Uma nova febre entre as crianças, o pop it também tem despertado a atenção de adultos, sejam eles pais ou educadores. O brinquedo é oferecido como uma alternativa mais saudável do que as atrativas telas de televisão, celular ou tablet e é considerado uma promessa de acalmar os pequenos.
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De silicone, fácil manuseio e reutilizável, o pop it, traduzido livremente como “estalo” é quase uma imitação do plástico bolha, inclusive por fazer barulho similar. Ele teve seu auge de vendas durante a pandemia do coronavírus, quando chegou a aparecer no Google Trends de consumo, ferramenta de pesquisa on-line que monitora os comportamentos do varejo.
Também chamados de bubbles, por lembrar bolhas, os brinquedos são encontrados no comércio em diferentes formatos que vão de geométricos, como octógonos, quadrados e círculos, a representações de animais e alimentos, como polvo, urso, caranguejo, gato, unicórnio, maçãs ou sorvete.
Sempre colorida, a distração é oferecida até mesmo em pulseiras. E a procura, garante um comerciante catarinense, é grande.
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– Começou em junho [deste ano]. Assim fomos pesquisar para ver do que se tratava, pois era algo novo. Quando encontramos trouxemos cerca de 30 unidades para testar a mercadoria e o fluxo de vendas e, para nossa surpresa, vendemos todo o estoque em dois dias. Na mesma semana conseguimos trazer mais unidades e, desde então, é peça fundamental na nossa loja – conta o proprietário de uma loja de utilidades em Imbituba, no Sul de SC.
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Pais aprovam, professores nem tanto
Dara Gonçalves Hipólito, de 11 anos, antes de ganhar um pop it da família, produzia seu próprio brinquedo em casa. Ainda em 2019, ela e as amigas colocavam amido de milho, trigo e água em um balão para ficar mexendo e amassando enquanto faziam outras atividades. As meninas, inclusive, se presenteavam com o brinquedo.
Em 2020, depois de ver vídeos no Youtube em que as pessoas usavam um fidget toy, Dara pediu para a mãe um brinquedo para desestressar. Leandra Hipólito procurou um pop it no comércio de Imbituba, cidade natal da família, mas encontrou apenas uma bola macia, com função semelhante. Durante as aulas on-line, a menina ficava mexendo no brinquedo para se concentrar na explicação da professora.
Sem encontrar mais opções no comércio local, a família buscou um conjunto de pop it, que vinha diretamente da China, na internet. A menina ganhou 26 brinquedos para desestressar e passou a levar nas aulas presenciais no começo do ano. Assim como ela, outras crianças do Colégio Militar de Laguna começaram a usar o brinquedo, mas apenas no intervalo das aulas.
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As crianças adoram, mas os professores, nem tanto. A professora de uma escola particular de Imbituba, Rafaela Ferreira, conta que o brinquedo virou febre entre as crianças. A educadora diz que quase todos os alunos do Ensino Fundamental e da Educação Infantil da escola têm o pop it.
— Faz dois meses que virou febre. Eles dizem que é para acalmar e desestressar, só que na sala está bem difícil. Enquanto estamos explicando ou eles estão escrevendo, ficam apertando essas bolinhas o tempo inteiro. Está bem complicado. Queremos criar uma regra porque tem alguns que nem sabe para que serve, mas querem ter porque o amigo tem. Está igual naquela época do fidget spinner — lembra Rafaela.
Em 2017, o hand spinner também virou febre nas escolas. Criado no início da década de 90 para ajudar no tratamento de crianças com déficit de atenção, o brinquedo passou a ser usado por todas as crianças. A mãe de Dara conta que o pop it também desperta a atenção dos adultos.
— Ela fica brincando, e se tem um adulto por perto, já pega e também vai apertando, porque dá vontade. A Dara me contou que um dia levou na Educação Física e o professor pediu para ela não usar, mas quando pegou o brinquedo na mão começou a mexer também. É muito legal. Eles usam a criatividade para montar diferentes formas — conta Leandra.
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A mãe da menina também acredita que os fidget toys são benéficos quando usados da forma correta. Para Dara, o pop it serve realmente para desestressar.
— Acredito que tudo em excesso não é bom, mas ela diz que desestressa em alguns momentos. Claro, é um exercício repetitivo, mas como ela usa pouco tempo, acredito que não vai dar problema e ainda dá uma aliviada na mente. Acredito que é um benefício mental, porém físico não é tão bom se usar direto — opina a mãe.
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Benefícios e malefícios do pop it
A psicopedagoga Fernanda Spengler explica que o brinquedo, apesar de ter um viés mais tranquilizante por fazer com que a criança se ocupe por um determinado período, tempo em que consegue descarregar um pouco da tensão e desconectar do excesso de informações das telas, o uso em excesso do pop it não pode ser permitido pelos responsáveis.
– Em comparação com um celular, um tablet, esse brinquedo tem muito menos estímulo, o que de alguma forma tem um efeito mais calmante, menos agitado e menos ansioso, mas o uso em excesso não faz bem. Nem para a concentração, nem para a atenção, muito menos para a interação da criança num meio social – avalia.
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Conforme a especialista, durante as aulas, o brinquedo deve ser guardado, assim como deve ser deixado de lado durante outras atividades simples, como nas refeições:
– O uso desse brinquedo durante outras atividades vai interferir de forma negativa em vários aspectos. Na escola, por exemplo, o nível de concentração exige que a criança esteja presente e com foco educacional. O mesmo acontece na hora do almoço: ela tem outros focos durante a alimentação. Seja prestar atenção naquilo que ela está fazendo, seja interagir com quem está com ela.
Por fim, a psicopedagoga ainda destaca a importância de não se estimular o consumismo já na infância através de compras desnecessárias. Segundo ela, o caso do pop it é um clássico para se trabalhar a valorização dos objetos e o controle das necessidades e dos desejos em uma época em que os interesses mudam rapidamente.
– Embora não tenha muitas variações, ele [o pop it] vai ter várias cores e formatos diferentes, mas com o mesmo objetivo: manusear. Então a gente vai ver crianças que têm 5, 6, 10 objetos desses porque um é mais bonito o outro é diferente e a gente acaba estimulando a entrada nesse ritmo frenético de compras – completa com a orientação.
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Sem respaldo científico
A novidade que virou febre principalmente na internet, onde vídeos são publicados por usuários do pop it, ainda não é reconhecida pela Sociedade Brasileira de Pediatria como um brinquedo que traz benefícios para a ansiedade, o stress e ou, até mesmo, a concentração, segundo a integrante do Departamento Científico de Pediatria do Desenvolvimento e Comportamento da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), Ana Márcia Guimarães Alves.
– É mais uma ferramenta que pode ser usada para várias habilidades da criança como, por exemplo, aprender a contar, a categorizar. Também estimula a parte sensorial, porque tem o toque, tem a mudança de posição da bolinha, é colorido. Então, sim, é interessante, mas não é um brinquedo cientificamente estudado – pondera.
Mesmo sem benefícios comprovados por pesquisas, em relação ao desenvolvimento infantil, Márcia enfatiza que o pop it, assim como outros brinquedos manuais e sensoriais é “muito melhor” do que o excesso de tempo de tela.
– Nesse ponto ele é uma oportunidade boa para se diminuir o tempo de tela das crianças – conclui.
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O que é o pop it?
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