Os comprimidos cor de rosa com estampa de coração que tem feito sucesso na noite catarinense por seu alto grau de pureza vão desaparecer das baladas. A Polícia Federal, com apoio da Polícia Militar, prendeu em flagrante nesta sexta-feira, a maior quadrilha especializada na fabricação de ecstasy de Santa Catarina.

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O bando vai responder por tráfico internacional de drogas e associação para o tráfico. Os dois laboratórios com capacidade para fabricar três mil “balas do amor” por dia foram apreendidos, além de máquinas, 14 mil ecstasys, e matéria-prima suficiente para a fabricação de 100 mil comprimidos.

Dois peritos federais chegaram perto das 18h numa casa no final da Servidão Recanto das Dunas, no Campeche, Sul da Ilha. No fundo do quintal, um pequeno quarto imundo abrigava um dos dois laboratórios da quadrilha.

Entre fotos de mulheres nuas, uma geladeira desativada e um colchão encardido, os peritos examinavam bacias com pó rosa, peneiras e a máquina antiga adaptada para prensar a massa cor de rosa e transformá-la nos comprimidos de coração.

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Um dos dois chefes da quadrilha, Rafael Mendes Bardini Alves, e seu irmão Gustavo Mendes Bardini Alves estavam no laboratório do Campeche quando chegaram as equipes da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) da PF de SC e do Grupo de Apoio Operacional (GAO) do 4º Batalhão de PM.

Silenciosamente, os policiais pularam o muro de dois metros com arame farpado. Outros entraram pelo portão de plástico branco. Os irmãos Alves estavam prensando o pó rosa quando receberam voz de prisão. Ficaram paralisados.

Cerca de uma hora depois, parte dos policiais foi até o segundo laboratório, onde a quadrilha misturava a massa que viraria ecstasy no Campeche. O espaço foi montado numa casa com piscina na Palhoça, Grande Florianópolis.

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O outro chefe da quadrilha, Bernardo Lopes Cobra, foi preso em flagrante com a namorada, Fabíola Alves Larrondo. Os dois ainda tentaram dispensar o material, sem sucesso. O chão do chuveiro e o vaso sanitário ficaram coloridos de rosa.

A PF tem forte suspeita da participação de Cobra na quadrilha que fabricava ecstasy num laboratório do Canto dos Araçás, na Lagoa da Conceição, e que foi presa pela Polícia Militar em agosto.

– Esta é a maior quadrilha presa especializada na fabricação de ecstasy em Santa Catarina. Devido à repressão nas fronteiras e aeroportos, quadrilhas de Florianópolis que distribuíam este tipo de droga sintética começaram a produzí-la. A PF atenta à essa inovação, começou a investigação – observou o titular da DRE/PF e coordenador da investigação, delegado Gustavo Trevisan.

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Princípio ativo em livros do Drácula

Princípio ativo estava escondido em livros infantis

Foto: Daniel Conzi/Agência RBS

O princípio ativo do ecstasy usado pela quadrilha de Cobra e Alves era trazido de Amsterdã. A matéria-prima era armazenada em páginas de livros infantis do Drácula. As páginas abrem em forma de esculturas de papel de castelos, florestas, entre outros cenários criados pelo autor Bram Stoker.

A PF apreendeu na casa onfe fica o laboratório do Campeche mais de 30 livros do Drácula com 4,5kg do princípio ativo suficiente para a produção de 150 mil comprimidos de ecstasy.

A “bala do coração” começou a circular nas principais boates do Estado há cerca de dois meses. Na noite, o compromido custa R$ 50. A quadrilha vendia ao atravessador, no atacado, por R$ 20 cada.

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Na casa praticamente sem móveis do Campeche também encontraram uma bengala de madeira com a ponta em formato de cabeça de cobra. No chão, caixas de plástico com cerca de 4 mil comprimidos de ecstasy, e duas caixas de madeira com duas máquinas novas utilizadas em mecânica industrial e adptadas para a produção da droga. De acordo com a PF, é a prova de que a quadrilha se preparava para aumentar a produção para o verão.

Na bancada da cozinha, cerca de R$ 150 em dinheiro, um relógio, maconha para consumo, pacote de seda, uma corrente de ouro e um colar de contas coloridas. No quarto, apenas um colchão velho e sujo.

Todo o material usado na produção e na venda do ecstasy no laboratório do Campeche foi apreendido pela PF, assim como os quatro fornos, a celulose, o corante, e os 10 mil comprimidos encontrados no laboratório de Palhoça. Os quatro presos por tráfico de drogas internacional e associação para o tráfico ficarão presos na Central de Triagem do Estreito até serem transferidos para outra unidade prisional.

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Uma das caixas contendo uma das prensas, no Campeche, trazia estampado em tinta preta o código CON80E. Pode ser uma pista para ajudar a descobrir a origem das máquinas adaptadas para a produção ilegal. A PF continua a investigação.