A BR-376 tem sido cenário de uma série de acidentes graves ao longo deste ano no trecho próximo da divisa entre Paraná e Santa Catarina, como foi o caso envolvendo o ônibus do Umuarama Futsal que deixou dois mortos na semana passada no quilômetro 667. E diante de tantas tragédias, fomos atrás de motoristas, órgãos oficiais e uma especialista para entender quais os perigos enfrentados diariamente por quem passa pela rodovia.
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Os motoristas que se deslocam pela BR-376, na região da divisa, encontram no trecho de serra os maiores perigos durante o trajeto. Foi onde aconteceram alguns acidentes durante o ano, como o caso do motorista que precisou saltar da carreta após perder o controle do veículo, a retroescavadeira que caiu de um caminhão e o mais grave de todos, um ônibus que saiu da pista e matou 19 pessoas em janeiro.
O trecho da serra tem extensão de 15 quilômetros, do km 661 ao km 675. Ao longo do trajeto, motoristas encaram uma série de curvas sinuosas, que podem ficar ainda mais perigosas em dias de chuva ou cerração. As diversas placas sobre o limite de velocidade de 60 km/h, risco de tombamento e necessidade de atenção dos condutores alertam para os riscos que são enfrentados no caminho.
– Para quem está descendo a serra, é muito perigoso porque tem algumas curvas bem fechadas. A curva da Santa e a outra em que o ônibus tombou na semana passada, próximas da área de escape, são as mais perigosas. Ali a gente pega um “baixadão” e se tiver sem freio, vai parar só na curva – diz o caminhoneiro Cleverson Nunes.
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O profissional trabalha há 12 anos na área e tem experiência em trafegar pela BR-376. É o mesmo caso do caminhoneiro Laércio Ferreira do Nascimento, que há 40 anos dirige pelas estradas do país, mas durante a safra passa até quatro vezes por semana pela rodovia que liga Santa Catarina ao Paraná, levando soja e grãos até o Porto de São Francisco do Sul.
É uma serra muito perigosa e enganadora. Se descer de boa, na terceira (marcha) e com a manutenção em dia, não acontece nada. O problema é que o povo desce correndo demais, a 80 km/h.

O excesso de velocidade é um dos vilões para a ocorrência de mortes na rodovia, principalmente no trecho de serra. O guincheiro Gerônimo Gomes de Oliveira, 50 anos, presta serviço para seguradoras e atende os acidentes na BR-376 desde antes da rodovia ser duplicada.
Ele diz que naquela época havia ineficiência no socorro às vítimas e pessoas morriam pela demora na chegada do resgate. Hoje, entende que o principal fator é a imprudência dos condutores. Em dias de chuva, por exemplo, ele atende uma média de 15 a 20 ocorrências na serra.
– O pessoal abusa demais, passa a lombada eletrônica e já coloca a 100 km/h de novo. O outro caminhão que eu usava para trabalhar deu perda total porque um carro estava em excesso de velocidade e bateu na minha traseira. Também já bateram três vezes no meu caminhão novo enquanto eu atendia acidente na rodovia – recorda.
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Falhas mecânicas também estão entre causas dos acidentes
Segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF), o trecho de serra tem radares, sinalização, iluminação noturna em alguns trechos, áreas de escape e investimentos em engenharia para proporcionar segurança aos motoristas. Mesmo assim, dois fatores contribuem para a ocorrência de acidentes no local, de acordo com a PRF: a imprudência do motorista e as condições do veículo.
Os dados sobre as ocorrências registradas na serra da BR-376 reforçam os fatores apontados pela PRF. Até 8 de julho, antes do acidente com o ônibus do Umuarama Futsal, a rodovia havia registrado 46 acidentes no trecho de serra, sendo 17 causados por falhas mecânicas. Os dados da PRF apontam a velocidade incompatível como a segunda maior causa, com 12 ocorrências desde o início do ano.
Nos anos anteriores, a velocidade acima do permitido e as falhas mecânicas se alternaram no topo das causas dos acidentes, seguidas pela falta de atenção dos motoristas. Esses fatores também aparecem nos dados da PRF como os principais causadores de acidentes com vítimas feridas ou fatais na serra da BR-376.
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A Arteris Litoral Sul, concessionária que administra a rodovia, garante que a serra é segura, mas por tratar de um declive de 700 metros de altitude, requer reforço nos cuidados com a manutenção preventiva dos veículos e direção defensiva, com respeito à sinalização e uso de freio motor.
– Temos uma campanha com a PRF que é o Serra Segura, uma abordagem feita com veículos pesados no alto da serra. Em todas as campanhas, em uma amostra de 100 veículos, 65% apresentam algum problema com o sistema de freios – exemplifica o gerente de operações da concessionária, José Júnior.
> Caminhão faz manobra pela área de escape e evita acidente na BR-376; veja vídeo
Segundo ele, mesmo que aconteçam problemas técnicos, a rodovia está equipada com duas áreas de escape no trecho de serra para auxiliar os motoristas e evitar acidentes. Apenas neste ano, elas foram usadas 32 vezes, evitando 74 mortes, de acordo com a concessionária.

“Não devemos esperar fiscalização para termos consciência”
A pesquisadora e especialista em segurança do trânsito, Marcia Pontes, diz que toda a sociedade tem que assumir o seu papel para que as estradas sejam mais seguras. Ela aponta que o papel das concessionárias é manter a rodovia em bom estado, enquanto os órgãos como a PRF e a Polícia Militar Rodoviária têm o trabalho de fiscalizadores. No entanto, os motoristas e a sociedade têm importância fundamental nesse processo.
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– Segundo o Denatran, temos um agente de trânsito para cada 1 mil ou 2 mil veículos. Isso significa que enquanto um motorista está sendo autuado, outros 999 ou, em um pior cenário, 1.999 estão passando e sujeitos à infração. Então, a fiscalização é fundamental, mas as pessoas não devem esperar ser fiscalizadas para terem mais consciência – defende.
> Vídeo mostra momento do acidente fatal com time de futsal na BR-376; veja
Marcia explica que é através de mudanças nas práticas sociais e comportamentos que as transformações se consolidam. E isso passa por uma cultura voltada para a segurança no trânsito, ainda inexistente no Brasil, de acordo com a especialista.
Ela defende a participação da sociedade civil organizada, iniciativa privada, organizações não-governamentais e de empresas, por exemplo, como essenciais na busca por maior conscientização no trânsito.
O que falta também são os municípios e governos, em todas as esferas, assumirem seu papel em segurança do trânsito e deixarem de trabalhar apenas em campanhas que não resolvem e servem só para gastar dinheiro.
Dicas para dirigir na serra
Para Marcia Pontes, existe uma tríade muito perigosa para quem dirige por um trecho de serra: excesso de velocidade, excesso de confiança e distração. Por isso, ela aponta algumas dicas para quem for pegar a estrada:
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• Verificar a manutenção do veículo, o estado dos freios e se há água o suficiente no veículo para evitar o superaquecimento do motor
• Saber quando usar o freio motor ou mudar de marcha. Dica: “marcha mais baixa, carro mais pesado e mais fácil de controlar” ou “marcha mais alta, mais velocidade e mais difícil de controlar”
• Não fazer ultrapassagens
• Frear na reta antes de chegar nas curvas. Dica: frear antes, passar pela curva e, no meio dela, recomeçar a acelerar
• Permanecer com o carro engrenado, nunca descer a serra “na banguela”
• Acondicionar a carga do veículo corretamente para evitar tombamentos em curvas. Vale para caminhões, ônibus e carros de passeio
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