Nada das cenas glamurosas dignas de James Bond. Eles não vestem smoking, não há charutos e whiskies caros. Nada de Aston Martin ou Rolls Royce no estacionamento e, na mão que esconde o jogo, não há nenhum Rolex. O pôquer dos altos cassinos de Las Vegas ficou mais próximo de curiosos, entusiastas, amadores. E para quem quer mais, as oportunidades de profissionalização cresceram com o fortalecimento do torneios e disputas pela internet.
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São 15h, quando Tiago Napoleão e Fábio Eiji interrompem seus trabalhos. Os dois jogam de 8 até 15 horas diárias de pôquer online por pelo menos cinco dias da semana. Em alguns momentos estão conectados a 25 mesas diferentes ao mesmo tempo e chegam a disputar cerca de 2 mil torneiros por mês.
– De toda minha renda como jogador de pôquer, 90% dela vem de torneios pela internet – garante o paulista Eiji, que desde 2009 é jogador profissional.
Foi em território catarinense que Napoleão e Eiji desenvolveram suas habilidades no pôquer. O que era apenas diversão entre amigos, virou profissão. Ambos ficam conectados durante a semana e aproveitam os torneios ao vivo para descontrair, fazer amigos e, é claro, um pouco de marketing pessoal.
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– No online há uma variedade muito grande de torneios. Difíceis e altos, fáceis e baratos. E como joga-se muito mais que apenas um torneio e com uma gama muito maior de jogadores, o fator sorte dos adversários é diluído e, na soma de todos os jogos, conseguimos prevalecer o fator técnico – explica Eiji.
Napoleão avalia que nos jogos ao vivo há muitos amadores e que o tempo dedicado para apenas um torneio é muito maior.
– Entre deslocamentos e o próprio jogo às vezes são dois dias de dedicação. Enquanto jogo um ao vivo, posso jogar mais de 100 na internet – compara, o paranaense Tiago Napoleão.
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Eles não revelam precisamente quanto ganham jogando pôquer. Resumem apenas que a renda supera 2,5 mil dólares mensais, mas explicam que é extremamente irregular e que é preciso ter cuidados para evitar complicações financeiras.
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::Fortalecimento como esporte
O pôquer brasileiro se fortaleceu com a homologação da Confederação Brasileira de Texas Hold’em (CBTH) pelo Ministério dos Esportes, que incluiu a entidade no calendário nacional em 2012. Hoje não há vestígios que coloquem o pôquer como jogo de azar e nem restrições que impeçam a criação de clubes ou a prática do esporte.
Essa foi uma das maiores conquistas da CBTH na intenção de valorizar as características do jogo que envolve conhecimento, técnica, estudo e treinamento.
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Tais características foram consolidadas com o reconhecimento da Federação Internacional dos Esportes da Mente (IMSA), em 2010, que colocou a prática do pôquer ao lado de jogos como xadrez e damas.
– Esse cenário permitiu que quem praticava somente em casa, se expusesse sem preocupações. Surgiram mais clubes, torneios e mais apaixonados. Além disso, o esporte ainda contou com o crescimento que a internet propiciou – avalia Alberoni Castro, diretor executivo da CBTH desde 2010.
Castro ainda lembra que isso permitiu a artistas e grandes esportistas como Ronaldo Nazário e Rafael Nadal associarem suas imagens ao pôquer.
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– O boom do pôquer em todo o mundo ainda vai acontecer – projeta.
Texas Hold’em
É o principal jogo de pôquer mundial consiste em duas cartas para cada jogador e mais cinco cartas em comum na mesa. Primeiro viram-se três, depois uma e por fim mais uma. A cada rodada são realizadas as apostas por parte dos jogadores e as estratégias e blefes dos ocorrem nesses momentos. O objetivo é montar o melhor jogo usando um total de cinco cartas.

:: Profissionalização em etapas
Fábio Eiji e Tiago Napoleão conseguiram transformar a paixão em profissão. Mas nesse processo enfrentaram algumas desconfianças. Napoleão primeiro precisou garantir um diploma em Ciências da Computação para depois mostrar que os resultados no pôquer poderiam ser sua fonte de renda. Ganhou o apoio da família e da namorada – com quem já noivou.
Com Eiji, não foi diferente. Ele tinha uma resposta pronta toda vez que perguntavam qual era o seu trabalho.
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– Trabalho com internet – dizia ele para evitar mais perguntas.
Depois de descobrirem a paixão pelo pôquer jogando entre amigos, trabalharam como dealer – responsável por dar as cartas – e usaram a observação para aperfeiçoar o próprio jogo. Mais tarde, após as noites de trabalho, discutiam as mãos da mesa e avaliavam os decisões tomadas pelos jogadores com outros colegas.
Antes de se profissionalizar foi importante participar de alguns cursos. É comum buscar um jogador mais experiente para desenvolver melhor as técnicas. O perfil matemático de Napoleão, aprimorado ainda na faculdade repleta de equações, colabora para cálculos e frieza na hora do jogo.
Formado em Pedogogia, Eiji também aprendeu a controlar suas fichas e dosar as apostas para mãos mais promissoras. Agora, a formação universitária o ajuda em outro projeto.
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– Tenho um projeto de ser instrutor, dar cursos e investir em potenciais jogadores. A formação em Pedagogia me ajuda nessa trabalho.
Os cursos de Pôquer se tornaram outra fonte renda além dos jogos. Conforme os nomes se tornam mais conhecidos entre os jogadores, as horas/aulas ficam mais caras e podem superar os mil dólares.
:: Veja onde acontecem as etapas catarinenses e nacionais do Texas Hold’em 2013