Um apresentador de terno e gravata surge em um estúdio de televisão sob a icônica trilha sonora do Globo Repórter. “Quanta coisa mudou em Floripa no último mês”, diz ele, com entonação que lembra o jornalista Sérgio Chapelin. Trata-se, no entanto, do prefeito Topázio Neto (PSD) estrelando a paródia “Top Repórter” em vídeo no TikTok para detalhar o andamento de obras públicas em Florianópolis.

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A prestação de contas com jeito de entretenimento é mais um vídeo viral do prefeito da Capital na plataforma, que tem feito políticos de Santa Catarina adotarem nas redes sociais uma nova linguagem, com a qual agora se arriscam a andar de skate, conversam com bichinhos e até viram memes.

O despretensioso formato tiktoker já caminha, na avaliação de especialistas ouvidos pelo NSC Total, para se consolidar como nova estrela do marketing político nas eleições municipais de 2024.

@topazioprefeito

Nesta sexta-feira vamos mergulhar nas profundezas das ações dos últimos dias em Floripa. Obras esperadas há anos que foram entregues. Confira!

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♬ som original – Topázio Prefeito

Roteirista dos vídeos e idealizador da estratégia com Topázio, o secretário de Comunicação de Florianópolis, Bruno Oliveira, diz que a aposta na linguagem mais leve surgiu em um contexto em que o prefeito era pouco conhecido na Capital, logo após ter assumido o cargo com a renúncia de Gean Loureiro (União Brasil), que disputou o governo de Santa Catarina no ano passado e também adotava o bom humor em sua comunicação institucional.

O plano deu certo e popularizou o prefeito até fora de Florianópolis. Topázio soma atualmente 136 mil seguidores no TikTok, número maior do que o saldo de votos que elegeu sua chapa em 2020 (cerca de 126 mil), e já influencia colegas nacionalmente, aos quais palestrou no recente 1º Encontro de Tiktokers com foco em marketing político e comunicação institucional, feito por uma agência do ramo em abril.

— A mudança de comunicação dos políticos é quase natural, porque, ou você se comunica assim, ou você não se comunica. As coisas mudaram. A gente está indo para onde as pessoas estão indo, para o Tiktok, o Instagram, então o prefeito tem que estar onde elas estão — diz o secretário Bruno Oliveira.

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— Agora, toda a postagem, todo vídeo que a gente faz, tem um viés de comunicação de interesse público. Por mais que a gente use truques e algumas brincadeiras, que, óbvio, a gente usa para chamar atenção, elas sempre levam alguma informação necessária, de utilidade pública — completa o secretário, que faz os vídeos com um iPhone e uma toalha verde para adaptar um chroma key, sem que seja necessário um teleprompter, já que o prefeito se sente à vontade para decorar as falas de cada gravação.

Também na Grande Florianópolis, o prefeito Orvino Coelho de Ávila (PSD), de São José, deu guinada semelhante à do colega de partido nas redes sociais. Com postagens antes mais conservadoras e fiéis ao perfil de político tradicional, ele agora divide detalhes do próprio signo com seguidores e faz graça de si mesmo ao conversar com um cachorro para divulgar um mutirão de castração na cidade.

Linguagem tiktoker

Responsável pela nova roupagem de Orvino nas redes, o secretário de Comunicação na cidade, Maurício Locks, faz avaliação ao encontro do que diz seu par de Florianópolis: a linguagem tiktoker se adapta ao interesse das pessoas e potencializa a comunicação de serviços importantes da comunidade.

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— A informação tem que estar onde as pessoas estão. Teve uma época que existiu uma febre de colocar monitor em tudo quanto é lugar, no elevador, no ônibus, e aí se pensou em uma comunicação para isso. Hoje, as pessoas estão no TikTok. As pessoas buscam, proporcionalmente, mais informações hoje no TikTok do que no Google. Então, se as pessoas estão lá, a gente tem que oferecer conteúdo onde elas estão — afirma o secretário de São José.

Locks e Oliveira concordam que o tom descontraído funciona somente até onde ele de fato corresponder à personalidade do político, sem exagerar para criar um personagem, mas para humanizá-lo.

