Latidos, seguidos do estampido de uma arma de fogo. Esses foram os últimos barulhos que a família de Débora Martins, a Binha, ouviu antes de enterrar o cão Tupi, um vira lata de sete anos, morto com um tiro na cabeça por um policial ambiental durante fiscalização de rotina em uma propriedade da Barra do Sambaqui, em Florianópolis.

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A versão acima foi denunciada pelo estudante Guilherme Martins da Cunha, 22 anos, sobrinho da dona do animal. A Polícia Ambiental, que contesta trechos da versão do jovem e diz ser a primeira vez que algo semelhante ocorre na corporação da Capital, promete abrir uma sindicância para apurar a morte do cão, ocorrida nesta sexta-feira.

Em seu relato nas redes sociais, Guilherme conta que os policiais ambientais chegaram à casa da família, na Servidão Nair da Luz, para averiguar denúncia de suposta invasão de propriedade contra os donos do animal. Quem chamou a polícia foi uma vizinha.

— Uma vizinha que constantemente faz denúncias de desmatamento ou de invasão de propriedade, sem embasamento — diz o estudante.

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Segundo ele, três policiais chegaram em uma viatura, enquanto dois entraram pela frente da casa, um terceiro entrou pelos fundos. Guilherme afirma que os policiais já conheciam sua tia, tamanha a frequência com que seriam chamados ao local.

— Como sempre, ao ouvir a chegada de uma pessoa estranha, Tupi saiu da área em direção a porta e latiu. Na mesma hora, minha tia pediu para ele parar, mas não houve tempo para impedir a reação do policial. Num gesto que mostrou o despreparo da polícia, o jovem guarda sacou a arma assustado e desferiu um tiro, que tirou a vida do Tupi — relata.

Instantaneamente, conta o jovem, o policial ficou abatido e demonstrou arrependimento. Ele diz que o autor do tiro em Tupi, assustado e arrependido, começou a ajudar a cavar o buraco com uma de suas tias.

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Capitão da Polícia Ambiental acredita que se houve abuso, não foi intencional

A Polícia Ambiental, através do capitão Felipe Dutra, afirma que na próxima semana será instaurada uma sindicância para apurar a conduta do soldado e descobrir como se deram os instantes anteriores ao disparo fatal. Felipe destaca que não há testemunhas oculares do momento do tiro, o que pode dificultar a investigação.

— Somente o policial viu o que aconteceu, mas na sindicância vamos tomar o depoimento dele, bem como da proprietária do animal. Não vamos punir ninguém sem o devido processo legal.

Para o capitão, o que aconteceu foi uma fatalidade. Por ser o superior direto do soldado acusado de matar o animal, revelou que pedirá para ¿não ser o sindicante¿.

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— Se houve abuso, acredito que não foi intencional. Felipe se disse chateado com o ocorrido, e lembrou que o trabalho da corporação é exatamente o contrário do ocorrido.

— Trabalhamos para salvar os animais e o meio ambiente – pontuou.

Ele ainda questiona trechos do post de Guilherme. Afirma que os policiais tinham ido pela segunda vez à casa de Binha, e que na anterior o cachorro estava preso. Conta que o soldado entrou pelos fundos “para agilizar o serviço” e “ir fazendo fotos da propriedade”.

Confirma também que o cachorro, que teria 40 quilos, não mordeu o soldado, mas que avançou em sua direção.

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— Ele tentou gritar e fazer gestos, porém o cachorro não parou. O soldado entendeu que estava ameaçado, sacou a arma e efetuou o disparo, mas foi um fato isolado em uma situação que o soldado sentiu-se em perigo – comenta.