Uma mistura de euforia e apreensão toma conta de milhares de moradores de dois bairros de Joinville, separados por quilômetros quadrados de mangue e pelo vaivém da maré que leva a água do rio Cachoeira para a baía da Babitonga. De um lado, o Adhemar Garcia, na zona Sul. De outro, o Boa Vista, na zona Leste.
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Há seis meses, não há roda de amigos que não comente, critique, elogie ou comemore o anúncio do projeto da ponte que vai ligar os dois bairros e desafogar o trânsito nas ruas do entorno do Parque da Cidade. Os moradores já conheceram o projeto da estrutura de cerca de 960 metros de comprimento e 23 de largura que deve ser levantada sobre o mangue e o rio. Agora, eles esperam pelo começo das obras. E, para isso, um grande passo foi dado na semana passada, durante a visita da presidente Dilma Rousseff à região. Um financiamento de R$ 2 bilhões do Banco do Brasil, que foi liberado pela União ao governo do Estado, inclui as obras para a ponte de Joinville.
Agora, está sendo licitada a empresa que fará o licenciamento ambiental. A Prefeitura pretende começar as obras ainda no começo de 2014 e concluí-las no segundo semestre de 2015.
A proposta de construir uma ponte ligando os dois bairros foi tema de inúmeros debates nas últimas campanhas eleitorais. Em junho deste ano, o governador Raimundo Colombo e o prefeito Udo Döhler deram as primeiras pistas de como a ideia deve ser tirada do papel.
– Agora, tem um projeto. Se a ponte for feita, será muito bom para todos nós que moramos aqui, mas será melhor ainda para a cidade – diz José Leonir Daves, um dos moradores mais antigos da rua Chaminé, um loteamento que margeia a avenida Alwino Hansen, no Adhemar Garcia.
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A avenida é duplicada e será fundamental para o trânsito depois da construção da ponte. Na via, há bares, lojas, material de construção, casas e o Caic Mariano Costa. É a principal entrada e saída do Adhemar Garcia e nela ficará uma das cabeceiras da ponte. Daves mora há mais de 20 anos no bairro. Ele e os amigos Sadi Vieira da Silva e José Claudio Santiago resumem o momento dos moradores, apontando um sentimento entre a incredulidade e a comemoração.
– A gente se encontra e sempre fala da ponte. Encurtaria bastante para chegar nas indústrias, que ficam lá do outro lado – diz Claudio.
Em momentos de trânsito tranquilo, é possível fazer os 8,4 quilômetros de um bairro a outro em 15 minutos, respeitando todos os limites de velocidade das vias. Mas em horários de pico, rodar nesse percurso chega a demorar mais de uma hora. Longas filas se formam nas ruas Guanabara, Santo Agostinho, Graciliano Ramos, Aubé e no binário da Albano Schmit com a Prefeito Helmut Fallgatter.
Situação diferente nas duas pontas
Para erguer a ponte, a Prefeitura quase não terá de se preocupar com desapropriações do lado do Adhemar Garcia. A avenida Alwino Hansen é suficientemente larga para o trânsito futuro e a ponte poderá ser uma espécie de prolongamento das vias. Do outro lado, a situação é bem diferente. As ruas São Leopoldo e São Borja, no Boa Vista, são estreitas e a situação imobiliária ainda vai depender de muitos estudos. Boa parte dos moradores mora em área invadida e não conseguiu legalizar os terrenos.
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Também há uma movimentada entidade, a Associação dos Pescadores do Bairro Boa Vista. São mais de 100 associados que usam os 36 boxes para embarcações. No local, também há uma rampa pública, por onde outros 100 pescadores de fora da entidade entram e saem do rio.
Assim que leu a notícia da construção da ponte publicada no “A Notícia” em junho deste ano, Alexandre Santos, um dos diretores da associação, fez fotos da reportagem com o celular e apresenta em cada uma das assembleias. A entidade também deve servir como porta-voz das dúvidas da comunidade. A principal delas diz respeito às desapropriações. A Prefeitura ainda não procurou os moradores, isso deve ser feito a partir do ano que vem. Por enquanto, todo o esforço está concentrado na elaboração dos projetos e nas licitações.
Esperança no futuro
As donas de casa Maria da Rosa, Gasparina Oliveira e Laura Silva entenderam que terão de abrir mão do sossego, da tranquilidade de ver as crianças brincando na rua. Como atualmente as ruas não têm saída, quase não há movimentação de veículos e quase todos que entram ali são moradores ou conhecidos.
Com a pequena Maria Heloísa, de um ano e meio, nos braços, Laura também olha para o futuro pensando nas mudanças.
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– Quando a gente chegou, era tudo lama. Agora, tem asfalto. E vai melhorar mais – diz Gasparina.