Recuso-me a escrever o nome da cidade em que moro. Quando preencho um documento abrevio para Fpolis. Houve época em que escrevia Nossa Senhora do Desterro. E ultimamente passei a adotar Ilha de Santa Catarina. Porque homenagear o tirano Floriano Peixoto é o mesmo que adotar oficialmente o título de pato de Ilha dos Patos. Não se trata de aceitar a história, como quer o brilhante colunista Sérgio da Costa Ramos. É com os erros históricos que aprendemos a pensar com clareza o futuro.

Continua depois da publicidade

Não consigo me conformar que o nome da Capital do Estado tenha vínculo direto com o massacre de Anhatomirim. O número de mortes causado pelo advento do federalismo pode chegar a 185, alguns muito ilustres ilhéus, outros nem tanto. Não se trata de discutir monarquia ou presidencialismo. Estamos falando de mortos sem julgamento por ordem de Floriano. Telegrama de 8 de maio de 1894 diz textualmente: “Marechal Floriano – Rio – Romualdo, Caldeira, Freitas e outros, fuzilados segundo vossas ordens. Antônio Moreira César”.

A autenticidade do telegrama é contestada mas não existe rua Antônio Moreira César em Floripa. Há um distrito em Pindamonhangaba(SP),onde nasceu. Na Campanha de Canudos, na Bahia, prendeu até padres e acabou morto 12 horas após levar um balaço no abdome, em 1897. Por ordem de Floriano Peixoto, militares e civis eram sumariamente presos e fuzilados, outros enforcados num velho pé de araçá na parte sudeste de Anhatomirim.

Entre os mortos após a assinatura da ata de rendição ao Governo Provisório consta um herói da Guerra do Paraguai, o Barão de Batovi. A lista oficial de mortos tem 43 nomes. Não importam os números. Há que se discutir as mortes, questionar a homenagem e realizar plebiscito pela mudança do nome da cidade. Para resgatar a memória dos assassinados. Não estamos todos a rever democraticamente os atos horrendos da ditadura militar? Por que não podemos recordar e redimir questões mais antigas?

Um plebiscito para decidir a questão pode ser organizado rapidamente pelos mestres em Informática do Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina ainda para o pleito deste ano. No momento em que comemoramos os 288 anos da Ilha de Santa Catarina, nada mais justo que toquemos numa ferida ainda aberta em centenas – senão milhares – de corações e mentes que entendem que a história é invariavelmente escrita pelos poderosos, com tinta cor de sangue. Mas nunca é tarde para reparar o que a subserviência construiu ou deixou se perpetuar.

Continua depois da publicidade