O caso da diarista de 42 anos atropelada no domingo em Joinville e levada a Jaraguá do Sul em busca de um leito de UTI é apenas uma amostra da situação difícil pela qual passam os hospitais públicos joinvilenses nesta semana.
Continua depois da publicidade
A lotação no pronto-socorro do Hospital Municipal São José também está em nível crítico. À tarde, havia 38 pacientes a mais do que o número de leitos disponíveis: os 20 masculinos e 16 femininos estavam ocupados.
Outros 13 pacientes esperavam por resultados de exames que ajudariam a definir altas. Há pessoas esperando por procedimentos em macas no pronto-socorro desde o fim de semana. É o caso da atendente Joslei Fröhlich, 33 anos, que completou ontem 11 dias esperando em uma maca no corredor para se submeter a uma cirurgia na perna quebrada.
Se o pronto-socorro ultrapassar o número de cem pacientes excedentes, corre o risco de restringir atendimento apenas a casos de emergência, como ocrreu pelo menos seis vezes neste ano. O caso mais grave foi registrado em fevereiro, quando estavam sendo atendidos 105 pacientes além da capacidade. Ainda em janeiro, os funcionários chegaram a redigir um manifesto para pedir melhorias nas condições de trabalho.
Continua depois da publicidade
Joslei sofreu um acidente de motocicleta no dia 15, quando apresentou o namorado à família. Resolveram dar uma volta após o jantar, mas ela esquecera o casaco. Na volta, bateram contra um carro na rua Dom Gregório Warmeling – a atendente fraturou a perna em dois pontos. Desde então, está internada provisoriamente no corredor do pronto-socorro. Depois de dez dias internada no corredor, Joslei diz não aguentar mais.
– Meu lado psicológico está abalado. O pior é me sentir inútil, dependendo da ajuda dos outros -, relatou.
Como o ritmo de trabalho é puxado, funcionários têm de se virar para ajudar a atendente a ir ao banheiro. Um dia, ela conta que esperou 45 minutos para alguém buscá-la para a maca. Na quarta-feira, cansou de aguardar, tentou ir sozinha e caiu. Como as visitas são liberadas duas vezes por dia, ela encontrou companhia em outra mulher, também “internada” em maca. Elas se ajudam e conversam quando estão sozinhas.
Continua depois da publicidade
Na última visita do médico, na segunda-feira, a cirurgia de Joslei foi garantida para sexta. Mas o horário pode ser adiado caso pessoas com fraturas expostas cheguem à emergência, por terem prioridade.
– Acabo sempre ficando para trás. Daqui a pouco, fico ainda mais doente aqui dentro -, disse a mulher.
Além de Joslei, outras 15 pessoas esperavam ontem por cirurgia ortopédica no hospital.
Busca por vagas em cidades vizinhas
Desde domingo, os dois hospitais públicos gerais de Joinville estão sem vagas nas UTIs. No Hospital Regional Hans Dieter, das 20 vagas, 17 estavam ocupadas ontem e três estavam destinadas a pacientes do pronto-socorro. No São José, os oito leitos da UTI geral e seis da neurologia estavam com pacientes.
Continua depois da publicidade
Segundo informações da assessoria de imprensa do São José, caso a demanda aumente nos próximos dias e nenhuma vaga seja liberada, a opção será levar pacientes para cidades vizinhas ou “comprar” leitos nos hospitais particulares na cidade.
Nos hospitais para públicos específicos, a situação não era muito diferente ontem. O Hospital Infantil Jeser Amarante Faria tinha ontem leitos vagos na UTI, mas poucos. Dos sete leitos neonatais, estavam ocupados seis; dos dez pediátricos, cinco.
Na Maternidade Darcy Vargas, não há vagas para bebês que nascerem prematuros ou com complicações. Das dez vagas de UTI neonatal, todas estão ocupadas.
Continua depois da publicidade
Na rede privada, a busca pelas UTIs também está alta. No Hospital Dona Helena, a ocupação foi de 88,5% em agosto. Na unidade neonatal, das seis ofertadas, mais da metade ficou ocupada no mês passado. Não foram divulgados dados de setembro.