Após terem a casa onde moravam, na Costeira do Pirajubaé, consumida pelo fogo há cerca de duas semanas, Everton Lins (32), a esposa e uma amiga que não quiseram se identificar começaram a morar num dos canos de esgoto abandonados pela Casan num terreno baldio no Saco dos Limões. Eles escolheram um conjunto de tubos de concreto e, de forma totalmente improvisada e insalubre, transformaram a estrutura em pequenos cômodos onde ficam espremidos. Depois de cerca de quinze dias, essa situação acabou.
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É que nesta sexta-feira a Companhia de Águas e Saneamento de Santa Catarina esteve no terreno com três caminhões e começou a retirada dos materiais. Os funcionários que operavam o guindaste e acomodavam os tubulões na carroceria dos veículos disseram que tinham uma “ordem de despejo” para o casal e a amiga, que foi emitida verbalmente e aceita sem resistência. “Eles são bem tranquilos, mas a gente fica com pena. Isso não é vida pra ninguém”, disse um dos operários que não quis se identificar.
A calma com que os “moradores” conversaram com a reportagem da CBN/Diário não deixou transparecer desespero, mas vergonha. “Moço, não filma a gente, tá”, disse a amiga do casal; “Eu não tenho orgulho disso, não quero que saibam que estou aqui”, falou a esposa de Everton. Também pudera: os três não têm para onde ir. Com a remoção dos materiais hidráulicos que lhes serviam de moradia, a rua será o novo lar – “por enquanto”, esperam.
Ele é natural de Criciúma, e já não se recorda a quanto tempo está em Florianópolis – para onde veio em busca de uma vida melhor. A mulher com quem divide a vida e a colega dela são de Curitiba. Ele trabalha com a coleta e venda de materiais recicláveis. Elas o ajudam eventualmente.
– Consigo tirar uns 60, 70 reais nos dias que mais rendem. Mas é pouco, não dá pra fazer nada. A gente gostaria de receber algum tipo de ajuda pra poder alugar uma quitinete, porque o aluguel de R$ 500 é muito pesado – conta Everton, enquanto separa metais de um monte de lixo e coloca em uma sacola plástica.
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Assistência do governo
Além do lixo acumulado em torno dos canos, o terreno tem muito mato alto. Isso dificulta a visão para quem passa pela Avenida Professor Waldemar Vieira, uma das principais do Saco dos Limões, ou pela Via Expressa Sul. Quase invisível, o trio diz que ninguém da prefeitura ou do governo do Estado os procurou.
– Ninguém vem aqui, devem ter medo. Só tem gente agora pra tirar os canos – afirmou uma das mulheres.
Por meio da assessoria de comunicação, a secretaria de Assistência Social de Florianópolis informou que não recebeu nenhuma informação sobre essas três pessoas, e orientou-os a procurar o Centro POP para serem atendidos. O local funciona junto à passarela Nego Quirido, e presta auxílio às pessoas em situação de rua. A secretaria também disse por meio de nota que desde o ano passado executa o programa Floripa Social, que reúne entidades como o Ministério Público de Santa Catarina, Comcap, polícias Militar e Civil, secretarias de Assistência Social e Saúde de Florianópolis, além do IGEOF e da Guarda Municipal para atender quem vive nas ruas da cidade.