A chegada de mais uma frente fria é motivo de alegria para quem gosta de curtir o clima perto de zero. Apesar do belo espetáculo que a natureza oferece, enquanto os hotéis na Serra catarinense comemoram a superlotação, uma realidade muito diferente acontece para a população de rua, que sofre ainda mais nesse período. Sem o glamour dos casacos elegantes, lareiras e roupas térmicas, quem vive na rua se vira como pode para se manter aquecido.
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Nesta quinta-feira, os termômetros marcaram durante a madrugada 2,5ºC em Florianópolis, temperatura que não era registrada no mês de junho desde 1994. Em São José, houve a ocorrência de geada fraca no bairro Forquilhinhas. Neste mesmo momento, centenas de pessoas dormiam nas ruas, em cima de papelões e com cobertores doados.
Antes das 8h, a fila já estava formada para receber o café da manhã no Centro POP de Florianópolis, que dá suporte a pessoas nessa condição. Depois de passar a noite ao relento, ali a população em situação de rua recebe café da manhã e almoço, pode tomar banho. Além disso, os moradores são encaminhados para os projeto de ressocialização.
Histórias das ruas
Jair*, 38 anos, conta que foi parar na rua há dois anos por problemas com crack. Já dormiu na região da Alfândega, Praça Celso Ramos, Lagoa da Conceição e Praça XV. Nos últimos dias, conseguiu uma vaga no albergue municipal:
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— Com esse frio, ainda bem que consegui a vaga. Na rua a gente até ganha cobertor, o Centro POP doa e também muita gente de igreja ajuda. Quem tá na rua acaba um ajudando o outro, mas não é fácil esses dias de frio dormir em cima de uma grama molhada. Por isso que muito gente acaba na cachaça — disse.
Com o saco de dormir que trocou por um par de tênis, José* passou a noite na Praça XV. Ele conta que há dois dias parou uma caminhonete no local para fazer doações para os moradores de rua, mas a fila foi grande e não sobrou nenhum para ele. Falou com um colega que aceitou fazer a troca:
— Eu era pintor, mas me perdi nas drogas. Eu estou lutando para sair, mas é muito difícil de arrumar emprego, existe muito preconceito quanto tu fala que mora na rua ou dá o endereço do Centro POP — conta.
A marquise de um banco nos arredores da Praça XV é o local onde dorme Isabel*, 50 anos, que voltou há poucos meses para a rua. Em 2013, quando houve uma forte onda de frio, ela também estava na mesma situação e recebeu abrigo no local improvisado pela Prefeitura na Passarela Nego Quirido:
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— Ontem eu doei três cobertores para outros colegas que estavam sem, porque eu tinha ganhado bastante. Mas seria bom se nesses dias de frio tivesse um lugar pra gente ficar. Só em agosto vou pegar meu PIS e conseguir alugar um quartinho — contou.
Reforço nas ações protetivas
Em Floripa, a prefeitura disponibiliza 120 leitos aos moradores de rua, número insuficiente para atender as mais de 400 pessoas contabilizadas pela Secretaria de Assistência Social. Apesar disso, não existe plano para um novo local provisório nesses dias de frio intenso. A medida tomada foi distribuir cobertores e agasalhos no Centro POP. Ainda faltam calçados e meias, por isso a Secretaria aceita doações. Elas podem ser feitas Avenida Mauro Ramos, 1277, Centro.
Previsão
O frio continua intenso nos próximos dias. Nesta sexta-feira, segundo a Epagri/Ciram, a temperatura fica entre 5°C e 18°C em Florianópolis. Amanhã e domingo, o amanhecer será mais gelado: deve fazer 3°C. A máxima no sábado e domingo é de 17°C.