@jorginhomello.sc Domingo foi o dia de vestir a camisa do Tigre e entrar em campo para defender uma causa: a alegria de ver o futebol aliado à solidariedade. O Jogo das Estrelas reuniu destaques dos esportes com o objetivo de arrecadar alimentos para a Associação Feminina de Assistência Social de Criciúma. E o resultado foi claro: estádio lotado e torcida feliz com um verdadeiro espetáculo em campo. Também fiz a minha parte batendo uma bolinha com meus amigos e ídolos. O dia foi corrido, de muito trabalho, mas também recompensador. Uma boa noite a todos! #Futebol #SantaCatarina #Criciúma #governadorjorginhomello ♬ som original – Jorginho Mello

— É de fato mostrar o que a pessoa já é. O prefeito Orvino já tem quatro animais, já tem cachorros e gato adotados em casa. Então, por que não contar isso? E o trabalho do Dibea [Diretoria de Bem-Estar Animal] em São José já é uma referência. Então, já uma pauta local. A gente só abraça isso — diz Locks, que já assessorou o governador Jorginho Mello (PL) e o ex-governador Carlos Moisés (Republicanos), também apostando em uma linguagem menos dura para mostrar o “lado B” de ambos os políticos.

— O Topázio é desse jeito. Em uma campanha política, tu pode até vender um político que não existe, mas, no dia a dia, é impossível. Então ele é aquilo ali. Agora, obviamente, ele é o prefeito e não pode dizer qualquer coisa. Então, volto: todas as postagens têm um viés de utilidade pública. No vídeo do Globo Repórter, ele brincou, mas estava falando das obras da cidade. O cuidado que a gente tem é esse: não fazer uma brincadeira só por brincar. Todo vídeo tem um objetivo de chegar nas pessoas com uma informação de interesse público — diz o secretário de Florianópolis.

Estrategista político avalia adoção do formato

Especialista em marketing político e sócio-proprietário da Agência Nuvem, a que organizou o encontro de tiktokers com a palestra de Topázio, Fred Perillo diz que o Tiktok e a linguagem proposta por ele, repetida pelo Reels do Instagram e o Shorts do YouTube, chegaram para ficar. O estrategista avalia ainda que a adoção do formato será inevitável para quem queira ter sucesso nas próximas eleições.

— Eu entendo que não seja um modismo. Para 2024, os candidatos precisarão entrar no TikTok. Mas é preciso saber o momento, eu falo para alguns clientes que não é necessariamente preciso entrar agora. De repente, você cria um perfil na rede social e acompanha o movimento para depois produzir conteúdo — projeta.

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Perillo diz que é preciso entender o funcionamento do TikTok: diferentemente do Facebook ou do WhatsApp, por exemplo, ele tem como carro-chefe o entretenimento, e não a interação entre usuários que configura as redes sociais já usuais. Ainda segundo o consultor, a política e a comunicação nas outras plataformas terão que adotar essa mesma lógica inevitavelmente.

— A comunicação política hoje tem que ter entretenimento, e aí não importa a plataforma. Se ela for chata, e eu falo não só de candidatos mas também de prefeituras e governos, não vai ter audiência. E a lógica do TikTok é essa: eu preciso ser diferente. Não falo nem em ser engraçado. Não precisa fazer dancinha. Mas tenho que fazer algo diferente, inusitado. Então, a gente vê hoje que os políticos que são bem-sucedidos nas redes sociais são aqueles que usam às vezes um meme, a linguagem mais descontraída — avalia, com a ressalva de que o conteúdo não deve ser apelativo ou tosco.

O consultor afirma ainda que, apesar da iminente ascensão do TikTok para as próximas eleições, o formato deve coexistir com outros já consolidados, como os podcasts e as listas de transmissão no WhatsApp. Além disso, é preciso cuidado, ao menos para os políticos, em transformar engajamento em voto, já que a base de seguidores pode muitas vezes ser de outros estados ou cidades.

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— A comunicação tem que ser multiplataforma e com uma integração das redes para as ruas. Muita coisa que vai acontecer em caminhadas, em reuniões políticas e comícios vão para o TikTok. Já está havendo uma tendência de conteúdo do político na rua, em visitas, em obras, criando conteúdo ali. E aí você faz uma equação correta: posso usar o TikTok para convidar as pessoas para um evento de rua, e eu uso essa reunião na rua para produzir conteúdo. Aí eu retroalimento as duas coisas — diz Perillo.

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