Botijão, bolsa, monitor, fios e até portão. Os furtos na região de Capoeiras estão aumentando desde dezembro, e os moradores não têm dúvida de que principal causa está nas drogas. Nem sempre são prejuízos grandes, mas produzem um medo constante. Para agravar a situação, as vítimas dizem que nem com a polícia podem contar.

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O crime acontece por conta do ciclo do vício. Quando chegam ao entorno da Via Expressa, os futuros viciados têm boa aparência e dinheiro para comprar as pedras de crack, que custam R$ 0,50. Quando o dinheiro acaba, apelam: vão pedir dinheiro no entorno das avenidas e ruas principais do bairro. Ou, então, entram nas casas, no desespero para conseguir comida e algo vendável.

Débora Cristina Vieira teve sua casa furtada no dia 24 de maio. Perdeu um botijão de gás, dois fardos de bebida isotônica, uma sacola de laranjas, duas bolsas vazias e comeram o peixe que estava na geladeira. Eram dois ladrões. Um entrou e o outro ficou olhando para ver se os donos não chegavam.

Portão roubado

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A casa da vizinha de Débora está sem parte do portão, roubada por um craqueiro, que chegou a apontar uma arma para a mulher. Débora também já teve um portão furtado. Na casa ao lado, até os fios da cerca elétrica são furtados constantemente. Na mesma rua, uma pessoa teve R$ 6 mil de prejuízo e um cabeleireiro ficou com uma faca no pescoço enquanto era roubado.

– Chamei a polícia, mas eles não vêm – reclama Débora.

Produtos furtados

Uma das pessoas que trabalha com a voluntária Eraci Pereira cumpre uma pena alternativa por ser um “receptador”. Ou seja, ele comprou produto roubado. Os botijões roubados na casa de Débora, ou a carne do freezer da Dom Orione são oferecidos para pessoas que pagam preços baixíssimos por estes produtos.

– O dia que acabarem com os receptadores, o furto acaba – argumenta Eraci.

Nem a igreja escapou

Não existe banco de dados sobre os furtos em Capoeiras. Mas outros crimes colocam o bairro como o segundo em número ocorrências na Capital. O que se sabe é que em Florianópolis, como um todo, a quantidade de furtos caiu, em comparação com 2012. Mas não é o que acontece no bairro, segundo os moradores. Eraci Maria dos Passos Pereira, voluntária da organização de assistência social Dom Orione, já aprendeu a conviver com a violência.

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Já levaram sua bolsa enquanto ela trabalhava, e de tempos em tempos entram na igreja e na Dom Orione. No último assalto, levaram monitores, DVD, roupas de cama e até comida, que serviria para fazer refeições para as crianças e o sopão, que era oferecido aos moradores de rua – inclusive os usuários de crack. Os ladrões provavelmente já haviam sido atendidos pela instituição.

– Nem fazemos mais Boletim de Ocorrência, porque não adianta – lamenta Eraci.

Polícia faz falta para moradores

Existe uma máxima que diz: a polícia incomoda quando está muito perto e faz falta quando está longe. Os moradores de Capoeiras preferem ela incomodando do que distante.

Eraci conta que, há quase duas décadas, um posto policial mantinha sempre dois militares fazendo ronda e recebendo as demandas da comunidade. A violência se mantinha distante dali. Quando o local foi fechado, os furtos começaram a aparecer e os viciados tomaram conta das ruas e praças do bairro. Depois disso, se formou um conselho de segurança, que não durou muito.

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O tenente-coronel Mauro da Silveira, comandante do 22º Batalhão da PM, diz que os conselhos terminam esvaziados após a resolução das demandas. Mesmo em tempos tranquilos, é preciso cuidar da segurança, para não acontecer o que Capoeiras vive hoje.

Coisa de viciados

O tenente-coronel informa que a polícia faz ronda intensiva na região, mas o trabalho é difícil. O furto, explica, é coisa de viciados que precisam ser internados para reabilitação, mas não se pode fazer isso sem o consentimento deles. Outro problema é que muitas vezes se captura o bandido, mas ele não fica muito tempo preso e volta ao crime.

Comunidade já sabe quem são

Entre os viciados da região, é possível saber quem são os ladrões. Atualmente, o “ponto de apoio” dos assaltantes é uma antiga padaria, que fechou por conta dos sucessivos furtos. O prédio vazio é ocupado em alguns horários.

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Ao lado, ficava um salão de cabelereiros, fechado por conta de dois furtos seguidos, feitos pelos ocupantes da padaria. Não se pode ter certeza, mas provavelmente seriam estes os autores dos furtos na Dom Orioni.

Débora, por sua vez, acredita que são pessoas que compram drogas no Bairro Monte Cristo e usam a passarela da Via Expressa. O líder comunitário Ivan Carlos da Luz explica que os responsáveis pelos furtos não são os moradores – são viciados que se instalam nas ruas para ficar perto da fonte de drogas.

– Dentro do bairro não há furtos porque existe uma regra: um cuida do outro, e cuidamos de quem vem de fora – explica Ivan Carlos.

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