Pelo menos três vezes por semana, o analista de sistemas Alisson Endi Julio, de 25 anos, usa o táxi para se deslocar de casa até o trabalho. Por ser cadeirante, ele depende de um táxi adaptado para chegar ao destino em segurança.

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– O táxi facilitou a minha vida e me deu liberdade. Antes, eu dependia da disponibilidade do meu pai ou do Transporte Eficiente (ônibus adaptado que circula em Joinville) para sair de casa. Agora tenho mais alternativas – diz Alisson.

:: MURAL: você é a favor ou contra o ponto livre para os táxis com acessibilidade? ::

Atualmente, seis táxis operam na cidade e todos eles enfrentam dificuldades de aceitação por parte dos outros motoristas da categoria. Isso porque têm autorização de parada livre da Prefeitura, podendo circular por todos os pontos da cidade, conforme o edital de licitação número 226/2012.

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– Somos ameaçados de morte por causa disso. Eles (os demais motoristas) estão revoltados e dizem que vão destruir os nossos carros também – conta o taxista Giuliano Heringer, 38 anos.

Ele argumentou que o ponto livre é essencial para a sobrevivência dos carros, principalmente porque a quantidade de usuários com deficiência – cerca de 60 por semana – não é suficiente para pagar as despesas do veículos. No entanto, a falta desse serviço afetaria diretamente a rotina de Alisson e de todos os passageiros que dependem dele.

Apesar de Alisson ter o apoio da família para levá-lo aos lugares quando há necessidade, nem sempre o pai dele, que é professor de curso técnico, consegue atendê-lo devido aos horários de aula. Neste caso, é necessário agendar o Transporte Eficiente com no mínimo 24 horas de antecedência.

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– Se eu tiver um evento no sábado ou no domingo, por exemplo, tenho que marcar com o transporte até sexta-feira à noite. Se eu receber um convite depois desse horário, não posso contar com esse ônibus – argumenta Alisson.

Outra questão que preocupa o pai dele, Vilmar Julio, 49, é a falta de segurança do Transporte Eficiente.

– Como o meu filho tem amiotrofia muscular espinhal (limitação óssea da musculatura do corpo), ele não conseguiria se apoiar no caso de uma batida, diferente de outros cadeirantes, que têm força no braço para se segurar. Com o táxi, fico muito tranquilo.

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Seinfra garante ponto livre

O ponto livre é fundamental para os táxis acessíveis continuarem funcionando. Apesar do preço da bandeira e do quilômetro rodado ser o mesmo para todos os clientes, o investimento e a manutenção dos veículos adaptados são mais caros. Giuliano explica que um carro adaptado custa, em média, R$ 92 mil, enquanto os veículos tradicionais podem ser comprados por R$ 26 mil.

O taxista também enfatiza que, caso a parada livre nos pontos de Joinville não seja mais permitida, o serviço poderá ser extinto devido ao alto custo de operação. Hoje, o táxi acessível é essencial para a rotina das pessoas que têm dificuldade para se locomover com o transporte coletivo comum. Em Joinville, cerca de 32.336 pessoas têm algum tipo de deficiência motora, segundo o censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

_ O táxi adaptado foi requisitado porque os táxis comuns não atendiam as pessoas com deficiência e nem todas elas têm condições ir sozinhas até o ponto de ônibus _ esclarece o presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência (Comde), Paulo Sérgio Suldovski, que também enfatizou que o ponto livre é necessário para que os taxistas consigam sustentar o serviço na cidade, pois eles não podem usar o gás natural.

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A parada livre é um direito dos táxis especiais que participaram da licitação pública número 226/2012 da Prefeitura de Joinville. Apesar da reclamação de parte dos taxistas da cidade quanto ao ponto livre, o gerente da Unidade de Transportes da Secretaria de Infraestrutura Urbana (Seinfra), Glaucus Folster, garante que o direito será mantido.

_ Existiram problemas pontuais, mas nós conversamos com esses taxistas para solucionar o caso _ diz o gerente.

Ele também fala que a licitação contemplou nove táxis acessíveis. Atualmente, seis já estão rodando e os outros três taxistas estão aguardando a montagem do carro. Caso o problema não seja resolvido, o presidente do Comde afirma que o conselho entrará com um pedido para que toda a frota seja acessível, pois todas as pessoas tem o direito de usar qualquer tipo de transporte.

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Sindicato tenta resolver impasse

O presidente da Cooperativa de Rádiotáxi de Joinville, Lindolfo da Trindade, confirmou para a reportagem de “A Notícia” que há rejeição de parte dos motoristas por causa do direito ao ponto livre dos táxis acessíveis. Mas ele ressalta que a lei está sendo cumprida e que a categoria vem conversando com a Prefeitura para resolver essa situação.

– Nós não queremos que ninguém seja prejudicado, principalmente os clientes que precisam desse serviço – esclarece.

Com relação à possibilidade de os táxis acessíveis pararem os trabalhos caso não tenham mais parada livre nos pontos de Joinville, Lindolfo ressalta que esse não é o objetivo. Ele espera que a situação termine da melhor forma possível e que os taxistas continuem trabalhando com liberdade.

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O presidente do Sindicato dos Taxistas, Francisco de Assis Marques, também diz que há um desentendimento entre integrantes da classe por causa do ponto livre, mas que eles já estão conversando para solucionar o impasse. No entanto, os dois desconhecem as ameaças que os taxistas sofreram.

VÍDEO: depoimento sobre os cuidados para o transporte do cadeirante: