Aposentado como professor de Educação Artística, Pedro Cabral foi filiado ao PT há 18 anos atrás. Escolheu o PSOL por se identificar com os ideais de esquerda. Já pela nova legenda, passou a atuar efetivamente na política partidária em 2016, quando concorreu a uma das vagas na Câmara de Vereadores de Florianópolis. Não chegou a se eleger, mas ficou como suplente. Agora, dois anos depois, aceitou o convite do PSOL para lançar candidatura do Senado e ajudar a fortalecer o partido em SC.

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Confira abaixo o que o candidato tem a falar em mais uma entrevista da série com os candidatos catarinenses ao Senado produzidas pelo Diário Catarinense.

Perfil

Nascimento e idade: 03/07/1960 | 58 anos

Naturalidade: Florianópolis (SC)

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Profissão: professor aposentado

Escolaridade: doutorado

Carreira política: nunca foi eleito para cargo público

Vídeo: confira as principais propostas de Pedro Cabral, candidato ao Senado pelo PSOL

O senhor construiu a carreira no magistério e, nas últimas eleições municipais, concorreu a uma vaga na Câmara de Vereadores de Florianópolis. Essa foi o começo na política partidária?

Eu fiz universidade pública, não na federal, eu sou oriundo da Udesc. Na Udesc a gente acaba convivendo com o movimento estudantil e eu tinha relação com as comunidades eclesiais de base, eu fazia parte do grupo de jovens e essas coisas da igreja católica e, nesse movimento, tu começa a perceber que a resolução das coisas passa pela discussão da política partidária. Não o ato político, isso é o que a gente faz independente de você estar partidarizado ou não, né? Mas eu comecei a perceber que a discussão passava necessariamente pela política partidária, estar filiado a um partido. Muito tranquilamente, então, me filiei a um partido político, ao PT na época e aí militei no PT até 2000, até o primeiro governo do Lula, onde ele, ao meu modo de ver, o PT caminha para um lado que não era um lado que me agrava. Não era para isso que eu fui militar lá e acabei saindo junto com outros companheiros e acabamos fundando o PSOL. A minha relação com a política partidária ela vem nesse esteira de perceber que há mudança de fato, além de falar de política, é estar imerso nessa discussão. No bom sentido, é se sujar nessa discussão, porque as pessoas falam muito de política e de político. Eu gosto de falar que a política e os políticos desse país são reflexo desse país. Se os políticos tem um problema hoje e o jeito de fazer política é o mesmo jeito há 500 anos, e é verdade, é porque a população também é assim. No caso das mulheres, o desrespeito às mulheres é um desrespeito muito antigo, aos gays, aos negros é muito antigo. O desrespeito às pessoas com deficiência é muito antigo. Nós temos que fazer essa discussão. É possível fazer isso só através do partido político. Então, esse é um dos motivos que me leva a ser partidário.

Por que o senhor escolheu o PSOL?

Eu penso que só pode avançar nas questões sociais e num Estado forte a esquerda. Penso que a direita sempre foi e sempre quis vender o país, e estão tentando e estão conseguindo pelo que a gente consegue perceber.

O PSOL era a primeira opção do senhor?

Eu era filiado ao PT primeiro, mas em 2000, no primeiro mandato do Lula em troquei de partido. Saí do PT, me desfiliei e vim me filiar ao PSOL.

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O que motivou essa troca de legendas?

Foi o caminho que o PT estava indo. Quando eu me filiei ao PT, porque o ônibus estava indo para Curitiba, mas quando chegou ali no trevo eles disseram que não era, que íamos para Porto Alegre, então a ideia era de um Estado forte e não um estado neoliberal. Essa guinada do PT para um estado neoliberal me fez sair do partido. Embora reconheça todas as qualidades que o governo petista teve nesses 12 anos e mais uns quatro de Dilma, nos dois últimos anos eu entendo que a Dilma não conseguiu fazer absolutamente nada porque o perdedor da eleição, Aécio, quis brincar de eleição, era mais um presentinho para ele que ele gostaria de ter ganho e não ganhou. Quis brincar de eleição e criou esse clima que hoje a gente tem de fake news, de ódio. Foi tudo, para mim, manipulado em 2013 com ai intenção clara de tirar o PT do jogo só que se achava que se ficaria no PT, que esse ódio ficaria restrito ao PT, pegaria o Lula, e não teria grandes conseqüências. O problema é que as fake news extrapolaram isso e a gente percebe isso hoje. É a minha verdade. Isso para mim é tão verdade que as pessoas que fizeram tudo isso hoje militam em partido de direita. A gente vê, por exemplo, esses meninos do MBL tão ‘militões’, avessos à política, que não participam dessa coisa suja que é a política, filiados ao DEM, ao PP e ao PSDB, menos, mas a grande maioria deles. Ou seja, aquele discurso todo de bom moço e de gente limpa era tudo uma falácia.

Essa candidatura ao Senado surgiu como um convite do partido ou era uma vontade que o senhor já tinha?

