A Copa das Confederações, chamado de ensaio da Copa do Mundo, está em andamento, mas as pessoas só falam das manifestações. Consequência de um acumulado de insatisfações que tirou os jovens da frente do Facebook e ganhou corpo com a reação desproporcional da Polícia Militar afirma Valmir dos Passos, professor de Ciências Sociais da Unisul. Ele ressalta que as tão mencionadas redes sociais são apenas ferramenta e que o poder está na adesão dos usuários conectados.
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DC – Como os protestos ganharam tamanha dimensão?
Valmir dos Passos – O Movimento do Passe Livre foi as ruas reclamar do aumento de R$ 0,20 da tarifa de transporte em São Paulo. A reação desmedida da Polícia Militar com spray de pimenta, gás lacrimogênio e balas de borracha engrossou o movimento.
DC – Quais as características destes protestos?
Passos – O Passe Livre já estava estruturado por isso as manifestações começaram com a questão do transporte. O movimento é formado por jovens, mas não tem bandeiras semelhantes as da década de 1960.
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DC – Mas há descontentamento político?
Passos – Há uma crise de legitimidade. O sistema eleitoral é influenciado pelo poder econômico e o protesto é para que setores deixem de definir as agendas de debates. Falam de reformas a 15 anos e o que se vê são velhas práticas eleitorais. Os manifestantes não são contra os governos federal, estadual ou municipal. Ocorre que as pessoa não se sentem representadas pelos políticos.
DC – Talvez por causa dos maus exemplos da classe política?
Passos – Os fatos se somam. Impunidade materializada em figuras com Sarney e Renan Calheiros, juízes com auxílio alimentação retroativo recebendo contracheques de R$ 100 mil. Subir no prédio do Congresso Nacional é simbólico porque nestas situações o poder é o alvo preferencial.
DC – É uma manifestação diferente, mas a razão é a mesma da eleição de figuras como Tiririca?
Passos – O Tiririca é um voto de protesto, um debocha com a política.
DC – E tanto se fala nas redes sociais, mas elas têm tanta importância ou são apenas meios?
Passos – São ferramentas. É a quantidade de pessoas acenando que dá poder ao movimento.