá formar um comitê e criar um plano de gestão. A ideia é que esse grupo atue na defesa do desenvolvimento sustentável da praia.

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A praia do Moçambique

Com 12,5 quilômetros de extensão que vão do Canto das Aranhas até a Barra da Lagoa, a praia do Moçambique é a maior de Florianópolis. Suas ondas são regulares o ano todo, e podem passar dos 12 pés (o equivalente a aproximadamente 3,66 metros).

Diferente de outros picos de surfe que se desenvolveram antes em Florianópolis, como as praias da Joaquina, Mole e Barra da Lagoa, a do Moçambique ficava em um lugar de difícil acesso até por volta de 1990. Com a construção da SC-406, o acesso foi facilitado. Em 2003, foi criada a Associação de Surfe do Moçambique (ASM), e a partir de então a praia passou a sediar campeonatos.

— Entre 1990 e 2000, tivemos uma nova fase do surfe. Passamos a ter mais acesso a materiais como pranchas, roupas de borracha e outros acessórios, e a praia passou a ter presença mais constante de surfistas vindos de outras partes da Ilha, de Santa Catarina e de outros estados — explica Emerson Miranda, integrante da ASM e um dos criadores da proposta de tornar o Moçambique reserva.

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O biólogo Márcio Mortari, que tem um projeto de ecomonitoramento na região, diz que a praia é ideal para ser considerada reserva de surfe. Primeiro, porque é um ambiente preservado, dentro do Parque Estadual do Rio Vermelho e de uma zona-núcleo de conservação da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica (RBMA).

— A combinação de ondas consistentes, longas e desafiadoras, além de um ambiente natural preservado, faz da praia um ponto de encontro de surfistas. A onda icônica do pico é a que quebra no Canto das Aranhas — explica Márcio, que inscreveu a comunidade no programa.

O que a praia ganha se virar reserva?

A nomeação como reserva de surfe não significa que outras atividades, como a pesca e o banho, serão restringidas na praia. Segundo Fabricio Almeida, presidente do Instituto Aprender Ecologia, o intuito do projeto é o contrário: reunir representantes de vários âmbitos da comunidade em um comitê, podendo defender os interesses locais com os governos e entes privados.

— O objetivo é reconhecer picos icônicos do esporte e também conservar esse lugar, para que ele continue a gerar economia de uma forma sustentável. Preservando, a gente gera economia e mantém aquele lugar para as nossas gerações e também para as próximas — explica Fabricio Almeida.

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Preservar o entorno é do interesse da comunidade do Moçambique. Segundo Márcio, caso a praia se torne reserva de surfe, a ideia é proteger a região da especulação imobiliária, que segundo ele ameaça ondas raras como as da praia.

— Atualmente Floripa está em fase de expansão da cultura ambientalista. Queremos qualificar a relação do surfe para além do surfe, em áreas que envolvem a ecologia, a educação ambiental, a permacultura e saúde integral — diz ele.

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