Não. Eu estava bem feliz em casa, digamos assim. Eu não estava nem no Brasil. O pessoal achou que eu poderia ser candidato, que seria legal eu ser candidato. O partido achou que eu era um nome interessante para ajudar na construção partidária e eu acho também que poderia ser um nome para ajudar a construir o partido no Estado. Eu aceitei porque eu fui diretor de escola durante muitos anos e então na escola as pessoas diziam que ser diretor de escola era um terror, mas é mentira, é uma delícia. Terrível em uma escola é dar aula, é ser professor, é trabalho. Ser diretor de escola tu és um administrador. Ser diretor de empresa deve ser terrível, terrível é ir para a rua, buscar notícia, fazer. Igual a sala de aula. Terrível é o fazer ali, a gente que administra gosta de uma vitimização, então, eu gosto de ser candidato, acho bom. É prazeroso, estou aqui conversando com vocês, procurando mostrar um pouco do que eu defendo e do que o PSOL defende. Isso eu acho muito legal. E para os meus alunos é muito interessante, porque quando eu estava ministrando aula, tu fala de política para os alunos na sala de aula. Comenta com eles da importância de fazer parte, de que política é o que a gente faz quando está no escuro, que não tem ninguém vendo. Isso é fazer política e quando tu te expõe essa parte que estou fazendo no escuro ela vem, o ‘podrezinho’ na vida das pessoas. Então é muito legal teus alunos olharem e ver que ‘nossa, ele está ali agora, é um cara que eu respeitava’, então é muito interessante que teus alunos possam ver. Tem uma frase que a Dilma dizia quando ela foi eleita, que era assim ‘acho muito bom que as meninas possam ver que é possível uma mulher chegar a ser presidente da República’, claro que depois do que foi feito com ela vai ser muito difícil uma mulher voltar a ser candidata a presidente, mas é importante a visibilidade para nós. Sempre gosto de frisar isso, para nós, homens, homens negros, homens gays, que é o meu caso, para as mulheres e para os portadores de qualquer tipo de deficiência é importante a gente, que pode estar, estar. Para que outra pessoa possa ver que se ele pode, eu também posso. E pode. Então, acho que isso é uma coisa boa de estar candidato para que as outras pessoas pensem em se empoderar e também ir.

Outra frente de atuação do senhor foi no Conselho Municipal de Educação, em Florianópolis. Se eleito para o Senado, quais as propostas que você defende para essa área? É uma das bandeiras que o senhor defende?

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Para mim a educação é central num processo civilizatório. Penso que a primeira coisa, se eu for eleito, que tem que fazer e penso que qualquer um decente tem que faze. Por isso, acho que nenhum desses que estão aí vai fazer. Outra coisa é ajudar os governos e Estados, os municípios, e aqui em SC, como é o caso, ajudar o governo do Estado e do município, a fazer uma grande campanha estadual e municipal de que educação de verdade ela é emancipadora, porque as pessoas falam que elas são favoráveis à educação, mas é tudo da boca para fora. Numa greve de professores a primeira coisa que as pessoas dizem é ‘meu filho está sem aula’, não importa a qualidade da aula do filho dele. Quando a gente tem uma discussão, por exemplo, que esse candidato que não falamos o nome (Jair Bolsonaro), quando ele fala de discussão de gênero na escola, quem discute gênero na escola, pai que cai nisso de que na escola se discute gênero, kit gay e coisas assim, é gente que não frequenta uma escola, que nunca entrou numa escola. Não existe essa discussão. Eu encontrei com uma aluno meu e ainda disse que ele ainda é hétero e ele foi meu aluno durante, no mínimo, nove anos. Então, ele deveria ser gay uma vez que ele teve contato comigo e eu fui professor dele falando desde o primeiro dia, do primeiro ano, eu digo que sou gay para os alunos. Até porque cruzei com vários alunos adolescentes que puderam manifestar sua sexualidade, sim, mas depois. Então, quando se comenta essas coisas é um trabalho de educação. Fazer com que a educação de fato seja uma prioridade das pessoas acho que é função do senador, do governador e do prefeito, para que de fato seja emancipador. E se eu pudesse ter o poder, e um senador não tem, isso é uma discussão que veio da Câmara Federal, pois nosso sistema é bicameral, o senador trabalha na lógica dos deputados e vai construindo outras propostas, mas se eu pudesse mudar o modo de fazer educação no Brasil eu mudaria. Porque a gente vê que o modo de educação no país é um modo saturado, porque o modelo que o Brasil escolheu de capital é um modelo saturado. Nós deveríamos ter escolas e o conhecimento deveria ser um conhecimento desinteressado. Se a gente estudasse História, Geografia, Sociologia, Matemática, Português, todas as disciplinas, de forma integral, mas desinteressado. Que todo mundo tivesse a mesma possibilidade e estudasse a mesma coisa. Depois de fazer isso, se tu quiser fazer um curso técnico, terias essa opção. Mas como uma opção e não como uma obrigação. O que a gente vê hoje é que principalmente as crianças de classe menos favorecidas, elas já terminam o ensino fundamental, são direcionadas para o curso médio, como se fosse algo salvador da vida delas, porque na verdade o que se faz é para que a criança não vá para a universidade, evite a universidade, então faz um curso médio de quatro anos, em média, na escola técnica para fazer um curso de eletrotécnica de quatro anos quando se tem a possibilidade ir para uma universidade federal fazer um curso eletrônica, de engenharia, ela diminui. Esse modelo de escola é o modelo altamente seletivo porque ele trabalha com a ideia do mérito, e não existe mérito onde as pessoas tem qualidades e trabalhos diferentes. Você nasceu na Beira-Mar, o outro menino nasceu na comunidade e ele tem mérito. O caminho deles foi diferente.