Ao andar pelas ruas dos balneários de São Francisco do Sul é possível encontrar nos pátios e jardins das casas aquela famosa torneira com uma mangueira enrolada. O uso do utensílio é frequente, principalmente nesta época do ano, quando os imóveis começam a ser limpos para a temporada de verão. Só que a atividade está proibida pelo menos até março. Quem usar e desperdiçar água potável para lavar garagens, portões, carros e calçadas deverá ter o fornecimento cortado. O decreto, inclusive, já foi assinado pelo prefeito Luiz Zera. Mesmo assim, o risco de faltar água na cidade ainda é grande.

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O decreto foi assinado ainda em novembro, mais de um mês antes da alta temporada de verão iniciar. Ele vai vigorar até 15 de março. Se a situação ficar crítica e a falta de água se tornar realidade, o Samae, empresa responsável pelo abastecimento e fornecimento de água em São Chico, pode – com aviso prévio – adotar o regime de racionamento. A norma prevê punição com advertência, e corte do fornecimento de água em caso de reincidência. Para religar, será preciso desembolsar uma multa no valor a duas taxas básicas.

Quem irá fiscalizar o decreto são os próprios funcionários do Samae, da secretaria dos Balneários, da Secretaria de Meio Ambiente, Turismo e Lazer, e de Infraestrutura, Urbanismo e Integração (Obras e Posturas). Em caso de dúvida, eles poderão entrar nos imóveis para averiguar. O sistema ainda funcionará com denúncias. As ligações podem ser para o Samae, (47) 3471-2000.

A mesma medida já havia sido tomada para a temporada de 2010/ 2011, e tinha como objetivo a conscientização, e não a punição. A água, naquele ano, faltou mesmo assim. Já na temporada passada a água até aparecia nas torneiras, mas sem pressão nos balneários. A água acabava não subindo para as caixas.

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Para a diarista Zuleide Schmidt, 42 anos, que trabalha principalmente neste período nas casas de veranistas de Enseada, será difícil limpar as residências e deixar tudo limpo aos visitantes com a proibição. Ela não tinha conhecimento do decreto e discorda da atitude do Governo. Para a diarista é preciso arrumar outra solução para evitar que a água falte, como melhorar a rede de abastecimento, porque ela, por exemplo, não pode parar de trabalhar. Em anos passados, quando o problema era maior, Zuleide chegou a usar água do rio para a limpeza. Com a medida, lamenta, talvez esta será novamente a solução.

Problema aos trabalhadores

No ramo imobiliário a preocupação é ainda maior. Como conscientizar o turista a economizar o líquido precioso? É este o desafio dos corretores de imóveis. Segundo José Madeira, 70, que atua em uma imobiliária de Enseada, os interessados em alugar casas são orientados a evitar o desperdício e que a possibilidade de faltar água é grande, principalmente entre Natal e Ano Novo. O problema, acredita ele, é uma junção de fatores.

– A falta de estrutura para o abastecimento, a falta da conscientização de uma parte de moradores e visitantes, e as caixas de água pequenas ou a falta delas nas casas é o que ajuda a faltar água – avaliou.

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Já no hotel de seu Geraldo Fock, 70, por exemplo, a solução vem com o poço artesiano. Ele possui o estabelecimento no fim da Enseada, onde a pressão da água chega mais fraca.

– Se não fosse o poço, onde a água é tratada em seguida, não conseguiríamos manter os nossos clientes e nem limpar a cozinha do restaurante de maneira adequada – disse.

Ele ainda se indigna com a tubulação dos balneários. Ele mesmo cavou no meio fio e mostrou o cano fino que passa ao lado da calçada.

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Caminhões-pipa, geradores e novo reservatório

De acordo com o diretor-presidente do Samae, Fernando Ledoux, o racionamento de água será realizado apenas em último caso. Segundo ele, no ano passado, a água faltou apenas dois dias. Ele almeja que este ano o problema ocorra com menor intensidade. Em caso de falta de água, o Samae já tem contratado o serviço de caminhões-pipa.

– Tudo dependerá da quantidade de visitantes. Temos capacidade em atender 200 mil pessoas sem prejuízos. O que é quatro vezes a mais que a população de São Francisco – explicou o presidente.

A expectativa para este ano é que São Francisco receba entre 250 mil a 400 mil pessoas. Além do decreto, foram trocados motores em pontos de captação, o que, segundo Ledoux, vai aumentar o poder de capacidade de tirar água do rio em 15 litros por segundo, o que dá um impacto no sistema de 10% a mais.

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O motor da estação de tratamento também foi trocado e deve aumentar o bombeamento de água para os balneários, além de manutenção em registros e válvulas. A Prefeitura alugou ainda três geradores elétricos para que, em caso de queda de energia elétrica, os motores não sejam prejudicados. No ano passado, com a queda de luz no Ano Novo, a estação ficou sem operar por seis horas o que causou a falta de água em alguns pontos da cidade.

Para o ano que vem, o prometido reservatório dos balneários, lembrado aqui no A Notícia desde 2010, deve finalmente ficar pronto. Ledoux afirma que ele está em fase de construção do Morro de Ubatuba. A ordem de serviço foi assinada em outubro e o valor da obra será de R$ 2 milhões, com recursos do Samae. O reservatório terá capacidade para armazenar 2 milhões de litros de água.

O que não pode fazer, segundo o decreto:

– Lavar veículos com o uso de água potável distribuída pela rede pública;

– Irrigar gramados, jardins e floreiras, bem como qualquer outro uso de água tratada, que possa significar o uso não prioritário;

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– Reposição total ou troca de água de piscinas e reservatórios de clubes, entidades ou residências;

– Lavagem de calçadas, muros ou pátios de prédios, condomínios ou residências;

– Molhar ruas.

– Os estabelecimentos industriais, comerciais e residenciais, deverão restringir o uso de água potável ao mínimo indispensável para suas atividades consideradas essenciais.