A Terra está próxima de atingir cinco pontos de não retorno, algo que pode desencadear catástrofes ambientais irreversíveis. De acordo com alertas de especialistas, a culpa é do aquecimento global que, caso não seja controlado, poderá gerar eventos como o colapso de corais de águas quentes, degelo do permafrost e o derretimento de grandes porções de gelo no Ártico e na Antártida. As informações são do g1.
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A situação foi constatada em um estudo feito por pesquisadores da Universidade de Exeter, no Reino Unido, e financiado pelo Fundo Bezos Earth, do empresário Jeff Bezos.
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— Esses pontos de inflexão [como também são chamados] representam uma ameaça para a humanidade de uma magnitude sem precedentes — explicou Tim Lenton, especialista em sistemas terrestres da Universidade de Exeter e chefe do relatório à AFP.
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Saiba a seguir quais são os cinco pontos citados no estudo.
Corais de águas quentes
Entre os casos mais dramáticos está o dos corais de águas quentes. Conforme Francyne Elias-Piera, PhD em Ciência e Tecnologia Ambiental pela Universitat Autònoma de Barcelona, esses recifes são ecossistemas altamente sensíveis às mudanças climáticas, principalmente ao aumento da temperatura da água e à acidificação dos oceanos.
Os corais estão localizados em áreas ao redor do Equador onde a água é mais quente, e onde eventos moderados e severos de branqueamento têm ocorrido com maior frequência nos últimos anos. O aumento na temperatura da água faz com que os corais expulsem as algas simbióticas que vivem em seus tecidos, o que resulta na perda da coloração que ameaça a saúde dos recifes.
Em 2020, um estudo da Rede Global de Monitoramento de Recifes de Coral (GCRMN) mostrou que o mundo perdeu cerca de 14% de seus recifes desde 2009. Os dados foram coletados em mais de 12 mil locais em 73 países ao longo de 40 anos (1978-2019).
A pesquisadora sugere alguma ações que podem salvar os corais:
- Monitoramento eficaz
- Cooperação entre cientistas e comunidade
- Apoio a iniciativas existentes
- Estabelecer áreas protegidas
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— A comunidade científica necessita estar unida com a comunidade local, para que passe as informações dos estudos científicos para a população e para que a população local também passe informações do que está acontecendo no ecossistema — disse, em entrevista ao g1.
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Circulação do Atlântico Norte
Conforme a mestranda em ciência e tecnologia do mar na Unifesp, Adriana Lippi, o planeta tem um grande distribuidor de calor, chamado de circulação termohalina, movida principalmente pelas diferenças de temperatura e salinidade entre regiões equatoriais e polares.
— Com o aquecimento global, todo o oceano tem se aquecido [veja gráfico abaixo] e as regiões mais frias estão cada vez mais aquecidas e isso desacelera a circulação termohalina — explica.
Aproximadamente 90% do calor global está armazenado nos oceanos. Por isso, as mudanças nessas correntes influenciam o clima em várias regiões do globo. Alguns estudos indicam que há uma desaleração de 15% no sistema de correntes atlânticas desde a metade do século 20, principalmente na corrente do Giro Subpolar do Atlântico Norte, localizada perto das costas da Groenlândia e Labrador.
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De acordo com o IPCC, neste local e no Mar do Labrador e Mares Nórdicos, foram observadas mudanças na salinidade, que foram associadas a alterações nas entradas de água doce, que ocorreram com o derretimento do gelo, circulação oceânica e escoamento fluvial.
Cientistas explicam que a única maneira de impedir a paralisação do sistema, neste caso, é reduzir as emissões de gases do efeito estufa e o consequente aquecimento do planeta.
Manta de gelo da Groenlândia
Dados apontam que desde a Revolução Industrial, a temperatura média do planeta subiu de 1,1ºC a 1,2ºC. Mas os impactos não se limitam à atmosfera, alcançando também os oceanos.
De acordo com Francyne Elias-Piera, PhD em Ciência e Tecnologia Ambiental pela Universitat Autònoma de Barcelona, as correntes atmosféricas e marinhas agora estão mais quentes. Isso faz com que o manto de gelo na Groenlândia derreta ao ser atingido por elas. Um processo que pode afetar diretamente no aumento do nível do mar.
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— Nesses locais, as montanhas e as rochas são de uma cor escura, e sem o gelo, ficam expostas. As rochas escuras absorvem o calor do sol, esquentando ainda mais o local — pontua.
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Os pesquisadores citam no relatório outro ponto crítico ao considerar a questão. Se o manto da Groenlândia se desintegrar, pode ocorrer uma mudança abrupta na Circulação Meridional Atlântica, uma corrente crucial que fornece a maior parte do calor à Corrente do Golfo.
Isto pode intensificar o El Niño, um fenômeno que já vem trazendo diversas transformações no clima nos últimos meses.
Pelo 27º ano consecutivo, a Groenlândia perdeu gelo. Em julho, por exemplo, o derretimento foi alto com chuvas e neve acima do normal na primavera e início do verão no Hemisfério Norte. Por conta disso, cientistas alertam que a possibilidade de chegar em ponto de não retorno está próxima, já que o desaparecimento do manto de gelo pode se tornar irreversível.
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Manto de gelo da Antártida Ocidental
Uma situação parecida ocorre na Antártida. Em julho de 2023, o local registrou o recorde de menor extensão do gelo marinho desde que os registros por satélite contínuos começaram em 1978. Isso também é resultado do aquecimento global.
Cientistas alertam especialmente para o derretimento acelerado da camada de gelo na Antártida Ocidental, impulsionado pelo aquecimento do Oceano Austral, principalmente na região do Mar de Amundsen.
Permafrost – solo congelado do Ártico
O permafrost é um tipo de solo congelado encontrado, principalmente em regiões muito frias como o Ártico, Alasca, Rússia, China e Europa Oriental. O descongelamento desse solo, que atinge 23 milhões de km² no norte do planeta, não é visto de maneira fácil, já que ele fica abaixo da superfície, porém pode gerar sérias consequências.
Estudos recentes mostram que o permafrost armazena cerca de 1,7 bilhão de toneladas de carbono.
— O descongelamento do permafrost pode levar a uma série de impactos significativos, incluindo a liberação de gases de efeito estufa armazenados, mudanças na hidrologia local e instabilidade do solo — alerta Francyne.
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O aquecimento global tem aumentado rapidamente as temperaturas do solo. Nos últimos 30 anos, elas cresceram entre 1,5 a 2,5 graus, causando o derretimento de algumas camadas. Já um aumento de 3 graus Celsius nas temperaturas globais pode derreter cerca de 30% a 85% das camadas superiores de permafrost no Ártico, o que geraria danos à infraestrutura e mudanças irreversíveis nas paisagens e ecossistemas únicos do mundo.
— Entre as estratégias preventivas a abordagem mais eficaz é a redução global das emissões de gases de efeito estufa para limitar o aquecimento global e, assim, reduzir o descongelamento do permafrost — acrescenta.
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