A população indígena residente em Santa Catarina chegou a 21.541 pessoas, conforme indicam novos dados do Censo 2022 divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta segunda-feira (7). Houve aumento de 18,2% em relação ao recenseamento anterior, de 2010, mas em menor ritmo se comparado à população geral do Estado e também ao número de indígenas em todo o país.
Continua depois da publicidade
Receba notícias do DC via Telegram
No Brasil, o Censo mais recente identificou 1.693.535 indígenas, um salto de 88,8% se comparado à pesquisa passada (896.917). Já a população geral de Santa Catarina cresceu 21,78% de um recenseamento a outro, passando de 6.248.436 para 7.609.601 habitantes em 12 anos.
Censo 2022: veja como população de SC cresceu em 150 anos
Os originários, representados pelos povos Kaingang, Xokleng e Guarani, estão em 228 dos 295 municípios do Estado. O maior número de indígenas está no município de Ipuaçu, no Oeste do Estado, em um total de 4.034. Lá se localiza a maior terra indígena do sul do Brasil, Xapecozinho, que abrange também o município de Entre-Rios, quase na totalidade ocupada por Kaingang e algumas famílias Guarani.
Continua depois da publicidade
De acordo com o Censo, o segundo município catarinense com mais indígenas é Chapecó, com 2.535, sendo que 1.865 em terra indígena, e 670 sem indicar moradia em territórios. O município de José Boiteux, no Vale do Itajaí, e onde se situa a TI Laklãnõ Xokleng, tem 1.434 indígenas, sendo que 1.296 se identificaram com moradores.
Os dados recentes mostram que a população indígena em Santa Catarina passou a estar agora em maior número fora das terras indígenas (TI’s): são 10.978 pessoas nessa condição ante 10.563 vivendo dentro dos territórios tradicionais. Na pesquisa anterior, eram 9.227 nas TI’s e outros 8.986 fora delas.
O Censo 2022 ainda trouxe agora dados domiciliares dos indígenas em Santa Catarina. O estado conta com 10.089 domícilios particulares permanentes ocupados por ao menos um morador indígena, sendo 2.961 deles dentro das TI’s e os outros 7.128 fora dos territórios tradicionais.
Conheça os povos originários de Santa Catarina
Esses domicílios todos reúnem 32.916 moradores, incluindo não indígenas. No caso dos endereços que estão dentro das TI’s, a média é de 3,56 por residência. Já fora, isso cai para 1,51.
Continua depois da publicidade
O Censo considerou como terras indígenas as que foram assim declaradas, homologadas, regularizadas ou encaminhadas como reservas indígenas até 31 de julho de 2022, data de referência da pesquisa. Já a contagem da população indígena tem como base a declaração dada pela pessoa recenseada.
“Saindo da invisibilidade social”, diz liderança indígena
Para Adroaldo Antonio Fidelis, conhecido pelo nome Kaingang de Duko, a questão do aumento no número de indígenas em Santa Catarina está relacionada ao autorreconhecimento:
— O autorreconhecer ou autodeclarar acontece porque aos poucos, muitos estão saindo da invisibilidade social para ocupar estrategicamente a cidadania e a luta pelos seus direitos individuais e coletivos. A partir disso, nenhum indígena se sujeita mais a ser invisibilizado.
Para ele, que ocupa o cargo de coordenador regional Inter-Sul da Fundação Nacional dos Povos Indígenas da Funai, em Chapecó, por mais forte que sejam o preconceito e a discriminação, o povo indígena não tem mais “vergonha” de dizer que pertence aos originários:
Continua depois da publicidade
— Pelo contrário, o indígena tem orgulho disso — diz Adroaldo, mestre em Educação pela Unochapecó com a dissertação de pesquisa “(Re) existência e luta da história e memória do Toldo Chimbangue-SC: os saberes kaingang enquanto possibilidade de formação no espaço escolar”.
“Recebemos povos da região amazônica”, observa o coordenador da Funai
Hyral Moreira, coordenador regional Inter-Sul da Fundação Nacional dos Povos Indígenas da Funai, na região da Grande Florianópolis, existe ainda outro fator que não pode ser esquecido: a qualificação do trabalho realizado pelos recenseadores do IBGE nas entrevistas realizadas.
— O aumento populacional está dentro do esperado, especialmente porque é o que a gente enquanto uma das lideranças percebe entre os Kaingang, Xokleng e Guarani.
Moreira chama a atenção para outro caso: a presença em Santa Catarina de outros povos, como ocorre na região de Joinville, e que nos últimos anos recebeu famílias da etnia Deni, da região amazônica. Pela pesquisa do Censo, todos os 541 indígenas encontrados em Joinville se declararam fora de um território indígena.
Continua depois da publicidade
— Enquanto coordenador da Funai no litoral catarinense, posso afirmar que parentes estão vindo para Santa Catarina e isso também contribui para o aumento dos povos originários no Estado — diz Moreira.
Coleta de dados
Recenseadores usaram guias-intérpretes para facilitar a comunicação e interpretação do questionário
Para realizar esse trabalho, os recenseadores contaram com auxílio dos guias comunitários, quando necessário, além de guias-intérpretes que atuaram como mediadores para facilitar a comunicação e a interpretação do questionário.
Em muitas localidades, foram acompanhados também por guias institucionais da Funai e da SESAI, que apoiaram o deslocamento até os domicílios e nas interações com os entrevistados. Em 2010, o IBGE inovava ao levar a pergunta de “cor ou raça” para o questionário básico, aplicada a toda a população, incluindo quesitos sobre etnia/povo e língua falada pelos povos indígenas, e, através de um trabalho de compatibilização de malhas cartográficas, viabilizou a introdução espacialmente controlada do quesito “se considera indígena” e a divulgação dos resultados pelo recorte geográfico das Terras Indígenas.
No Censo 2022, foram inseridas diversas inovações, como ampliação da aplicação do quesito “se considera” nas localidades indígenas, introdução de etapas de consulta livre, prévia e esclarecida às organizações indígenas em todas as etapas da pesquisa; planejamento operacional realizado em conjunto com as unidades descentralizadas da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai e da Secretaria de Saúde Indígena – SESAI), instalação de uma sala de situação permanente de monitoramento da coleta com a Funai, monitoramento geoespacial da coleta em tempo real em todas as Terras Indígenas do país.
Continua depois da publicidade
Com a publicação, o IBGE dá continuidade à série histórica de informações estatísticas e geográficas sobre os povos indígenas e pretende contribuir para ampliar o conhecimento, por toda a sociedade, de sua diversidade social e territorial e, ao mesmo tempo, oferecer aos indígenas, às suas comunidades e organizações, dados confiáveis para o exercício da cidadania. domiciliar.
As informações permitem ampliar os conhecimentos sobre infraestrutura comunitária, acesso a recursos naturais, mobilidade territorial, hábitos e práticas, saúde e educação para todas as aldeias indígenas do país. Neste tipo de contagem, que começou no ano de 1991 pelo IBGE, a maior inovação, entretanto, ficou por conta do questionário sobre a aldeia ou comunidade indígena, aplicado às lideranças comunitárias na reunião prévia ao início da coleta domiciliar.
Vídeo explica as etnias indígenas em SC
Leia mais
Eleições para cacique em SC abandonam papel em nome da transparência
O que é o marco temporal indígena
Censo 2022: mapa mostra a população da sua cidade em SC
Internações por desnutrição em SC têm pior patamar em 3 anos e dão alerta sobre fome